7.12.07

Valor Econômico - Livros

O boca-a-boca é ótima estratégia para vender
Do Rio
06/12/2007




Saffer: "Deixamos a convicção de que os livros têm sua hora mágica",

Não é apenas de lançamentos de grande impacto que vive a estratégia de marketing de uma editora. Alguns executivos têm defendido que é necessário buscar também atingir o público que freqüenta as livrarias. Afinal, são esses leitores os responsáveis pelo boca-a-boca que movimenta o mercado de livros de negócios. Equacionando os elementos desta fórmula, a Campus/Elsevier fecha 2007 comemorando um crescimento em vendas que se mantém na casa dos dois dígitos há dois anos.


Com cerca de 3 mil títulos ativos em catálogo - 2,2 mil de medicina, enquanto os demais compreendem temas científicos e tecnológicos -, a editora tem freqüentado a lista de mais vendidos não apenas na área acadêmica e de negócios. Em 1992, foi uma das introdutoras do conceito de "light business" no mercado brasileiro quando lançou "Zaap! O Poder da Energização" (R$ 49), que já vendeu 200 mil exemplares.




Ainda distante da série "Pai Rico, Pai Pobre", de Robert T. Kyiosaki, cujos 16 volumes ultrapassam 1 milhão de cópias vendidas desde 2000, o mais novo candidato a "long seller" da editora é "A Estratégia do Oceano Azul" (R$ 57), de W. Chan Kim e Renne Mauborgne. Com cem mil exemplares vendidos em dois anos, o livro ultrapassou o best-seller "Freakonomics", de Steven Levitt e Stephen J. Dubner, também lançado em 2005.


"Deixamos de lado aquela convicção do mercado editorial de que os livros têm sua hora mágica para conquistar o público. Esse momento se dá, no segmento de negócios, geralmente dois meses após o lançamento", diz o diretor de Marketing da Campus-Elsevier, Mark Saffer. "Para obtermos o resultado de 'Oceano Azul', investimos no que os próprios autores recomendam, depois de pesquisarem por 15 anos os movimentos estratégicos de 150 empresas: melhor que competir por preços é buscar seu diferencial, de forma a tornar irrelevante a concorrência."


De acordo com a editora, a média de vendas mensais em 2005 era de 672 volumes. No ano seguinte, quando intensificou a divulgação no meio universitário, atingindo tanto alunos quanto professores, passaram a vender 2.500 cópias ao mês. Em 2007, registrou 5.800 exemplares vendidos mensalmente, um aumento de 300% na procura, totalizando cem mil.


Sem desprezar as compras on-line, a editora continua privilegiando os esforços para boa apresentação de seus produtos nas livrarias. Ressaltando a importância da internet para o acesso dos consumidores que vivem distante de grandes centros urbanos, Saffer acredita que a conquista do leitor se dá a partir do manuseio do livro. "Existe uma paixão física pelo livro e precisamos facilitar a aproximação do leitor", diz.


Ao lado da estabilidade econômica, que permitiu o aumento das vendas de livros, é necessário destacar-se no mercado não apenas pela consistência do produto oferecido: "Enquanto os livreiros recebem 300 títulos novos a cada mês, nós temos esse mesmo número de lançamentos por ano. Não podemos nos limitar a cativar o público no ambiente da livraria. É preciso identificar este público e seguir em sua direção. Afinal, o livro é sempre uma aposta".


Ao longo de 2007, a Campus consolidou-se na área de motivação social, ao lançar 10 dos 14 títulos da coleção "Cartas a um Jovem", em que personalidades falam sobre suas experiências profissionais. Inspirada no clássico "Cartas a um Jovem Poeta", de Rilke, a série tem autores como o escritor Mario Vargas Llosa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o técnico Bernardinho, já vendeu 120 mil exemplares. "As ´Cartas´ vão de encontro tanto ao adolescente que precisa decidir sua carreira quanto ao recém-formado, que inicia sua trajetória. Sentimos que a série seria uma resposta à ansiedade de um grande número de pessoas em definir o futuro, o que no Brasil acontece quando o estudante é muito jovem, diferentemente de outros países, em que isso só se dá depois de três anos de faculdade. Os livros não trazem orientação, mas tratam do dia-a-dia de pessoas que trabalharam intensamente para alcançar o sucesso", diz Saffer. (O.M.)

Valor Econômico - Livros

O investidor olha, mas não enxerga
Por Olga de Mello, do Rio
06/12/2007




"A Economia em Machado de Assis" - De Gustavo Franco.




Gustavo Franco: Machado de Assis, que não entendia de economia, fez o mau negócio de comprar títulos do Tesouro Nacional, que o governo jamais resgatou
Jorge Zahhar, 272 págs. R$ 44


A economia já rendeu literatura que encanta os interessados no tema, mas os literatos, de maneira geral, pouco apreço demonstraram pelo assunto, exceto como observadores do cotidiano. Um deles foi Machado de Assis, que, se demonstra pouca intimidade com os fenômenos econômicos, pôde comentá-los com a mordacidade habitual em prosa - e até em versos - , misturando personagens reais aos literários nas crônicas publicadas pelo jornal "Gazeta de Notícias" entre o fim da década de 1850 e o começo do século XX.


O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, selecionou 39 desses textos para "A Economia em Machado de Assis - O Olhar Oblíquo do Acionista" (Jorge Zahar, R$ 44), que apresentam várias passagens das transformações verificadasna economia brasileira entre 1883 e 1900, período que compreendeu o fim da escravidão, a queda do Império e o início da República.


Na seqüência das crônicas, duas delas em forma de poesia, Franco percebeu um enredo - em capítulos - sobre um mesmo personagem, o acionista, alguém que vive de renda e não nutre qualquer entusiasmo por assembléias, interessado que está apenas em saber quanto obterá em dividendos. Além de apresentar a visão do escritor sobre uma época turbulenta da economia e da política no Brasil, Franco reuniu algumas das histórias com esse personagem.


"O acionista de Machado de Assis não é o investidor dos dias de hoje, que pratica a governança corporativa. Ele comparece forçado às assembléias e é, basicamente, um súdito do imperador, que entende que o governo é quem manda na política econômica, que o Estado paga o dividendo. Portanto, qual é o sentido em participar daquelas reuniões para falar sobre assuntos que, no fim, serão definidos pelo governo? Esse personagem aparece, com toda a ironia de Machado, para desnudar a influência do Estado sobre todos os negócios existentes no país. O acionista se assemelha a outra figura de diversas crônicas de Machado, um relojoeiro aposentado inconformado com o ritmo acelerado do tempo desde o fim da Guerra do Paraguai. Sob o relojoeiro estava o escritor, que também emerge na persona do acionista aturdido com a capitalização do Brasil", diz Franco.


Entre os assuntos abordados por Machado estão alguns que nunca deixaram de freqüentar o cotidiano dos brasileiros, temas que são da economia de todos os tempos, como a variação dos preços que fazem o custo de vida e o sobe-desce da taxa de câmbio. As imagens literárias e a ironia característica do escritor pontuam diversos textos. Na crônica de 16 de maio de 1885, por exemplo, Machado trava um diálogo com os "impostos inconstitucionais de Pernambuco", cobrados pela província apesar de proibidos pela Constituição: "Conheceram-me logo, eu é que, ou por falta de vista, ou porque realmente eles estejam mais gordos, não os conheci imediatamente".


Três anos depois, a mudança social provocada pela entrada de ex-escravos no mercado de trabalho rende a história do homem que, durante uma festa, dias antes da Abolição, alforria um escravo apenas para que seja registrada sua preocupação humanista, já que pretende seguir carreira política.


Ao discutir a necessidade de uma reforma monetária, em março de 1889, Machado sugere que o Brasil tenha uma moeda própria, com um nome ligado ao imaginário nacional: o cruzeiro. "Imagino até o desenho da moeda; de um lado a efígie imperial, do outro a constelação...". As falências bancárias são encaradas filosoficamente: "Não há bancos eternos. Todo banco nasce virtualmente quebrado; é seu destino, mais ano, menos ano", comenta o escritor, referindo-se ao fim das atividades do Banco Rural, em novembro de 1900.


"Ele não era apenas o maior romancista brasileiro e um dos grandes gênios da literatura mundial, mas um mestre da crônica, que envolve o leitor, sempre ressalvando seu desconhecimento sobre finanças, mas contextualizando com os assuntos daquela semana. Durante quatro décadas, ele publicou crônicas semanais, assinadas ou sob pseudônimo. A vida financeira tinha, obrigatoriamente, que se tornar assunto. A intenção de suas reflexões era agradar ao público com reflexões sobre aquele capitalismo novo que surgia, a necessidade de modernização do país e o provável retorno ao conservadorismo que ele antevia. É um enredo literário, desenhado com seu estilo espetacular, sempre usando um parágrafo inicial que contextualiza a situação, ligando a temas paralelos que falam do momento do país, geralmente com muita elegância e sarcasmo", diz Franco - que há cerca de um ano lançou uma coletânea de textos de economia assinados por Fernando Pessoa em 1926. O poeta português, ao contrário do romancista brasileiro, demonstrava ter certo conhecimento de economia.


"Machado se apresentava como leigo no assunto. Seu testamento mostra que havia adquirido títulos do Tesouro Nacional. Um mau negócio, pois o governo jamais resgatou tais títulos", afirma Franco.

6.12.07


Para ler, ir ao link da revista:
http://www.aplauso.art.br/home/revistaaplauso/revista_atual.php

4.12.07

Continente Multicultural - Entrevista com Elba Ramalho

CONVERSA
Elba Ramalho - Paraíba e Pernambuco numa só pessoa



A cantora se cercou de pernambucanos em seu novo CD. Além dos amigos Lenine, Alceu Valença e Lula Queiroga, tem a Trombonada, Spock, e, representando a nova geração, Jam da Silva e Maciel Salu.



Por Olga de Mello

A ligação de Elba Ramalho com Pernambuco é tão intensa, que a cantora já se ofendeu quando, há anos, no Carnaval do Recife, foi apresentada como uma das “artistas de fora” a prestigiar a festa. “Fechei a cara. Imagina, meu pai é pernambucano, conheci frevo como música carnavalesca antes de samba”, lembra a paraibana Elba, que se cercou de pernambucanos em seu novo álbum Qual é o assunto que mais lhe interessa?. Além dos amigos Lenine, Alceu Valença e do produtor Lula Queiro-ga, o disco tem a Trombonada do Recife, o Maestro Spock, e, representando a nova geração de compositores, os jovens Jam da Silva e Maciel Salu.

Aos 28 anos de carreira, Elba não gravava discos há quase cinco anos. Neste, ela experi-menta novas linguagens musicais e convidou artistas como Roberto Frejat e Gabriel o Pen-sador para participar do disco, gravado no estúdio que montou em sua casa, no Rio de Ja-neiro. As canções – de diferentes gêneros, entre xote, rock e samba – falam em temas con-temporâneos, como a violência urbana e o aquecimento global e, para criar um ambiente que propiciasse a reflexão, a cantora escolheu fazer shows em teatros. O novo disco foi lançado junto com o DVD Raízes e Antenas, que regista shows na Bahia, na Paraíba e no Rio de Janeiro, com participações de Lenine, Yamandú Costa, Geraldo Azevedo, Trombo-nada do Recife, Maestro Spok, Gabriel O Pensador, Margareth Menezes e Lula Queiroga. O pai de Elba, João Nunes, de 90 anos, também aparece em sua casa, em Conceição, no sertão da Paraíba, cantando uma valsa com a filha. É ao pai que Elba Ramalho credita tanto sua identificação com Pernambuco quanto o amor pela música, que considera genético.



Sua identificação cultural com Pernambuco é conhecida. Como você vê a cultura pernambucana?

O registro de Pernambuco é muito forte para mim e para boa parte dos que vivem da atividade cul-tural. Embora eu não tenha nascido em Pernambuco, eu me considero um pouco pernambucana, por causa de meu pai. Existe tanta semelhança entre Pernambuco e a Paraíba... Realmente fiquei irritadíssima quando me incluíram entre os artistas de outras terras, ao lado de Alcione e Beth Car-valho, em um show de carnaval no Recife. Naquele momento, eu simplesmente não compreendi como alguém poderia me ver como uma cantora de outro Estado. Admito que meu afeto por Per-nambuco até se confunde com o que sinto pelo sertão onde nasci. Não consigo separar a Paraíba de Pernambuco, aliás, acho difícil ter alguém que consiga fazer a separação desses dois Estados. O que me fascina na cultura pernambucana é sua abrangência, sua versatilidade. Em diversos campos, não apenas no musical. No Recife, eu me sinto em casa, o público é caloroso, ardente. Esse calor, essa cordialidade e entusiasmo do povo certamente contribui para a riqueza da produção cultural per-nambucana, que nos deu e nos dá tantos compositores talentosos. Entre eles estão amigos muito próximos, verdadeiros irmãos, com quem sempre trabalhei, como Alceu Valença e Geraldinho Aze-vedo. Tive o privilégio de ser uma das primeiras artistas a cantar Lenine, que é um gênio, um poeta, um pensador, além de grande músico. Lenine é tão iluminado, que se tornou ícone rapidamente. Ele é um divisor de águas na nossa música.

Sua imagem é a de uma cantora nordestina, embora seu repertório inclua os mais diversos gêneros musicais. Este disco quer romper com essa imagem?

Eu queria me desvincular dos rótulos e lançar um disco que não fosse datado, que não precisasse cumprir uma agenda carnavalesca ou das festas juninas. O Nordeste está em mim, é claro, até neste trabalho há algum momento regional. Sempre procurei a diversidade, outras vertentes musicais. Eu gosto de ritmos variados, de mesclar sons produzidos em outros países com os nossos. Já misturei música caribenha com axé. O artista é tridimensional. Naturalmente, o Nordeste é minha grande referência, é o motor gerador de meu trabalho. Mas não preciso estar eternamente acompanhada por zabumbas, triângulos e sanfonas. Não me agrada a idéia de me fechar, da xenofobia musical. Fui criada ouvindo samba, Ataulfo Alves, Dalva de Oliveira, Pixinguinha e Edith Piaf. Meu pai me ensi-nou a perceber a música como uma linguagem universal. Restringir-se à fórmula, fazer sempre a mesma coisa, pode limitar o artista. Em casa, para as minhas filhas, eu canto de tudo, principalmen-te músicas folclóricas, “Boi da Cara Preta”, “Sabiá lá na gaiola”, que nos ajudam a construir nossa identidade cultural.

Como foi a escolha dessas canções?

Fiz um disco que pode ser compreendido e sentido no Brasil, no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Ucrânia. Sou universalista, há 35 anos moro no Rio de Janeiro, passo boa parte do ano viajando pelo país inteiro. Então, eu procurei juntar xote, frevo, rap, mas também tem um samba maravilhoso, do João Nogueira e do Paulo César Pinheiro, “As Forças da Natureza”, que a Clara Nunes cantava. E tem música de Pedro Luís, de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Jorge Ben Jor. Gravei em meu estúdio, em casa, foi um trabalho íntimo, da maturidade, que se refere ao sertão, às recordações de minha infância, e também ao que se encontra no caminho do mar. Sou uma artista brasileira, vivo em contato com meu povo, conheço o carinho em todas as partes do Brasil. E esse trabalho juntou amigos e novas vertentes musicais, unindo harpa, guitarra, roqueiros, rappers, sambistas. É um pou-co do que se ouve hoje em dia, música de qualidade, que se renova e que renova o artista também.

O público está acostumado a vê-la em palco comandando verdadeiras festas. Como é a reação a esta Elba mais intimista?

O ambiente dos teatros já leva o público a ter uma postura diferente, a se preparar para assistir e a refletir sobre o espetáculo. Já fiz shows homenageando Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Desta vez, não tive preocupação em me limitar ao Nordeste, quis renovar, sentir-me revigorada. Não há como deixar de cantar “Banho de Cheiro” no bis. Afinal, tenho a obrigação de cantar o que o público quer ouvir. Em qualquer show meu, sempre houve um momento para canções mais românticas, mais dolentes. Nem ousaria deixar de apresentar “Aconchego”, as pessoas pedem. Então, mostro as novas canções, canto as antigas e o público sai satisfeito, depois de ter ouvido 10 novas músicas e 10 suces-sos que queriam cantar. Eu também saio contente, porque apresentei trabalhos novos e relembrei os que me trouxeram sucesso e boas lembranças.

(Leia a entrevista na íntegra, na edição nº 84 da Revista Continente Multicultural. Já nas bancas)






Olga de Mello é jornalista.