24.1.08

Valor Econômico - Livros


Um mergulho profundo no carnaval
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
"Almanaque do Carnaval" - André Diniz


Divulgação

Diniz: foi nos últimos 25 anos que se percebeu a importância antropológica do carnaval
Zahar, 272 págs., R$ 39,90


Em lenta evolução, de cadência cautelosa como os compassos dos minuetos cujas coreografias tanto inspiraram cortejos e alegorias carnavalescas, começa a tomar corpo a literatura que estuda o carnaval brasileiro. Embora tenha representação exuberante na ficção, com referências em crônicas, contos e romances de autores consagrados, entre eles Machado de Assis, Jorge Amado, Manuel Bandeira e Mário de Andrade, a bibliografia com estudos e história do carnaval ainda é exígua, afirma o pesquisador André Diniz, que acaba de lançar "Almanaque do Carnaval". "Aos poucos vão surgindo mais e mais títulos, o que mostra que o carnaval assume um caráter além da festividade", diz Haroldo Costa, autor de quatro livros sobre o tema, entre eles o recém-lançado "Política e Religiões no Carnaval" (Irmãos Vitale, R$ 57,00).





Segundo Diniz, foi nos últimos 25 anos que o mundo acadêmico percebeu a importância antropológica do carnaval. "Mesmo assim, a informação pesquisada hoje vira artigo, crônica. Ela demora um mínimo de dez anos para chegar ao livro. É costume dizer que o Brasil pode ser mais bem entendido pelo futebol e pelo carnaval, porém persiste uma resistência à compreensão desses fenômenos", acredita Diniz, que relacionou 60 publicações no índice bibliográfico do "Almanaque do Carnaval". A mais antiga é "Música Popular: Teatro e Cinema", de José Ramos Tinhorão, publicado em 1972 (Vozes).


Para Haroldo Costa, o carnaval oferece aspectos inexplorados para os pesquisadores. Em seu livro, ele se detém sobre o registro da história por meio da crítica política e do misticismo pela menção a Deus e a orixás. "Os sambas-enredo, principalmente, se detêm sobre episódios pouco lembrados de nossa história, preenchendo a lacuna do ensino, que tradicionalmente ignorou figuras como Zumbi dos Palmares e Chica da Silva. As marchinhas, por sua vez, traziam conteúdo crítico, como o 'Bota o Retrato do Velho' ou 'Aonde Está o Dinheiro?', temas desenvolvidos há mais de 40 anos que continuam atuais. Quando se fala abertamente nos orixás na música podemos verificar tolerância e a queda dos preconceitos em relação aos cultos afro-brasileiros", observa.


Autor de "O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro" (Ediouro, R$ 84,00), Felipe Ferreira lembra que a valorização da festa começa com o modernismo. "O tema chega à pintura com exuberância. Ao mesmo tempo, Villa-Lobos se apropria de ritmos estranhos à música erudita, como a congada e o chorinho. Mesmo assim, só agora se percebe que o carnaval pode ser o corte para olhar o Brasil tanto pela economia quanto pela sociologia e até pela geografia", afirma. Já para Diniz, o modernismo via o carnaval por um ângulo estrangeiro: "Os modernistas lançaram as bases para uma visão por uma lente européia. Até um folclorista apaixonado pela brasilidade como Mário de Andrade usa instrumentos elitistas ao falar de carnaval. As produções recentes entendem o Brasil por elas mesmas."


O entendimento do brasileiro por meio do carnaval é defendido por Ruy Castro em "Carnaval de Fogo" (Companhia das Letras, R$ 40,50), no qual conta a história da cidade do Rio. Para o escritor, o caráter do carioca foi formado pela evolução e pela influência do carnaval sobre a vida da cidade. Nada mais natural, portanto, que a narrativa de "Era no Tempo do Rei" (Alfaguara /Objetiva, R$ 36,90), sua primeira incursão na ficção, comece no carnaval de 1810.


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Os Filhos de Gandhy invadem Salvador: Adriana Falcão leva deuses gregos fantasiados de orixás às ruas da cidade na sua adaptação da comédia "Sonhos de uma Noite de Verão", de Shakespeare
"Dom João VI era um folião, assim como seu filho, Pedro I, e o neto, Pedro II, que, de acordo com os relatos históricos, se divertia com o entrudo e demonstrava bom humor em relação às brincadeiras da festa. Para contar as molecagens do menino Pedro, que passava sebo na escada para fazer José Bonifácio escorregar, eu quis mostrar essa família carnavalesca", conta Ruy.


Aproveitando personagens ficcionais, porém clássicos, Adriana Falcão também usou o carnaval como ambientação em sua adaptação da comédia shakespeariana "Sonhos de uma Noite de Verão" (Coleção "Devorando Shakespeare", Objetiva, R$ 26,90).


Para tratar de traição, farsa, romance e ciúmes, Adriana leva deuses gregos fantasiados de orixás às ruas de Salvador, sem os tons dramáticos e melancólicos ou francamente dramáticos que apresentam o carnaval na literatura brasileira.


Uma das mais antigas dessas menções é de Raul Pompéia, no conto "O Último Entrudo", publicado em 1883, no qual Pompéia fala nostalgicamente sobre os carnavais de sua mocidade. E sob o pseudônimo do relojoeiro Policarpo, na crônica "Bons Tempos", publicada em 1889 na "Gazeta de Notícias", Machado de Assis lamenta que o carnaval seja insuficiente para aliviar a cidade das aflições, tristezas e cóleras dos outros dias do ano.


Outros carnavais literários


- "O Bebê de Tarlatana Rosa", conto de João do Rio, conta uma paixão no carnaval.


- Em 1919, Manuel Bandeira publicou "Carnaval", com poemas sobre o romantismo e a sensualidade de relacionamentos fugazes.


- O desfecho de "Amar, Verbo Intransitivo", de Mário de Andrade, é durante um desfile de ranchos na avenida Paulista.


- "A Morte da Porta-Estandarte", de Aníbal Machado, descreve um assassinato no centro do Rio.


- O contraste entre o entusiasmo juvenil e a indiferença estão em "Antes do Baile Verde", no qual Lygia Fagundes Telles mostra uma mulher se aprontando para um baile de carnaval, sem ligar para o pai moribundo no quarto ao lado.


- Um concurso de fantasias de luxo e seus participantes são elementos importantes da trama de "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos", de Rubem Fonseca.


- "Conto de Verão nº 2: Bandeira Branca", de Luis Fernando Verissimo, mostra um romance de carnaval que atravessa décadas.

Valor Econômico - Mercado Editorial


Os próximos capítulos das publicações
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
25/01/2008



Quem será o novo "Harry Potter", pronto a converter jogadores de videogames em leitores? Qual enigma substituirá o "Código Da Vinci" com mistérios intrigantes para enredar um público ávido por aventuras? Investindo nos temas decorrentes das celebrações históricas e nas biografias de personagens cuja fama beira a lenda, como o mago Paulo Coelho, as editoras brasileiras já se lançaram em busca dos best sellers de 2008, na ressaca do início do ocaso dos dois maiores fenômenos editoriais dos últimos anos.


A chegada da família real portuguesa ao Brasil, o centenário de morte de Machado de Assis, 40 anos das manifestações de maio de 1968, o cotidiano das populações sob guerra, a vida de povos não europeus nem americanos e a literatura que eles produzem são as temáticas que norteiam o mercado - que comemora um crescimento de 15% nas vendas dos últimos meses de 2007 - impulsionadas pelo lançamento, em novembro, de "Harry Potter e as Relíquias da Morte", de J.K. Rowling (Rocco), com mais de 500 mil cópias vendidas.


Folha Imagem

Lya Luft: algumas editoras investirão em tiragens muito acima do habitual para o padrão brasileiro. É o caso de "O Silêncio dos Amantes", o retorno da escritora à ficção, que a Record lança com tiragem inicial de 40 mil cópias
Análises sobre o choque cultural dos aristocratas portugueses ao aportarem nos trópicos e a transformação da colônia provinciana em nação já estão na pauta das editoras há meses. A Planeta saiu na frente, com "1808", de Laurentino Gomes, seguida pela Alfaguara, que lançou "Era no Tempo do Rei", romance histórico de Ruy Castro.


No primeiro semestre chegam ao mercado o "Dicionário Joanino" (Objetiva), elaborado por uma equipe de historiadores coordenada por Ronaldo Vainfas. Pela Companhia das Letras, Lilia Moritz Schwarcz lança "O Sol do Brasil", em que se detém sobre os artistas da Missão Francesa. Já a Record traz uma biografia de d. João VI, de Lúcia Bastos, e "Versalhes Tropical", de Kirsten Schultz, que, segundo a gerente-editorial Luciana Villas-Boas, explica as raízes da civilização brasileira pela subversão das relações hierárquicas dos nobres que se fixaram no Rio.


A Zahar terá uma coletânea de ensaios organizados pelo historiador inglês Kenneth Light, além de, no segundo semestre, lançar "A Cozinha Imperial", de Ana Roldão, especialista em gastronomia do século XIX, que pesquisou a culinária que a corte portuguesa deixou no Brasil.


Multiculturalismo


A leva de livros de escritores radicados na Europa ou nos Estados Unidos que retratam os encontros de diferentes culturas deve continuar forte em 2008. Só a Nova Fronteira tem quatro títulos confirmados para este ano. Com tiragem inicial de 100 mil exemplares, "A Doçura de Todos Nós", de Thrity Umrigar, faz o caminho inverso, mostrando os conflitos de uma viúva indiana levada a morar nos Estados Unidos com a família do filho.


Já no mês que vem chega às livrarias "Quando o Crocodilo Engole o Sol", memórias do jornalista Peter Godwin, que volta ao Zimbábue, onde foi criado, para visitar a família. Ainda no primeiro semestre, sai o primeiro romance do etíope Dinaw Mengestu, que trata da adaptação de imigrantes nos Estados Unidos na década de 1970. "A Pequena Ilha", ficção da inglesa Andrea Levi, fala dos jamaicanos que foram para a Inglaterra depois da Segunda Guerra Mundial. "Esses conflitos culturais, um problema causado pela globalização, são curiosos e têm leitores cativos", afirma o diretor-superintendente da Nova Fronteira, Mauro Palermo.


Os relatos sobre experiências em guerras recentes também continuam merecendo destaque das editoras. Pela Rocco saem dois relatos sobre a guerra no Sudão: "War Child", do rapper Emmanuel Jal, que passou sete anos como menino-soldado, e "The Translator", de Daoud Hari, que trabalhou como tradutor para jornalistas em seu país.


Um dos principais lançamentos da Record será "Filhos de Grozny", da norueguesa Asne Seierstad, a autora de "O Livreiro de Cabul", sobre crianças órfãs na guerra da Chechênia. Ainda no primeiro semestre, a Record mostra a opressão da vida rural na China com "O Segredo Chinês", de Chen Guidi e Wu Chuntao.


Machado e 1968


O centenário de morte de Machado de Assis faz surgir um bom número de estudos e até de exercícios de redação sobre sua obra. Além de publicar sua obra poética completa, a Record lança "Recontando Machado", com 13 novas versões de seus contos, assinadas por autores de renome. Pela editora sai também o "Almanaque Machado de Assis", de Luiz Antonio Aguiar, com curiosidades, biografia e um guia para leitura. A Zahar lança "A Cartomante" em quadrinhos, enquanto a Rocco trará uma coletânea de contos voltada para o público jovem, além de um estudo sobre filosofia na obra machadiana. A Nova Fronteira também terá uma coletânea de Machado.


"1968 - O Ano Que não Terminou", de Zuenir Ventura, será relançado pela Planeta. "Ele está acabando um balanço com os personagens e acontecimentos nestes últimos 40. Os dois livros serão vendidos juntos, em uma caixinha", conta o diretor-editorial da Planeta, Pascoal Soto. Os jornalistas Ernesto Soto e Regina Zappa também se debruçam sobre o movimento em um livro que a Zahar lançará em abril, com depoimentos, curiosidades e um passo-a-passo sobre os acontecimentos no Brasil e no mundo naquele período.


Perfis em mudança


O entusiasmo com os resultados dos últimos meses leva algumas editoras a investir pesadamente em lançamentos com tiragens bem acima das habituais no Brasil - que, geralmente, não chegam a 10 mil exemplares por edição. É o caso de "O Silêncio dos Amantes", o retorno de Lya Luft à ficção, que a Record lança com tiragem inicial de 40 mil cópias.


Depois de fechar 2007 com um milhão de exemplares de "O Segredo" vendidos, o grupo Ediouro promete lançar, em média, 48 novos títulos ao mês, consolidando a segunda posição no mercado, atrás apenas do grupo Record, que apresenta em torno de 72 lançamentos mensais.


Com novo perfil administrativo e editorial, a principal mudança fica por conta da Agir, que tinha uma linha até então voltada, preferencialmente, para a literatura brasileira. Agora, ela passa a lançar livros de diferentes gêneros, como o novo romance de Irvin D. Yalom, autor de "Quando Nietzsche Chorou" (270 mil exemplares vendidos no Brasil), cuja tiragem inicial será de 30 mil exemplares. "Cartas à Minha Mãe", de Mélanie e Lorenzo Delloye, filhos de Ingrid Bettancourt, seqüestrada há seis anos por guerrilheiros colombianos, terá primeira edição de 50 mil cópias.


Essa também será a tiragem de "The Last Lecture" ("A Última Palestra"), de Randy Pausch, que promete ser um dos best sellers do ano. Doente terminal de câncer, o professor universitário Pausch ficou conhecido nos Estados Unidos ao fazer um balanço de sua vida e falar sobre a proximidade da morte, em setembro. A palestra teve mais de seis milhões de acessos na internet e os direitos de publicação do livro que Pausch está escrevendo foram comprados por mais de U$ 7 milhões pela Hiperion, a editora do Grupo Disney.


"São livros com relatos fortes, emocionais, de grande apelo e mensagens motivadoras, visando a atingir a um público mais abrangente", diz André Castro, diretor-executivo de Livros do Grupo Ediouro.


Outra editora tradicionalmente dedicada à literatura brasileira, a José Olympio, do grupo Record, também se abre cada vez mais para a ficção estrangeira, em particular a americana. Neste ano, entre as novidades está uma tradução de Clarice Lispector para a peça "The Little Foxes", de Lilian Hellman, que terá toda sua obra reeditada pela José Olympio. "A Balada do Café Triste", de Carson McCullers, "A Comédia Humana", de William Styron, e "O Vinho da Juventude", de John Fante, também serão relançados pela editora, que trará na coleção "Sabor Literário" textos inéditos no Brasil de Arthur Miller e Gore Vidal.


Ainda desconhecidos do público brasileiro, chegam "O Egiptólogo", de Arthur Phillips, e "A Biblioteca do Geógrafo", de Jon Fasman, "um Dan Brown erudito, que combina aventura com filosofia", segundo a editora Maria Amélia Mello: "Eles têm densidade e sabem montar narrativas empolgantes, mesclando aventuras e mistérios."


Os autores nacionais continuam privilegiados pela José Olympio, com a edição das obras completas de José Cândido de Carvalho, Aníbal Machado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Em destaque também estão duas antologias, uma de poemas de Manuel Bandeira em edição voltada para jovens e outra coletânea dos poetas Paulo Leminski, Ana Cristina César, Torquato Neto e Wally Salomão. Ainda na área da poesia, há a promessa de um novo livro de Ferreira Gullar: "Ele prometeu que este ano entrega seu novo livro", revela Maria Amélia Mello, que anuncia a publicação também dos romances históricos de João Felício dos Santos e do estudo sobre Machado de Assis assinado por Augusto Meyer, fora de catálogo há mais de 50 anos.


Conquistando cada vez mais leitores, o segmento de auto-ajuda é incorporado por editoras que criam selos para abrigá-lo. A Objetiva promete para este semestre um novo selo dedicado exclusivamente a comportamento, psicologia, saúde e auto-ajuda, assim como alguns títulos relativos a vida profissional e carreira. "Já temos cerca de uma dúzia de títulos prontos, marca e logomarca definidos, só faltam alguns pequenos detalhes para o projeto decolar", informa o editor Roberto Feith.


Já a Nova Fronteira acaba de criar o selo Sem Fronteiras, que já traz títulos como "De volta ao Mercado: Reaprendendo a Namorar depois da Separação" e "Não: Por Que as Crianças de Todas as Idades Precisam de Limites".

É cedo para festejar reaquecimento


Apesar dos bons resultados apresentados pelo mercado, há quem considere prematuro festejar o reaquecimento do setor. "Houve uma melhora generalizada no mercado, porém o livro ainda é visto como supérfluo no Brasil", afirma o vice-presidente da editora Campus/Elsevier, Henrique Farinha, observando que o segmento de livros técnicos retomou níveis que não eram alcançados desde 1995.


Ele reconhece os avanços na distribuição da produção por todo o país, além da abertura de novas livrarias e a chegada dos livros a pontos-de-venda dos quais eram mantidos a distância, como supermercados e lojas de departamentos populares.


"Sem sombra de dúvida o cenário melhorou muito, mas ainda não aconteceu uma explosão de vendas. Estamos recuperando um ritmo perdido', pondera. Em 2008, a Campus, que tem uma média de 260 lançamentos por ano, vai aumentar o catálogo de títulos jurídicos e de medicina, enquanto aguarda o novo grande tema na área de negócios: "O segmento é diluído tematicamente. Não existe um assunto novo. Vamos continuar com nossos lançamentos em finanças pessoais, o setor que mais cresceu nos últimos três anos, quando dobramos nosso catálogo", informa Farinha.


Mesmo navegando na maré contrária ao mercado, Marcos Pereira, editor da Sextante, que registrou uma queda de 8% no faturamento em 2007, não perde o otimismo. "Tivemos dois anos excepcionais, com 2,5 milhões de volumes vendidos de 'O Código Da Vinci' no Brasil. 2007 foi o ano de 'Lei da Atração' e de 'O Segredo'. Isso é cíclico", acredita o editor, que pretende investir cada vez mais no segmento de negócios, tendo recentemente fechado o lançamento pela Sextante de "O Segredo de Luísa", livro de Fernando Dolabela que já vendeu mais de 150 mil exemplares. "Ele foi lançado por editoras pequenas e acabou sendo incluído na bibliografia recomendada em MBAs de Administração", conta Pereira, que continuará investindo em títulos motivacionais. "Vamos trabalhar mais com ficção a partir de 2009."


A Intrínseca, que aumentou seu faturamento em mais de 800% em 2007 graças ao sucesso de "A Menina Que Roubava Livros", de Markus Zusak, continua apostando em títulos que agradam ao público de jovens adultos. Em março sai o primeiro volume da série sobre vampiros da americana Stephenie Meyer, cujo último livro vendeu 250 mil exemplares no primeiro dia em que chegou às livrarias. "Atualmente, ela é a grande esperança do mercado editorial, órfão de Harry Potter", informa o editor Jorge Oaquim. Neste início de ano, a Intrínseca lança "A Exceção", do dinamarquês Christian Jungersen, que aborda um caso de assédio moral dentro de uma ONG humanitária. (OM)

3.1.08

Valor Econômico - Livros


Um jeito divertido de ensinar economia
Olga de Mello, para o Valor, do Rio
03/01/2008


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Marilyn: música que cantou em filme é usada para explicar a teoria dos jogos

Tirar a economia do campo teórico e trazê-la para as questões cotidianas, tornando-a um elemento real para os leigos no assunto, foi o desafio proposto pelo professor Adolfo Sachsida, da Universidade Católica de Brasília, a estudantes e especialistas no tema, que analisaram provérbios e expressões populares à luz da teoria econômica. O resultado está no e-book "Em Terra de Cego, Quem Tem um Olho é Rei: Usando Teoria Econômica para Explicar Ditados Populares" (o download é grátis no endereço http://gustibusgustibus.files.wordpress.com/2007/11/ditadosnov2007.pdf), que apresenta noções de economia, como teoria dos jogos, escolha pública, consistência dinâmica, tamanho do Estado e vantagens comparativas em 25 artigos de diferentes autores.


Sem muita reverência ao "economês", os autores aproveitam a sabedoria popular expressa em ditados - entre eles "De cavalo dado não se olham os dentes", "O trabalho engrandece o homem" e "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando" - para discorrer sobre conceitos econômicos. Um dos mais divertidos - e extensos - capítulos do livro trata da expressão "Diamonds Are a Girl's Best Friend" ("Diamantes são os melhores amigos de uma garota", canção interpretada por Marilyn Monroe no filme "Os Homens Preferem as Louras"), que serve para Renato Orozco, especialista em economia política internacional, demonstrar como a teoria dos jogos funciona.


Mais conciso, Cláudio Shikida, professor do Ibmec de Minas, diz que o provérbio "Atirou no que viu, matou o que não viu" sempre lhe vem à mente ao conhecer alguma nova tentativa de proteção de setores da economia, o que, se por um lado restringe a concorrência, por outro pode impedir a queda de preços que elevaria o acesso de consumidores e, conseqüentemente, aumentaria a arrecadação de impostos, já que haveria maior de produção de bens. Seria um caso em que o consumidor sofre conseqüências não intencionais de ações intencionais, dentro da concepção de Frederic Bastiat.


Já o organizador da seleção, Adolfo Sachsida, escolheu a frase "Faz a fama e deita na cama" para tratar da falta de competitividade que ele vê na economia brasileira. Sachsida comenta que a acomodação pode levar a perdas consideráveis, lembrando que a IBM sofreu um baque na década de 1980 por não haver percebido as possibilidades de crescimento do mercado de microcomputadores domésticos. No pólo inverso está a Microsoft, que mantém o domínio do setor buscando a renovação constante de seus produtos.


A irregularidade pontua a coletânea de textos. Alguns são bem-humoradas lições de economia, outros fogem à temática dos provérbios escolhidos para dedicar muitas linhas de críticas à política econômica.

E os homens continuam a preferir as loiras

Leia trecho de "Diamonds Are a Girl's Best Friend", capítulo inspirado na música que tem esse nome, cantada por Marilyn Monroe no filme "Os Homens Preferem as Louras" (1953):


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É objetivo da mulher maximizar sua felicidade depois do casamento e para isso ela precisa encontrar o parceiro que lhe possibilite a maior renda esperada no futuro ("expected future income"), ou seja, alguém que ganhe bastante e esteja disposto a oferecer uma grande proporção dessa renda à sua mulher.


O problema para a mulher é que ela não consegue observar qual será a renda esperada de seu pretendente nem quanto ele estará disposto a dividir, já que são eventos que ainda não aconteceram. A solução é observar o valor do anel como um sinal: quanto mais caro, maior a generosidade do pretendente e a confiança dele de que não necessitará do dinheiro no futuro.


Para a mulher, o melhor seria casar com o indivíduo que lhe oferecesse o anel mais caro. Seria fácil escolher, se todas as ofertas de casamento fossem simultâneas. Não é assim. A mulher recebe propostas de casamento sucessivas e finitas. Ela não pode esperar indefinidamente por um anel de noivado da Tiffany porque morre de medo de não se casar com ninguém.


O homem, por sua vez, deseja casar e para isso deve comprar um anel de brilhantes. Quanto mais barato o anel, melhor para o bolso, mas aumentará a probabilidade de a mulher não considerá-lo um bom partido e de ele ser rejeitado.


Se o homem estiver atento ao dilema da mulher ao aceitar a proposta de casamento e vice-versa, será que existe um ponto de equilíbrio? Estariam, homem e mulher, jogando um jogo de sinalização em programação dinâmica?


O jogo para a mulher:


- A mulher espera receber "n" pedidos de casamento durante sua vida.


- Ela quer escolher o homem que irá maximizar sua felicidade depois do casamento e para isso escolhe o parceiro com a maior renda esperada futura.


- Mas ela não consegue observar a renda esperada do homem que a pede em casamento.


- Ao invés disso, ela tenta ler o tipo de homem que está propondo casamento por meio do valor do anel de noivado oferecido para ela.


- O ganho ("payoff") da mulher aumenta de acordo com a renda esperada do homem.


- Se ela recusar a proposta do último homem ("n"), terá que viver sozinha para o resto de sua vida, de modo que seu "payoff" é zero. Em outras palavras, ela irá se casar com o último homem que pedir sua mão em casamento, a não ser que tenha se casado com outrem.


- Assumimos que a mulher é neutra ao risco ("risk neutral") e trocará "o certo pelo duvidoso" sempre que este último tenha um valor esperado maior do que o primeiro.


O jogo para o homem:


- O homem pede a mão da mulher em casamento, e recebe um "payoff" positivo caso ela aceite e um "payoff" negativo se ela o rejeita.


- Ele também tem que comprar um anel de noivado e deve escolher o preço do anel com a restrição de que o preço máximo do anel é uma fração fixa de sua renda esperada futura (ele pode se endividar, mas só até essa fração máxima).


- Ele sabe que a mulher se preocupa com a sua renda esperada futura e tentará enviar um sinal por meio do preço do anel comprado.


- Contanto que a mulher o aceite, ele estritamente prefere comprar um anel mais barato ao invés de um mais caro.


- Se ela o recusar, ele guardará o anel e poderá recuperar seu investimento devolvendo ou vendendo o anel, de modo que seu "payoff" será zero se ele for rejeitado, mas não um "payoff" negativo. Se ele estiver em uma situação na qual deverá escolher entre pedir a mulher em casamento e ser rejeitado e não pedir em casamento, ele irá sempre pedir, já que ambos lhe dão um "payoff" zero.

Valor Econômico - Livros

A força dos 'think tanks' na política
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
27/12/2007


"Os Think Tanks e Sua Influência na Política Externa dos EUA" - De Tatiana Teixeira. Editora Revan, R$ 39


Quem vive em um país onde idéias e atuação dos governantes parecem emanar unicamente do Poder Executivo dificilmente compreende a força dos poderosos "think tanks" na política americana, afirma Tatiana Teixeira, que escolheu os "reservatórios de pensamento" e sua atuação após o 11 de Setembro como tema de sua tese em relações internacionais na Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicada pela Revan, "Os Think Tanks e Sua Influência na Política Externa dos EUA" conquistou o prêmio Franklin Delano Roosevelt concedido pela embaixada americana a pesquisas acadêmicas na área de ciências sociais.


"Como são um modelo de instituição tipicamente americano, parece que os 'think tanks' são um instrumento projetado para manter a hegemonia americana. Esse maniqueísmo é extremamente reducionista", observa a pesquisadora. "Precisamos entender sua dinâmica, conhecer cada vez mais os possíveis parceiros ou adversários do Brasil. Nosso poder de barganha em qualquer fórum internacional ou discussão bilateral será ampliado somente se tivermos mais conhecimento da realidade externa", prossegue.


O interesse pelo tema surgiu quando Tatiana trabalhava em duas agências internacionais de notícias e percebeu a presença constante dos "think tanks" na divulgação de idéias pela mídia. Há poucos dias, por exemplo, um instituto de pesquisa americano apresentou um relatório que apontava a necessidade de países emergentes se comprometerem com todas as cláusulas do Protocolo de Kyoto, não apenas se beneficiando da venda de créditos de carbono.


"Eles têm uma análise mostrando a culpa dos emergentes no aquecimento global. Ora, quem está falando isso não é o governo americano, mas o assunto entra na pauta mundial. Se o governo vai incorporar essas idéias terá sido legitimado por um debate amplo", explica. "É uma operação extremamente sofisticada e bem articulada, recorrente em todos os aspectos da política externa americana."


O estudo de Tatiana não contempla as instituições brasileiras que também se dedicam ao estudo de idéias e aos problemas brasileiros: "Os nossos 'think tanks', que seriam institutos de pesquisa, consultorias, organizações não-governamentais dedicadas ao terceiro setor, não têm a mesma relevância", avalia.


Para ela, isso ocorre por uma questão cultural, que faz com que essas instituições sejam encaradas com desconfiança pela população que os conhece. "Alguém que abra uma consultoria depois de haver trabalhado no governo, para nós, é ainda objeto de estranhamento, assim como demonstrar interesse em continuar influenciando nos rumos do país mesmo sem mandato ou exercer a política profissionalmente."


Nos Estados Unidos, Tatiana observa que essa mesma situação é prova de nacionalismo, um conceito que serve bem a eles, embora os americanos tenham dificuldade em lidar com a defesa nacionalista de outros países. O puritanismo que contribuiu para a formação de uma identidade americana também teria forjado a noção de Terra Prometida e de povo escolhido que os Estados Unidos cultivam.


"Os 'think tanks' têm respaldo porque sempre querem defender os interesses americanos. Desde o 11 de Setembro, foi essencial que eles chegassem fisicamente ao Oriente Médio."


Embora a maioria dos cerca de 1,5 mil "think tanks" atualmente defenda posições conservadoras, o primeiro governo americano a estreitar laços com tais instituições foi o do democrata Jimmy Carter, em 1976. A proliferação dos institutos ocorreu a partir dos anos 70, com seu ápice de crescimento na década de 80, quando o cenário americano começou a ser dominado pelos "think tanks" menos progressistas.


Tatiana lembra que os conservadores estavam perdendo a guerra para a contracultura, que recebia o apoio das ditas minorias, tendo encontrando nos "think tanks" a melhor forma de reagirem e não perderem todo o processo político para os liberais. A situação é inversa hoje, com a direita americana aparentemente ganhando o respeito da opinião pública ao utilizar ferramentas de divulgação mais atraentes.


"Não existe ingenuidade nesse campo. Os sites dos 'think tanks' conservadores são interessantes, bem desenhados, mais modernos, mais completos, com mais recursos. O objetivo claro é facilitar a consulta, o acesso ao material", analisa. "Enquanto isso, a esquerda e o centro vêm atuando, faz algum tempo, com base em uma agenda há muito estabelecida pelos conservadores. Está faltando aos democratas e progressistas estabelecer uma agenda própria. O 11 de Setembro dificultou isso com o ideário da guerra ao terrorismo", afirma Tatiana Teixeira.


Os "think tanks" americanos de hoje se estruturaram como centros de produção e articulação de conhecimento que tratam de diferentes questões sem torná-las foco de debates permanentes. Mantidos por universidades, recebendo verbas de governos, de empresas particulares ou gerando renda por meio de produção própria, os "think tanks" montam equipes com analistas renomados, o que atrai mais receita e amplia suas chances de influenciar o meio político.


Segundo Tatiana Teixeira, por mais diversas que sejam as fontes de recursos, as instituições precisam demonstrar que não trabalham em função de interesses pontuais ou restritos, o que comprometeria a credibilidade.


"Não podemos encarar os 'think thanks' apenas como um lobismo sem fins lucrativos. Eles são uma ferramenta para legitimar interesses - incluindo econômicos -, nos níveis doméstico e internacional, só que afiançado pelas idéias, argumentações científicas, números", afirma. "Enquanto os lobbies se preocupam com os interesses específicos, os 'think tanks' têm objetivo mais amplo. Mesmo que a última geração deles esteja mais voltada para influenciar a política de alguma forma, o intuito é conseguir algo que seja pelo bem comum, sem pressionar diretamente os políticos, mas persuadindo a opinião pública a respeito de suas idéias."