27.6.08

Valor Econômico - Livros

Países emergentes têm o que ensinar, diz especialista
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
26/06/2008


Divulgação
Senge, que nesta semana participou de congresso no Rio: empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu dos tempos da Revolução Industrial



A sobrevivência no mundo corporativo no século XXI exige modelos administrativos diferentes daquele consagrado pelos americanos, que privilegia a centralização das decisões e sistemas hierárquicos sem estimular a abordagem integral dos negócios, ignorando a vida fora do ambiente profissional. Há mais de 30 anos analisando o comportamento das principais empresas do mundo, Peter Senge, um dos mais respeitados especialistas em administração, acredita que os novos modelos de gestão virão de países emergentes, como Brasil ou Índia.


"A padronização é uma característica ultrapassada, que remonta à Revolução Industrial. Muitas empresas já encontraram maneiras de equilibrar a produção com projetos socioambientais que lhes conferem um patrimônio muito mais significativo do que o lucro financeiro. É bom que surjam diversos modelos ao mesmo tempo", afirmou Senge ao Valor, no Rio, onde participou do 34º Congresso RH-Rio, realizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos.


Em "A Quinta Disciplina" (Best-Seller, 1990), Senge já advertia as empresas para a necessidade de se adaptar aos novos tempos, criando bom ambiente de trabalho e incentivando a confiança e a ampliação dos conhecimentos entre os funcionários. O livro, que esmiuçava o conceito de "learning organization" (empresa que aprende), vendeu mais de um milhão de cópias no mundo e enfatiza a importância do pensamento sistêmico, em que qualquer assunto deve ser visto sob vários ângulos. O conceito não é de Senge - nasceu de debates no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Foi no instituto que ele, já formado em engenharia e filosofia, se especializou em sistemas sociais e gestão e fundou o Centro de Aprendizagem Organizacional da Escola de Administração Sloan. Ao longo de 18 anos, Senge comprovou que as empresas sem preocupação com o que as cercam tendem a encerrar as atividades antes que as comprometidas com o desenvolvimento sustentável.

"Muitos já estão familiarizados com o conceito, mas poucos o aplicam. A empresa voltada só para a lucratividade imediata não saiu da era industrial. É importante definir em qual organização se vai trabalhar, se uma que leve ao crescimento pessoal ou outra em que apenas se ganhe dinheiro", afirma. Ele condena os workaholics: "Em razão da cultura de algumas empresas, muita gente pensa que deve trabalhar incessantemente. Isso tolhe a a criatividade dessas pessoas, que não conseguem lidar com imprevistos ou abrir-se para novos conhecimentos."


Senge acredita que essas limitações também estão ligadas à crise na educação, agravada pelo fato de que a maioria dos países mantém um sistema educacional arcaico. Para ele, as deficiências de concentração e abstração hoje observadas entre crianças, adolescentes e jovens se deve não só ao "bombardeio" tecnológico, mas à falta de convivência entre as gerações.


"Os escritores de ficção científica estavam certos: as máquinas vão nos dominar. O ritmo de nossa vida é ditado pela tecnologia. As crianças agora vivem sem a supervisão dos adultos, passando mais tempo diante de telas do que interagindo com pais e parentes. Elas recebem uma extraordinária carga de informações que não conseguem processar. Os adultos também. Um estudo na Grã-Bretanha constatou que, ao fim de um dia usando blackberries, um adulto sofre queda superior a 20% no QI. O organismo humano não foi programado para isso", alerta Senge.


Depois de várias visitas ao Brasil, ele aponta a vitalidade como uma das peculiaridades da população. "Essa energia que os brasileiros demonstram é que leva à liderança em um setor importante, o musical. A diversidade da música brasileira conquistou respeito internacional. Esse é um exemplo de que há riquezas culturais que podem contribuir para a criação de um modelo diferente e único em negócios. Cada país deve seguir o seu modelo, com um sistema educacional que ensine o jovem a pensar de acordo com sua cultura."

Valor Econômico - Livros

Disciplina financeira é um bom assunto para crianças
Olga de Mello, para o Valor, do Rio
15/05/2008


"Dinheiro Não Dá em Árvore" - Neale S. Godfrey.


Ed. Jardim dos Livros, 192 págs. R$ 24,90


"Educação Financeira" - Cássia D'Aquino.


Ed. Campus/ Elsevier, 180 págs. R$ 41,50


Divulgação
Cássia D'Aquino: a impulsividade dos adolescentes pode ser administrada



Fenômeno que se registra nos países desenvolvidos há muito tempo, o crescente endividamento de jovens adultos pode ser fruto da pouca relevância que os assuntos financeiros merecem no âmbito doméstico. Pregando a resistência aos apelos publicitários que estimulam o consumo facilitado pelo emprego de cartões de crédito, há livros que enfatizam a importância da educação financeira a partir da primeira infância. Mais que estimular o gosto pela administração de finanças pessoais, que pode ser saudável, especialistas acreditam que a disciplina em relação ao dinheiro consiga frear o surgimento de futuras gerações de devedores inconseqüentes.

Segundo a americana Neale S. Godfrey, que trabalha com educação financeira para jovens desde 1989, a explosão de inadimplência está diretamente ligada à popularidade dos cartões de crédito. "Hoje, nos Estados Unidos, há mais gente pedindo falência do que concluindo cursos universitários. É comum que os formandos iniciem sua vida profissional com uma média de U$ 20 mil em dívidas, incluindo aí despesas de cartão de crédito", alerta Neale, autora, com Carolina Edwards e Tad Richards, de "Money Doesn't Grow on Trees", agora publicado no Brasil ("Dinheiro Não Dá em Árvore").

No livro, que esteve na lista dos mais vendidos do "New York Times", Neale enfatiza a necessidade de familiarizar as crianças com a utilização de dinheiro, além de recomendar aos pais que estimulem os filhos a desenvolver senso crítico, para não ceder à sedução da publicidade. "A televisão americana tem anúncios dirigidos a crianças desde os três anos de idade. Os adolescentes recebem mensagens publicitárias através de todo tipo de veículo. Sem uma educação para a responsabilidade financeira, as crianças crescem confundindo valor pessoal com valor medido pelo acúmulo patrimonial", disse Neale, em entrevista por e-mail ao Valor.

Em 2007, 180 mil americanos de 18 a 24 anos declararam falência pessoal, informa Neale. No Brasil, onde é seguido modelo semelhante de consumo, o quadro é alarmante. "Em 2006, as pessoas entre 21 e 30 anos correspondiam a 16% dos inadimplentes. Ainda não temos os dados fechados de 2007, mas apenas até julho do ano passado essa faixa etária já representava 42% dos inadimplentes brasileiros", conta Cássia D´Aquino, autora de "Educação Financeira - Como Educar seu Filho", que também orienta pais sobre valores de mesadas e chama a atenção para o excesso de horas que as crianças passam em frente à televisão.


"Aristóteles já falava na insubordinação e impulsividade dos adolescentes. Se o cartão de crédito reforça essas características, os pais precisam disciplinar o filho, evitando o consumismo irrefletido. Nos Estados Unidos, já há casos de suicídio entre meninos endividados. Lá, o assédio das operadoras de cartões de crédito se inicia no primeiro dia do ano letivo, em todas as universidades. Valeria até uma discussão ética sobre o paradoxo que é conceder um instrumento de dívida a alguém que sequer tem renda. Afinal, todos os bancos têm produtos para jovens", afirma Cássia.


À parte as diferenças no comportamento das classes médias americana e brasileira, os dois livros trazem exemplos de como é possível ensinar aos filhos o comedimento na compra dos produtos que eles mais prezam. Tanto aqui quanto lá, os objetos de desejo são os mesmos - roupas, calçados e produtos eletrônicos de última linha. Enquanto Neale diz que adolescentes devem procurar suprir sua própria receita com empregos de meio-expediente, o livro de Cássia sugere que os jovens assumam algumas funções geralmente delegadas a empregadas domésticas, sendo recompensados financeiramente pelas tarefas executadas. As duas escritoras também recomendam que jovens adultos fiquem responsáveis pelo pagamento de uma parte das despesas dos pais.


"Ao mesmo tempo em que se despreza a educação financeira, as famílias acumulam um número excessivo de aparelhos eletrônicos, como televisões e computadores", observa Cássia, e sempre com endividamento, "decorrência da ostentação de um padrão que não corresponde à realidade". Isso até pode ser explicado pela cultura americana, "que valoriza resultados e não os processos". Mas é uma relação toda própria com o dinheiro. "Há pais que incutem nos filhos o sonho de se tornarem milionários", diz Cássia, que condena com veemência o uso de cartões de crédito por adolescentes. "Eles têm total capacidade de se organizar com dinheiro, muitos fazem poupança para festas de formatura. Entregar um cartão a um adolescente não é educar."


Neale não vê problema no uso de cartões a partir dos 18 anos, desde que os limites sejam baixos e os pagamentos sejam feitos religiosamente na data do vencimento. "Você deve se certificar de que seu filho compreende que o cartão de crédito é uma conveniência, não um instrumento para quem não tem dinheiro", aconselha Neale.


Embora ainda haja poucos títulos brasileiros sobre educação financeira para crianças, esse segmento tende a aumentar, diz a editora de educação e referência da Campus-Elsevier, Caroline Rothmuller. "Além do livro da Cássia D´Aquino, para os pais, temos ainda o 'Pai Rico, Pai Pobre', de Sharon Lechter e Robert Kiyosaki, em quadrinhos, para crianças. Vamos buscar mais títulos especialmente voltados para o público adolescente."

Valor Econômico - Livros

Novos tempos impõem rigor à gestão de riscos
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
08/05/2008


"Mercado de Opções: Conceitos e Estratégias" - Luiz Maurício da Silva.


Silvia Costanti / Valor
Luiz Mauricio da Silva: criado na Cidade de Deus, no Rio, deu a volta por cima, fez MBA na Espanha e lançou livro
Editora Halip, 986 páginas. R$ 180






O administrador carioca Luiz Maurício da Silva é seu próprio caso de sucesso. Criado na Cidade de Deus, custeou os estudos com trabalho desde jovem. Atuou no mercado financeiro, tornou-se especialista em derivativos, fez MBA na Espanha e, na volta, escreveu "Mercado de Opções: Conceitos e Estratégias", que ganha agora sua terceira edição e tem a perspectiva de ser distribuído em países árabes, europeus, além dos Estados Unidos. O momento parece bastante propício, agora que o Brasil foi classificado com "grau de investimento" na escala de risco de crédito da Standard & Poor's. O livro chegará a investidores em 23 países árabes, tendo também edições em francês, espanhol e inglês.


Com tiragem de seis mil exemplares em português, a nova edição terá quase mil páginas. A versão original, lançada em 1996, tinha 230 páginas e trazia 27 estratégias voltadas para proteção, alavancagem e arbitragem. Doze anos depois, Silva avalia que existe campo maior para atuação dos profissionais do mercado financeiro e investidores em geral: hoje, como se vê no livro, são 119 as maneiras de utilizar as ferramentas disponíveis no mercado.

A edição ampliada de "Mercado de Opções" tem nova apresentação, em capa dura, e contempla o que surgiu no mercado nos últimos anos. Segundo Silva, o livro se destina a quem pretende atuar no mercado, compreendendo que existem instrumentos de proteção para diminuir os riscos dos investimentos.

O autor lembra que o investidor de hoje não pode contar com a intuição e o conhecimento empírico para operar, desprezando conceituação e fundamentação teórica que permitem a análise técnica de situações. "Não há espaço para amadores no mundo globalizado, onde a negociação é realizada online", afirma Silva.

Para ele, na década de 1990 havia uma prática comum no mercado de opções - a de se operar com base nas experiências anteriores, nas informações dos negócios em andamento no pregão e no "feeling". Nos fundos de pensão, corretoras, bancos e em grande parte do mercado de capitais o uso dessas ferramentas de análise era do domínio de pouquíssimos profissionais: a grande maioria não sabia como implementar as fórmulas, nem havia um veículo veloz para disseminar informações.


"Hoje, os que operam, os que fiscalizam e os que se interessam pelo mercado de ações têm que dominar fórmulas e montar planilhas para todas as situações que se apresentam em qualquer parte do mundo", afirma Silva. Com a internacionalização da economia, "as estratégias são semelhantes nas bolsas do mundo inteiro, servindo tanto para mercado acionário, quanto para o de commodities e o de derivativos". A idéia do autor foi montar um guia com conceitos e exemplos de dinâmica operacional que dão base para o entendimento dos mecanismos do mercado e para a estruturação de estratégias de hedging.
A segurança de Silva para transitar pelo universo sempre mais complexo dos investimentos foi construída sobre a necessidade de superar problemas financeiros que conheceu desde a infância, quando teve de sair das margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde vivia, em uma das precárias habitações da extinta favela da Praia do Pinto, na zona Sul carioca. Os moradores da favela, removida na década de 1960 pelo então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, foram transferidos para os conjuntos habitacionais da Cidade de Deus, uma localidade no distante bairro de Jacarepaguá.
"Era barro para todo lado, não tinha asfalto, nem luz. Uma roça a mais de 30 quilômetros de onde vivíamos antes", lembra Silva. Decidido a investir em sua própria educação, incentivado pelos pais, ele começou a trabalhar aos 14 anos, para ajudar a pagar a escola. "O ensino público já estava decadente. Então, procurei um colégio bom, particular, que pagava vendendo as tapeçarias de minha mãe. Meus pais eram muito sérios, trabalhavam duro e me ensinaram a lutar pelo que eu queria", diz. Ele afirma que está sempre pronto a atravessar a cidade - ou o país - para contar sua história a jovens de comunidades carentes. "É importante que os meninos saibam que o reconhecimento da sociedade é possível se a pessoa não desanimar frente às adversidades."

Depois de fazer curso profissionalizante de desenhista, Silva pensou em seguir artes plásticas ou arquitetura, mas acabou se decidindo por administração de empresas em uma faculdade privada. Antes dos 20 anos, já havia sido tapeceiro, contínuo e desenhista em uma cadeia de lojas de departamentos. Foi admitido no banco Bradesco como escriturário e acabou chegando à área de processamento de dados. Ali se especializou em organização e métodos. Em 1983, fez parte da equipe que criou a primeira Bolsa de Futuros brasileira, a BBF. "Fui encarregado da normatização de manuais. Nada sabia de derivativos, mas tomei gosto. Tanto que me empenhei em conseguir uma bolsa do CNPq para cursar um MBA em administração na Universidade Autônoma de Madri", diz Silva, que hoje é consultor de empresas, além de professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Apesar de ter recebido convites para aumentar a tiragem e a distribuição do livro atualizado, Silva prefere publicar esse título ampliado por sua própria editora, a Halip. "No momento, quero ter domínio sobre a edição. Gosto de bater de porta em porta, levar para as livrarias e cursos de MBA", afirma.

Valor Econômico - Livros

Lucília está de volta. Com livro para adultos
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
02/05/2008


Divulgação
Lucília: integração dos japoneses ao Brasil e crise pós-1929 se entrecruzam no enredo
Uma das mais celebradas autoras de literatura infanto-juvenil nas décadas de 1970 e 80, Lucília Junqueira de Almeida Prado decidiu dar novo rumo à sua carreira. Aos 84 anos, está lançando seu primeiro livro destinado ao público adulto, "Sob as Asas da Aurora" (Conquista/Scortecci), a biografia de uma imigrante japonesa, mãe de sua melhor amiga de infância. "Eu queria homenagear os cem anos de chegada dos japoneses e também registrar as histórias que ouvi e as que vivi", conta a paulistana Lucília.


Em 1971, com seu segundo livro, "Uma Rua como Aquela", Lucília recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil. "Cheguei a vender mais do que a Zélia Gattai, que era o grande sucesso em uma determinada época. No entanto, meus livros não entravam na lista de mais vendidos porque não se dava importância à literatura infantil como agora. Não existia uma lista específica de infanto-juvenis", diz Lucília, que cresceu lendo Monteiro Lobato e Viriato Correia. Dos autores infanto-juvenis contemporâneos, elogia João Carlos Marinho ("O Gênio do Crime") e J. K. Rowling, por ter conquistado uma geração de leitores com Harry Potter. Da série e do personagem, entretanto, não gosta. "Detesto esta temática de magia, de feitiçaria. Só li o primeiro livro."


Mãe de cinco filhos, ela própria conheceu a dificuldade de inocular o "vírus" da leitura em crianças. "Só os três mais velhos são leitores compulsivos." Percorreu boa parte do país em viagens promovidas pelas editoras para apresentar seus livros em escolas. "Mas não é isso que faz o leitor nem uma estante repleta de livros que jamais são abertos pelos pais. A criança precisa desmistificar o livro, abrir, pegar, manusear. E ver os pais lendo, ouvir histórias. Depois, tem de saber que os professores também lêem. Só então deve travar contato com os escritores", acredita.


Alcançar leitores de faixas etárias mais elevadas não foi difícil, conta Lucília, que havia 15 anos não lançava um livro. Sua estréia na literatura deu-se quando já havia passado dos 40 anos e os filhos já estavam educados. Em 1985, com 65 livros publicados, precisou interromper a vida literária para cuidar do marido, que adoecera.


Ao longo desse período, acumulou mais de 50 contos inéditos. Todos para adultos. "O livro infanto-juvenil precisa de suspense, aventura, pouquíssimas descrições, muito diálogo, muita ação e mistério. Se tiver ilha, então, é a alegria das crianças. Leitor adora ilha. Não se vê hoje o sucesso do seriado "Lost"? Já a ficção para adulto permite exercícios por outros estilos e não se prende a temas restritos", afirma Lucília, que escreve a lápis, em cadernos, reservando a página da esquerda para alterações. "É uma trabalheira, mas só sei fazer assim. Mando tudo para datilografar, nunca consegui me adaptar a computador nem a máquina de escrever. É bom porque faço muitas revisões antes do texto final."


Ainda neste ano deverá ser publicado o primeiro de três volumes de contos. Em "Sob as Asas da Aurora", Lucília trata não apenas da história de Missayo Arassuna. Também traça um panorama do Brasil da primeira metade do século XX. Missayo deixou os pais no Japão e veio tentar a vida no Brasil, trabalhando como agricultora e depois como empregada de uma cantora de cabaré no interior de São Paulo. Casou-se com um agricultor que arrendou terras da família de Lucília, em Ribeirão Preto.


"Com a crise de 1929, minha família transferiu-se da capital para Ribeirão, onde fiquei amiga da filha de Missayo, Yolanda. Sempre fui fascinada pelos relatos de sua mãe, uma mulher sensível, que sabia trabalhar em qualquer atividade. Pensei, então, em cruzar histórias: falar sobre a dificuldade de integração dos japoneses no Brasil e sobre a crise econômica que enfrentávamos", relata.


Missayo morreu há dez anos, sabendo do projeto do livro. "Foi uma pena que ela não tivesse visto." Já Yolanda continua amiga da escritora. Em Ribeirão Preto há mais de 50 anos, Lucília lamenta não ter mais tanta disposição para ler. "Eu costumava devorar um livro por semana. Era apaixonada por Graham Greene, Somerset Maugham, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa. Hoje, além dos filhos, que sempre me visitam, tenho 11 netos. É muita gente para dar atenção."