31.8.07

Valor Econômico

As apostas na bienal do Rio
Por Olga de Mello, para o Valor
31/08/2007


Discreto e constante, seguindo os passos do crescimento econômico do país, o mercado editorial brasileiro comemora seu aquecimento. Os índices de leitura permanecem baixos, o número de livrarias é insuficiente para cobrir as necessidades até das metrópoles onde se concentram, porém já se fala abertamente sobre a profissionalização da indústria, enquanto grandes eventos promovem a popularização de um produto ainda considerado - pelo consumidor - caro e voltado para as elites. A maior das festas deste ano é a XIII Bienal do Livro, que deverá levar 600 mil pessoas ao Riocentro, no Rio. Em busca do leitor-padrão, aquele que procura a chamada literatura de entretenimento, a bienal convidou representantes estrangeiros da novíssima geração de escritores de best-sellers, entre eles o catalão Ildefonso Falcones, que, somente na Espanha, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias exemplares de seu livro de estréia, o romance histórico "A Catedral do Mar" (Rocco).


Até para quem privilegia os títulos de menor sucesso entre o grande público, como Gisela Zagnoni, editora da Gryphus, o momento é de cativar o leitor e desmistificar a elitização do livro. "O mercado assumiu sua faceta profissional. As editoras investem agressivamente em marketing, colocando anúncios em diferentes veículos, pagando pela melhor exposição de seus produtos nas livrarias e nos sites de venda da internet, que é onde mais se compram livros atualmente", diz Gisela, que lança na bienal uma nova edição de "Um Estranho em Goa", do angolano Miguel Agualusa.


Já a gerente-editorial da Nova Fronteira, Isabel Aleixo, observa que as editoras brasileiras têm se aproximado do padrão americano que norteia o setor. "Acabou o pudor em considerar o livro um produto, aquela vergonha de não manter apenas obras de grande importância literária nos catálogos, que hoje abrangem títulos variados, abrindo espaço para o comercial", afirma Isabel, lamentando apenas a concorrência do livro com outros veículos, principalmente o computador, que estimula a escrita, mas não a leitura: "O número de leitores continua pequeno; no entanto, recebemos, por dia, de 120 a 150 originais de candidatos a novos escritores", conta.


Diversificar e buscar público é a maneira que editoras tradicionais têm para permanecer no negócio, diz a diretora-executiva da Zahar, Mariana Zahar. "Insistir em manter um catálogo fechado, sem procurar novos segmentos, é viver em permanente recessão. Não há como manter-se distante do consumidor. Adoro a bienal porque é a grande oportunidade que as editoras têm de conhecer o leitor", comenta. Mariana estará na bienal acompanhando o autor americano Andrew Carrol, organizador de "Cartas no Front", livro que reúne a correspondência de soldados de diversas nacionalidades, em diversas épocas.


Diretor-editorial da Paz e Terra e sócio da rede de livrarias Argumento, Marcos Gasparian tem contato constante com os leitores e percebeu o surgimento de uma nova clientela no Rio, depois da abertura de vias que ligam bairros do subúrbio e da periferia às regiões centrais da cidade: "São moradores dessas outras regiões, onde não existem livrarias. E esse quadro deve ser semelhante no pais todo."


Fidelizar esse leitor eventual, que faz da ida à livraria ou à bienal um programa, é determinante para estabelecer uma nova atitude do mercado, afirma o diretor da Sextante, Marcos Pereira. "A estabilidade econômica chega ao consumo do livro, além de tornar o país mais atraente para os grupos editoriais estrangeiros que iniciaram as incorporações de empresas brasileiras. O momento é de concorrência acirrada, de participação ativa em leilões de novos títulos, mesmo com um crescimento tímido, da ordem de pouco mais de 4%. A tecnologia permite que se produza um livro a preços razoáveis no Brasil e nem sempre sai caro disputar um megassucesso nos leilões", informa Pereira, que leva para a bienal três candidatos a integrar as listas de best-sellers: "Água para Elefantes", da canadense Sara Gruen, que vendeu mais de 200 mil cópias nos Estados Unidos; "A Conspiração Franciscana", de John Sack, um thriller histórico sobre um segredo envolvendo São Francisco de Assis; e a vida de Buda contada pelo guru new age Deepak Chopra.


Editoras jovens, como a Desiderata, criada há três anos, estão na Bienal do Livro para firmar a marca. "É importante participar, sem expectativa de retorno em vendas", afirma a editora Marta Batalha, que lança "Fábulas e Contos Fabulosos" de Millôr Fernandes na feira.


Comemorando dez anos de fundação, a Casa da Palavra exibirá sua nova logomarca, escolhida depois de estudo de posicionamento no mercado para firmar uma mudança de posição empresarial, com investimentos em linhas consagradas, como a bibliofilia, e o lançamento de novos títulos voltados para o bem-estar, "sem fórmulas paternalistas que ensinem o segredo da felicidade, mas com conteúdo religioso, literário ou filosófico que auxilie o leitor a enfrentar as questões existenciais", explica a editora Martha Ribas.


O grupo Record, o maior do setor no país, aproveita a bienal para apresentar dois novos selos, o BestBolso, edições de bolso com preços abaixo de R$ 20, e o Galera, voltado para os adolescentes. "A principal queixa do consumidor é quanto ao preço do livro. Temos um catálogo extenso, com obras de autores consagrados e best-sellers que podem ser reeditados a preços acessíveis. O BestBolso vai publicar de Albert Camus a Scott Turow", informa a gerente-editorial da Record, Luciana Villas-Boas. Entre os títulos do Galera está uma nova série criada por Cecily von Ziegesar, a autora de "Gossip Girl", convidada para a bienal.


A indicação de crescimento do mercado deverá ser verificada até o fim do ano em levantamento da Câmara Brasileira do Livro, segundo sua presidente, Roseli Boschini, que acredita na mudança do perfil do leitor: "Continuamos trabalhando com um universo de 26 mil leitores e a média nacional de 1,8 livro lido por habitante a cada ano, dados de pesquisa feita em 2000. No Rio Grande do Sul, o índice de leitura é de 5,5 livros ao ano. Hoje, o livro parece estar mais em pauta do que há dez anos. Novas feiras e festivais de literatura estão surgindo por todo o país, o que estimula o convívio com o livro, mesmo sem uma boa rede de bibliotecas e com poucas livrarias."

Destaques da feira

31/08/2007


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Difícil prever qual escritor atrairá mais atenção na XIII Bienal do Livro, que, de 13 a 23 de setembro, reunirá 960 expositores e 290 escritores, sendo 20 estrangeiros, no Rio. Os homenageados são Gabriel García Márquez e Ariano Suassuna. É provável que uma das estrelas da festa seja o livreiro afegão Shah Muhammad Rais, personagem e também autor de um livro-resposta ao "Livreiro de Cabul", o relato da jornalista Asne Seierstad.


- Há mais de um ano "A Menina que Roubava Livros" (Intrínseca), do australiano Markus Zusak, está na lista de mais vendidos do "New York Times". Lançado em março no Brasil, já vendeu 150 mil cópias.


- Maior editor e livreiro do Afeganistão, Shah Muhammad Rais dá em "Eu Sou o Livreiro de Cabul" (Bertrand Brasil) sua versão para o que a jornalista norueguesa, que hospedou por um período, conta no primeiro livro. Segundo Shah, Asne não conseguiu superar as diferenças culturais para entender o cotidiano de seu país, devastado por conflitos civis.


- "De Bagdá, com Amor" (Best Seller) não é apenas um dos muitos livros sobre a experiência afetiva com um animal. O cuidado de um grupo de militares com um cachorrinho durante a Guerra do Iraque fez o tenente-coronel americano Jay Kopelman virar célebre e aumentou a adoção de animais nos EUA.


- "As Aventuras de Jovens Socialites de Nova York" são um sucesso entre as adolescentes brasileiras, que compraram 50 mil cópias dos livros da série "Gossip Girl", de Cecily von Ziegesar. Uma nova série da autora será lançada pela Record, inaugurando o novo selo Galera.


- O advogado catalão Ildefonso Falcones levou cinco anos escrevendo "A Catedral do Mar" (Rocco). É o mais novo fenômeno literário da Espanha, onde vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares.


- O americano Joseph Finder segue a linha dos mestres dos thrillers, com uma peculiaridade: decidiu falar de espionagem no mundo corporativo, onde ambienta suas histórias de suspense como "O Executivo" (Rocco).


- A série "Operação Cavalo de Tróia", do jornalista espanhol J.J. Benítez, tem mais de 20 anos e conta a saga de um major da Nasa que volta no tempo e acompanha aspectos da vida de Cristo. Benítez já lançou oito volumes e continua escrevendo as aventuras de Jasão, acompanhadas por uma legião de leitores fiéis.


A americana Deborah Rodriguez abriu um salão de beleza em Cabul. As histórias das mulheres afegãs que o freqüentam estão em "O Salão de Beleza de Cabul" (Campus/Elsevier). (O.M.)

28.8.07

No Mínimo -

Vida Nova aos 49 anos

12.05.2006 | Quando percorria a rodovia Niterói-Manilha, até um ano atrás, Maria da Graça Borel vislumbrava o contorno montanhoso da cidade do Rio de Janeiro, do outro lado da Baía de Guanabara, sem ousar sequer sonhar em conhecê-la. Não apenas a distância física a separava do Rio, mas também a falta de recursos a impedia de imaginar o passeio que a levasse a cruzar os 14 quilômetros da Ponte Rio-Niterói. “Eu tinha vontade de chegar perto da estátua do Cristo Redentor. Para falar a verdade, uma vontade pequena, não um desejo forte, pois, com tanto problema para me ocupar a cabeça, nem dava para pensar em diversão”, conta Maria da Graça.

Exatamente há um ano, ela se associou à cooperativa Modelarte, que reúne artesãs e costureiras de São Gonçalo, município com quase um milhão de habitantes na região metropolitana do Rio de Janeiro. “E, aí, acabamos conhecendo o Rio, passamos pertinho do Cristo, quando fomos vender nossas bolsas na Feira da Providência”, lembra, sorrindo, aos 49 anos, duas filhas e uma vida repleta de diferentes ocupações profissionais, sempre pressionada pela necessidade de sobrevivência a qualquer custo. Na Modelarte, Maria da Graça aprendeu a confeccionar móveis com garrafas PET e a trabalhar no acabamento de bolsas.

No começo, não reagia bem às brincadeiras do grupo, no qual passou a ser conhecida como Dona Tchuchuca. Acabara de fazer um curso de alfabetização para adultos e estava vivendo uma fase de grandes dificuldades pessoais e financeiras. Para sustentar a família, era catadora de objetos para reciclagem no lixão de São Gonçalo. Lembranças que não rejeita, mas minimiza: “Não tenho vergonha do que passou, mas passou, felizmente. E se Deus quiser, não voltará a acontecer. Pobre não se deprime, só pode desanimar. Minha filha pequena me obrigava a seguir em frente. Eu acho que não era depressão, não fui nem a médico. Falta de emprego dá angústia. Não tinha dinheiro, só contas a pagar. Não dava para ficar parada, mas também não sentia entusiasmo nem queria me arrumar, não queria nada. Não vivia, sobrevivia, com a auto-estima lá embaixo.”

A mudança no comportamento foi lenta. Aos poucos, Maria da Graça incorporou o novo apelido e, pouco a pouco, adquiriu confiança para puxar conversa com as colegas. O apuro na apresentação não se restringiu ao discurso. As roupas começaram a ser acompanhadas por acessórios. “Gosto de me produzir”, brinca. O riso, antes raro, hoje é fácil. Atualmente, é uma das mais expansivas associadas da cooperativa e uma das que melhor se expressam. “O que impressiona é como o vocabulário dela se aprimorou, como ela se utiliza corretamente de palavras sofisticadas. Ela chegou aqui curvada, cabeça baixa, calada, olhar sem brilho. Teve dificuldade em se adaptar, não gostava das brincadeiras que fazíamos na tentativa de nos aproximarmos, mas hoje parece outra pessoa, consciente de seu próprio valor, vaidosa. Foi uma transformação surpreendente”, comenta Pedro Belga, presidente da ONG Guardiões do Mar, gestora da cooperativa.

Extravagância: uma bolsa nova

Maria da Graça concorda que a participação na Modelarte foi decisiva para uma mudança positiva em seu comportamento: “Conviver com essas mulheres corajosas me fortaleceu. É uma turma amiga, alegre, valente! O jeito delas me contagiou”.
A pequena folga financeira, ao final de certos meses, permite a Maria da Graça uma modesta extravagância: “Quando sobram uns trocados, compro uma bolsa nova. Adoro bolsas! Não ligo para maquiagem, só um batom de vez em quando. Mas sou louca por bolsa nova. Comprar bolsas é meu hobby”, confidencia.

Ela soube da Modelarte enquanto fazia o curso de alfabetização para adultos, o Mova Brasil, projeto do Instituto Paulo Freire, patrocinado pela Petrobras, que também financia a cooperativa. Estava desempregada havia dois anos e não imaginava que começaria, depois dos 40, a aproveitar oportunidades que até então a vida lhe negara. Como não sabia costurar, entrou na cooperativa para separar o material que seria utilizado nos acabamentos de bolsas e no armazenamento das garrafas PET.

A Modelarte foi criada a partir de outro projeto desenvolvido pela Guardiões do Mar, envolvendo filhos de pescadores da região de São Gonçalo banhada pela Baía de Guanabara. As crianças eram estimuladas a recolher lixo no mangue e a confeccionar produtos artesanais, como fantoches de dedos. Mulheres de pescadores procuraram a ONG, querendo montar um novo projeto que gerasse renda para as desempregadas. Depois de pesquisas sobre a viabilidade econômica da área, a Modelarte foi implantada, abrindo a associação para moradoras de toda a região.

Foi o que mudou a vida de Maria da Graça, embora as dificuldades anteriores jamais a tenham impedido de se considerar uma pessoa “de muita sorte”. Recém-nascida, foi abandonada pela mãe biológica em uma maternidade de Nova Friburgo, na região serrana do estado do Rio. Aos quatro anos, foi adotada por um casal de lavradores, que já tinha nove filhos crescidos, e passou a morar no interior de Duas Barras. Os companheiros de brincadeiras eram os sobrinhos: “A escola ficava longe, aprendi a ler e a escrever um pouquinho com minha cunhada que era merendeira de um colégio. As crianças tinham que ajudar, pegávamos lenha para o fogão, cuidávamos dos animais. Mas dava tempo para subir em árvore, brincar muito. Foi uma infância boa, de fartura. Tudo era tirado da terra, não havia essa necessidade de agora de comprar batata, aipim, laranja”, recorda.

Essa época de folguedos terminou antes da adolescência. Aos 12 anos, começou a trabalhar como empregada doméstica. A baixa escolaridade restringia suas possibilidades de emprego. “O patrão enrola quem não tem muito estudo. A gente passa por muito desrespeito e acaba sendo obrigada a viver da caridade. Eu pegava roupa nas igrejas, catava latinhas de alumínio para vender, às vezes conseguia um emprego, mas nada com garantia.”

Hoje é diferente. A Modelarte já tem capital de giro e caminha para a auto-suficiência, recebendo encomendas de produção de bolsas de empresas como a Petrobras e a Eletrobrás. Em média, cada associada tira R$ 400 mensais - ganhos que podem aumentar com a abertura de um ponto de vendas da cooperativa no Shopping São Gonçalo, a duas ruas da sede da Guardiões do Mar, onde está instalada a oficina de costura e a de montagem dos móveis de garrafas PET. O Shopping, na Niterói-Manilha, recebe 800 mil veículos por mês e está modificando o perfil econômico da área. Desde a inauguração, o preço dos terrenos e de imóveis triplicou e novas construções surgem diariamente na vizinhança.

Plano: reforma da casa

O aumento de renda provocou, na maioria das cooperativadas, o interesse em voltar a estudar. A presidente da Modelarte, Leizimar Carvalho, 43 anos, decidiu matricular-se em um curso supletivo para acabar o ensino fundamental e começar o médio para não fazer feio na hora de negociar os produtos com “gente mais instruída”.

Maria da Graça, por ora, preocupa-se em garantir que Aline, sua filha de 11 anos, não deixe o colégio: “Ainda vou completar os estudos, mas agora o importante é estar atenta para que minha filha não saia da escola e nem fique à toa na rua. A experiência de começar um novo tipo de trabalho na Modelarte me fez descobrir que ainda há muito tempo para eu estudar. Então, antes vou fazer um curso de modelagem, corte e costura. Depois, completo o Ensino Fundamental e, quem sabe, o Médio.”

Construir novos cômodos na casa, furar um poço artesiano e comprar uma bomba d’água são alguns dos planos que pretende cumprir este ano. Quer também procurar os irmãos que continuam vivendo em Nova Friburgo, enquanto acalenta o sonho de confirmar se o sobrinho Benedito, adotado por uma de suas irmãs mais velhas na mesma época que ela, no mesmo orfanato, é seu parente “de sangue”: “Sempre fomos muito parecidos, todos nos tratavam como irmãos no orfanato, mesmo sem saber se éramos filhos da mesma mãe. Ele é um pouco mais velho que eu. É meu sobrinho, mas sempre nos consideramos irmãos. Eu gostaria de procurá-lo e, um dia, tirarmos essa dúvida a limpo, fazer um teste de DNA.”

Pode parecer pouco para brasileiros da classe média, mas são projetos que fazem a felicidade de Maria da Graça e, não faz muito tempo, nem sequer passavam por sua cabeça, tantas eram as dificuldades do dia-a-dia e a falta de esperanças no futuro...

Olga de Mello, nominimo.com.br

Alfarrábios

Cantora diz que foi incumbida por Deus de falar ao povo brasileiro
Baby do Brasil faz curas espirituais e grava CD evangélico

Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio de Janeiro



Há algum tempo se registra um aumento na conversão de artistas brasileiros a seitas evangélicas, mas ainda é pequena a conquista de adeptos no mundo do samba e entre os roqueiros. Quem conjuga as duas vertentes musicais e sempre teve seu nome associado à irreverência e à experimentação é a cantora Baby do Brasil, que tem ministrado curas espirituais nos cultos do Ministério do Espírito Santo de Deus, todas as quartas-feiras, no Clube Monte Líbano, no Rio de Janeiro.

As mudanças na aparência são discretas: “Meus cabelos estão mais coloridos do que nunca, mas parei de usar roupas decotadas. Vivo na frente de uma batalha contra o inimigo. Não quero seduzir, quero a naturalidade da autenticidade que sempre defendi. Agora sou ministra de louvor e preciso viver com serenidade”, diz a cantora, revelando estar celibatária há meses e que não precisou afastar-se de cigarros ou de qualquer substância tóxica.

“Nem no tempo dos Novos Baianos eu fumava ou bebia. Todo mundo fica admirado, porque achavam que eu era doidona. Álcool me faz mal, não gosto de drogas.” Baby nem se preocupou em mudar o repertório. Faz shows com as antigas músicas e acaba de gravar o CD “gospel” “Exclusivo para Deus”. “Sempre cantei o amor, a procura da felicidade.” A polêmica “O Mal É o que Sai da Boca do Homem”, dela e do ex-marido e pai de seus seis filhos, Pepeu Gomes, mais conhecida por seu primeiro verso (“Você pode fumar baseado”), já foi excluída dos shows há anos, quando a censura proibiu sua execução por considerá-la uma apologia à maconha.

A conversão é fruto de longa procura espiritual. Conheceu culturas hindus, ligou-se ao guru Thomas Green Norton, mas jamais se prostou em frente de altares ou imagens, o que é considerado idolatria pelos protestantes. Conta que desde criança ouvia vozes que lhe indicavam os caminhos a seguir, entre eles o de fugir de casa aos 17 anos e ir para a Bahia, após ter sido tão católica que desejara tornar-se freira.

Depois de percorrer por um mês o caminho dos cristãos para Santiago de Compostela, na Espanha, no ano passado, acabou chegando à Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, na Liberdade, em São Paulo. Foi ao lado de irmãos da comunidade que teve sua primeira experiência de arrebatamento e êxtase, tendo, segundo conta, chegado à presença de Deus e de Cristo.

“Em junho, Deus me disse para falar ao povo. Abri uma pequena célula, com apoio espiritual da comunidade Sara Nossa Terra. Deus não me puxou antes para que eu mostrasse ao Brasil minha busca. Quando falo sobre o amor de Cristo, sou ouvida porque tenho credibilidade, porque há muito eu cantava essa procura. Agora, conheço a verdade, a razão do cosmos, do nascimento, da natureza. Minha linguagem é diferente, mais universal, inspirada por Deus”, diz Baby.

Para o antropólogo Rubens César Fernandes, diretor-geral do Instituto Superior de Religião, a conversão ao protestantismo de artistas com comportamento pouco convencional ocorre quando a religião consegue conciliar “a sobriedade ética com o entusiasmo da espiritualidade exuberante”. Ele observa que as igrejas pentecostais têm uma formação de sacerdotes bastante libertária, o que combina com o pensamento desses artistas.

“A primeira geração de protestantes no Brasil era intelectualizada e dedicou-se ao ensino, fundando escolas e faculdades como o Mackenzie, em São Paulo, e o Instituto Bennet, no Rio. A superstição e os milagres espirituais eram cultuados por católicos e umbandistas, classes mais populares. Já na década de 50, os protestantes começam a ganhar adeptos, até a explosão pentecostal dos anos 80”, afirma.

De acordo com ele, os pentecostais valorizam o Espírito Santo, não a razão. Por isso, os pastores se formam sem cursar seminários, pois se consideram tocados por Deus. “Essa liberalidade permite até que artistas como a Monique Evans, que trabalha vendendo artigos eróticos, seja freqüentadora de uma igreja que, tradicionalmente, condenaria prática semelhante”, conclui.

Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio de Janeiro

Valor Econômico - Livros

Falsos problemas brasileiros
Por Olga de Mello, para o Valor
06/07/2007



Nas votações em plenário, tanto no Congresso Nacional, como em outras casas legislativas, comprova-se que, ao contrário do que se costuma dizer, os políticos geralmente fazem o que manda a direção do partido
Eleitores sem identificação partidária, partidos fragilizados em meio à multiplicação de legendas, políticos que não acatam as determinações de suas agremiações. Algumas dessas idéias, fartamente difundidas e utilizadas tanto em diagnósticos pueris sobre o panorama político brasileiro quanto para justificar a urgência de reformas no sistema eleitoral do país, merecem uma análise mais criteriosa, afirma Cristian Klein, autor de "O Desafio da Reforma Política - Conseqüências dos Sistemas Eleitorais de Listas Aberta e Fechada" (R$ 24,90, Mauad), tema de sua tese em ciência política no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). "Nem os partidos são tão frágeis, nem os políticos são tão independentes. Diferentes estudos apontam que boa parte do eleitorado vota conscientemente em determinados partidos e que a maioria dos políticos aceita a orientação de suas lideranças", diz Klein.


"O modelo de sistema proporcional é utilizado nas eleições do Brasil desde 1945. Depois do presidencialismo, é a segunda instituição mais antiga no país", lembra o autor, para quem a reforma eleitoral deverá trazer alterações discretas, talvez restritas a aspectos como a fixação de um período obrigatório de fidelidade partidária. Já as mudanças que envolvem a participação do eleitor, pediriam plebiscitos, como se fala na Câmara dos Deputados, depois da derrota da proposta de lista fechada na votação. "Os partidos não seriam necessariamente fortalecidos pela lista fechada. Na Venezuela e na Bolívia, a lista fechada levou a altos índices de descontentamento dos eleitores, que pressionaram por reformas pela personalização do voto. A conexão altamente centrada nos partidos pode gerar efeitos inesperados, como a apatia e a retaliação dos eleitores à classe política."


Não é verdade que a desorganização partidária favoreça a corrupção, diz Klein. "É preciso observar a noção de força partidária sob diferentes ângulos e derrubar mitos, como o de que o eleitor não se importa com os partidos." Pesquisas demonstram que o brasileiro tem forte identificação com partidos. Em 2000, o Ibope constatou que 56% dos eleitores simpatizavam com algum partido. O Datafolha registrou a proporção de 46% em levantamentos anuais, entre 1989 e 2002. "Os dois resultados estão acima da média internacional de identificação partidária, que é de 45%.


Para Klein, uma das demonstrações de força dos partidos está nas votações em plenário. "Dificilmente as bancadas contrariam decisões partidárias. A rebeldia, geralmente, leva ao afastamento daquele partido, seja por punição ou por decisão do próprio político. Nesses casos, é comum que o eleitor siga aquele político, não importando o partido sob o qual ele venha a se abrigar". Não se incluem nessa situação os que mudam seu voto na boca da urna, quando as pesquisas estimam como certa a vitória de um candidato: "Aí ocorre um fenômeno curioso que parece estar restrito àqueles que gostam de sentir-se vitoriosos. É um comportamento que não altera o resultado de uma eleição."

Valor Econômico - Livros (2006)

Atentados lotam as prateleiras das livrarias
Olga de Mello, para o Valor
11/08/2006




Um tema ainda timidamente explorado pela ficção literária, os atentados terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, provocou uma previsível avalanche de publicações que analisavam os ataques sob os mais variados aspectos. Ao lado de títulos que privilegiavam os feitos heróicos no resgate das vítimas do World Trade Center, ensaios sobre as conseqüências políticas das ações terroristas disputavam espaço nas prateleiras das livrarias.


Se atualmente as análises sócio-políticas continuam predominando na literatura sobre o 11 de setembro, pouco a pouco, os atentados e os traumas que causaram em todo o mundo são aproveitados pela ficção, enquanto os acontecimentos daquela terça-feira em que o mundo parou também ganham novos relatos por perspectivas diferentes.


Um desses novos ângulos é explorado pelo brasileiro Ivan Sant'Anna em "Plano de Ataque" (Objetiva), que acaba de chegar às livrarias. Ao ver a imagem do choque do primeiro avião contra uma das torres do World Trade Center, Sant'Anna, mais do que perplexidade, sentiu que ali estava a "maior história da aviação moderna" a ser contada. No ano anterior, havia sido lançado seu livro de maior sucesso, "Caixa-Preta", sobre três episódios com aviões brasileiros - dois desastres e um seqüestro. Sant'Anna debruçou-se sobre o relatório da comissão americana que investigou os ataques de 11 de setembro, leu 30 livros e escreveu 17 mil páginas, das quais restaram no livro apenas 270.


"Meu interesse era mostrar a história de quem estava nos aviões, entre tripulação, passageiros e seqüestradores. Ouvi gravações de caixas-pretas, de telefonemas de passageiros, das conversas entre aeromoças e controladores de vôo. Não há qualquer criação ficcional no livro. É uma reportagem com uma grande carga emocional, pois aquela gente toda morreu. Meu cuidado foi o de ser o mais isento possível, a ponto de evitar o uso de palavras como 'herói' ou 'terrorista'. Preferi chamar os seqüestradores de kamikazes", diz Sant'Anna.


No campo da ficção, outro autor brasileiro, Jorge Furtado, já havia utilizado o 11 de setembro como elemento que assinala diferenças culturais e separa amantes em "Trabalhos de Amor Perdidos", uma recriação livre sobre peça de William Shakespeare. A reflexão e o temor crescente que os atentados trouxeram permeiam narrativas de diversos escritores, como Ian McEwan ("Sábado") e Monica Ali ("Brick Lane").


Os ataques já foram aproveitados como referência em um policial de Michael Connelly, no thriller de William Gibson "Reconhecimento de Padrões" e no conto de ficção científica "Em Espírito", de Pat Ford. A novidade nas prateleiras brasileiras é a abordagem direta sobre a dor da perda e as tentativas de recuperar o passado em "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto" (Rocco), de Jonathan Safran Foer.



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Também escritores brasileiros, como Ivan Sant'Anna e Jorge Furtado, abordam o episódio de 11 de setembro de 2001 em suas obras
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O jovem protagonista Oskar é um menino de 9 anos que procura desvendar um mistério relacionado a seu pai, morto no desabamento do World Trade Center. Repleto de fotografias e páginas com reproduções de manuscritos, não há revolta nos personagens do romance, apenas uma tristeza profunda. Paralelamente às aventuras de Oskar, que corre por Nova York, conhecendo adultos que, ele acredita, irão aproximá-lo do pai, estão as recordações de seus avós sobre o bombardeio de Dresden, na Alemanha, pelos aliados, na Segunda Guerra.


As diferentes definições do que são crimes de guerra e como a classificação varia, dependendo do lado que julga a ação, é um dos focos de Noam Chomski em "Ambições Imperiais - O Mundo pós-11/9" (Ediouro), que estará nas livrarias até o fim do mês. Na série de entrevistas concedidas a David Barsamian, Chomski ataca a política de George W. Bush e recorda que a parcialidade no enfoque da guerra pode ser comprovada pelos padrões adotados pelo Tribunal de Nuremberg para julgar os crimes dos nazistas durante a Segunda Guerra. Ele lembra que, responsáveis pelos "devastadores bombardeios de centros urbanos civis, como Tóquio e Dresden", as forças aliadas tiveram suas ações minimiza-das no julgamento: "Como os aliados bombardearam muito mais do que o Eixo, esses bombardeios foram retirados da categoria de crimes de guerra". Crítico contumaz da "doutrina Bush", Chomski afirma que os pretextos para a invasão do Iraque "não são mais convincentes que os de Hitler".


Na mesma linha, chega às livrarias no fim do mês "Insegurança Total - O Mito da Onipotência Americana", da jornalista Carol Brightman, que compara a invasão do Iraque à participação dos Estados Unidos no Vietnã. Para Brightman, o poder ilimitado, a corrupção corporativa e a vulnerabilidade política são marcas do governo Bush. No livro, ela analisa as maneiras pelas quais a obsessão pós-11 de setembro com segurança deflagrou uma economia de guerra planejada por estrategistas conservadores. Carol Brightman adverte para a ascensão do nacionalismo iraquiano - que teria sido fomentada pela ação dos Estados Unidos naquele país -, enquanto aponta a relação próxima entre indústria, governo e militares, e adverte para o perigo da contratação de mercenários como empregados de indústrias que estão no Iraque.


Outro lançamento da Record é "Crônicas da Era Bush: O que Ouvi sobre o Iraque", do renomado ensaísta e crítico literário americano Eliot Weinberger. Organizado cronologicamente, o livro traz textos escritos no dia seguinte aos atentados, três semanas depois, um mês mais tarde, até chegar a completar um ano e meio após os ataques. Originalmente publicada na revista "London Review of Books", a aclamada crônica "O que Ouvi sobre o Iraque" traz notícias a respeito do Iraque e de Saddam Hussein a partir de 1992, quando os Estados Unidos se congratulam por não haverem tomado o governo durante a Guerra do Golfo. As modificações no discurso oficial que deveria legitimar a invasão do Iraque perante o mundo são mostradas sem qualquer consideração pessoal por Weinberger, que fez uma nova versão da crônica em 2005.


No início de setembro, a Zahar lança "Poder, Terror, Paz e Guerra", uma visão sobre as relações externas dos Estados Unidos depois dos atentados de cinco anos atrás. O autor, Walter Russell Mead, propõe que Bush modifique sua posição em relação aos conflitos entre Israel e os palestinos, e que procure formas para reconquistar o apoio da população dentro dos Estados Unidos.

Valor Econômico - Livros (2006)

Filão "light business" vende quase 1 milhão em 2005
Por Olga de Mello, para o Valor
19/01/2006





Por décadas, "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas", do americano Dale Carnegie, reinou absoluto em livrarias e pontos de venda do mundo inteiro como o único título de auto-ajuda existente e reconhecido como tal. Publicado em 1937, o best-seller que vendeu mais de 50 milhões de exemplares só veio a enfrentar concorrência direta nos anos 80, quando aconteceu o boom da auto-ajuda. Enquanto os livros do gênero conquistavam espaços privilegiados nas vitrines de livrarias, variações dentro do próprio nicho começavam a se destacar. Ao lado de títulos que indicam como melhorar sua vida pessoal, o chamado "light business" - que enfoca o universo corporativo, mas não se enquadra no segmento de livros técnicos - é um dos que mais cresce e mantém títulos por anos na lista de mais vendidos.


A estimativa da Câmara Brasileira do Livro é de que dos 600 títulos de auto-ajuda lançados no país em 2005 - que venderam em torno de três milhões de exemplares -, 30% sejam de "light business". O crescimento de vendas em auto-ajuda, de acordo com a entidade, pode chegar a 10% ao ano, na última década. No caso específico do "light business", as editoras só têm o que comemorar. Além das vendas avulsas, costumam ser procuradas por empresas que compram grandes partidas de livros para distribuir aos funcionários.


O sucesso do setor indica que os investimentos em "light business" tendem a aumentar, acredita Sérgio Machado, presidente do grupo Record, que tem uma editora dedicada a tais lançamentos - a Best Seller, que em agosto passado publicou uma edição comemorativa pelos 15 anos de "Os Sete Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes", de Stephen Covey (15 milhões de exemplares vendidos no mundo). Dos 38 lançamentos da Best Seller em 2005, 11 eram motivacionais e 10 sobre negócios.


A longevidade de permanência desses livros no mercado atesta o sucesso do segmento. Como explica Sérgio Machado, o desempenho dos livros de "light business" é totalmente diferente da trajetória dos livros de ficção. "As vendas não são vinculadas a lançamento ou a resenhas em seções de literatura de revistas ou jornais, mas sim a propaganda boca-a-boca entre os leitores, que procuram aperfeiçoamento profissional ou pessoal por meio dessa leitura."


No grupo Record, os livros motivacionais e de "light business" corresponderam a 10% dos 485 títulos lançados em 2005. O maior sucesso do grupo é "Quem Mexeu no meu Queijo?", de Spencer Johnson, de 1988, que já vendeu 1 milhão de livros no Brasil. A primeira incursão no setor foi na década de 70, com "O Maior Vendedor do Mundo", de Og Mandino. Machado diz que o grupo começou a investir em títulos "light business" em 1983, a partir do lançamento de "O Gerente Minuto", de Ken Blanchard e Spencer Johnson. No primeiro trimestre de 2006, a Best Seller têm quatro novos títulos no mercado, entre eles "Vida em Ação", do fundador da Starmedia, o uruguaio Fernando Espuelas.


"O exemplo de vida desses autores, geralmente pessoas com carreiras sólidas no mundo corporativo, e sua forma direta de explicar métodos de investimentos, interessam ao leitor comum, aquele que não tem tempo nem recursos para fazer um MBA. O mais interessante no fenômeno é que esses livros, desprezados pelos eruditos, começam a ser utilizados nesses MBAs", diz Sérgio Machado.


Os editores se ressentem com a indiferença da crítica especializada com o segmento, embora alguns títulos como "Blink", do jornalista britânico Malcolm Gladwell (Rocco), recebam tratamento diferenciado na imprensa, mesmo que o tema aborde as decisões no mundo corporativo. "Sempre tivemos excelentes títulos na área de educação e negócios. 'Blink' é um exemplo, e com certeza vamos continuar lançando títulos do gênero", diz o editor Paulo Rocco. Marcos Pereira, editor da Sextante, que credita ao "light business" 20% de suas vendas, também afirma que o investimento no setor não segue apenas a tendência mercadológica.


"A missão da Sextante é publicar livros de reflexão, que contribuam para a vida do leitor. Isso combinado com um momento específico do Brasil, em que a liderança e negociação são parte do cotidiano, levou à resposta do mercado. O país está maduro para esse tipo de tema, o do desafio constante e da liderança servidora. O sucesso de tais publicações é tamanho que elas não se restringem aos departamentos de recursos humanos, mas atraem um público que espera leitura agradável, que acrescente valores e conhecimento", diz.


O grande sucesso atualmente entre os livros mais vendidos no país é "O Monge e o Executivo", de James C. Hunter, que freqüenta a lista de best sellers desde março de 2004, tendo vendido 550 mil exemplares no Brasil. "Até 2007, chegaremos a 1 milhão de volumes vendidos", aposta Pereira.


O conceito de "light business" é amplo para os escritores. Em 2004, a editora Campus/Elsevier lançou "Caminhos e Escolhas", no qual o fundador do grupo Pão-de -Açúcar, Abílio Diniz, fala não apenas sobre a forma de gerenciar suas empresas, mas da necessidade de preparo físico, revelando sua dieta alimentar, exercícios que pratica e como alcança o equilíbrio espiritual. Até agora, foram vendidos 210 mil exemplares e, em março, o livro será lançado nos EUA, assim como dois outros títulos da editora - "Figura de Transição", de Paulo Kretly, e "Três Minutos para o Sucesso", de Ricardo Belino. "Estamos ensinando 'Pai Nosso' ao vigário", brinca o diretor editorial da Campus/Elsevier, Paul Christoph.


O primeiro título da editora nesse segmento foi "Zaap!", que desde a chegada ao mercado, em 1992, vendeu 177 mil exemplares. Em 2005, o segmento de "light business" respondeu por 13% de todos os livros publicados na Campus/Elsevier, representando 16% das vendas gerais. Em três anos, calcula Paul Christoph, o "light business" corresponderá a 18% do catálogo, apesar de nem sempre os resultados alcançados no Brasil seguirem tendências mundiais.


"Não há como prever o comportamento do mercado. 'Paixão de Vencer', do Jack Welsh, vendeu 800 mil exemplares nos EUA. No Brasil, teve desempenho excelente, quase 76 mil livros vendidos, porém bem abaixo do que conseguiu no país original. 'Pai Rico, Pai Pobre', nosso campeão, vendeu 650 mil livros em cinco anos e continua sendo procurado nas livrarias, muito além do que alcançou nos mercados da Inglaterra ou Austrália. Em tese, vendemos 10% do que se obtém no mercado americano, mas isso não é regra", diz Christoph.

Valor Econômico - Livros (2006)

O livro sem ritmo de samba
Por Olga de Mello, para o Valor
17/02/2006




Durante onze dias de março, de 9 a 19, quase um milhão de pessoas percorrerão o pavilhão de exposições do parque Anhembi, em São Paulo, para conhecer os lançamentos que 320 editoras apresentarão ao mercado na 19ª Bienal Internacional do Livro. Não é pouco, num país com baixos índices de leitores e de leitura (menos de dois livros por habitante/ano), embora os próprios organizadores (a Câmara Brasileira do Livro - CBL) e editores reconheçam que o público maior da grande feira não é feito de quem costuma freqüentar livrarias ou bibliotecas, mas, sim, de quem busca um bom programa para a família. De todo modo, o livro encontra na Bienal um espaço de celebração que é, em si mesmo, uma prova de relevância social e cultural, com reflexos também entre as crianças - público sempre numeroso na Bienal, para o qual se destinam atividades especiais, estimuladoras, quem sabe, de futuras idas a livrarias e bibliotecas.


As estatísticas sobre o consumo de livros poderão ser melhores no futuro, a ponto, quem sabe, de reduzir o peso de tiragens acanhadas sobre preços de venda nem sempre compatíveis com a renda do brasileiro médio. Mas esse é apenas um aspecto da questão. O desinteresse pela leitura começaria com a noção de que o livro é um formador de conceitos e não uma fonte de entretenimento, dizem muitos. Há poucas bibliotecas no país, e geralmente seus acervos se restringem a obras de "formação". O baixo número de livrarias completaria o quadro. Comenta-se até, meio a sério, meio de brincadeira, que há mais editoras que pontos de venda - um grau de segmentação que, no entanto, também atestaria a viabilidade do negócio em diferentes formatos.


"O governo tem uma política de fomentar a leitura, mas ainda há um longo caminho a percorrer", diz o vice-presidente de Comunicação da CBL, Marino Lobello. O país tem um território imenso, a distribuição para o interior é escassa. Culturalmente, o livro não faz parte da tradição brasileira. "Entra ano, sai ano, continuamos com um universo de 26 milhões de leitores. A população cresce, mas a proporção não se altera. Provavelmente, são famílias que reproduzem o hábito de ler entre elas mesmas. Aí, surge um fenômeno como 'Harry Potter', que desperta o interesse de novos leitores. No entanto, dificilmente uma biblioteca pública terá um exemplar da série."


Os romances "rosa", que agradam ao público feminino e são vendidos em bancas de jornal, também não chegam às bibliotecas, embora as mulheres sejam maioria entre os leitores brasileiros. De acordo com a pesquisa "Retrato da Leitura no Brasil", de 2001 (mas cujos resultados ainda são considerados de atualidade aceitável pelo setor), seis de cada dez leitores são mulheres, interessadas, sobretudo, por livros religiosos (45%), romances, biografias ou de poesia (26%), de filosofia e psicologia, incluindo auto-ajuda (19%). Os livros religiosos são os que as mulheres mais compram (23%), seguidos por romances (20%), infantis (9%) e auto-ajuda (6%).


AP

"Existe uma falsa noção no Brasil de que as pessoas deveriam nascer lendo Camões. Está na hora de encaramos a leitura com a mesma flexibilidade que o brasileiro tem em relação a novidades na música. Gostar de MPB não exclui o gosto por música erudita", compara Sérgio Machado, presidente do grupo Record, que abriga a Harlequim, uma das campeãs de vendagem de romances nas bancas de jornal. Existe uma evolução natural, como havia, antes, do livro com ilustrações para as histórias-em-quadrinhos e delas para a literatura, avalia Machado. Os gibis ficaram muito caros, se elitizaram perante a concorrência direta com o desenho animado da televisão. Os folhetins românticos ainda são baratos e popularizam o hábito da leitura, sendo consumidos por mulheres de diferentes faixas etárias e níveis sociais. "Por que, então, vamos desprezar essas leitoras? Porque consomem uma literatura que não é recomendada pelos intelectuais?"


Marcos Pereira, editor da Sextante, gostaria de encontrar a fórmula para cativar o público da Bienal. "Quem vai à Bienal é, basicamente, um consumidor. Ainda não descobrimos como transformá-lo em leitor. Todos os anos me espanto com a avidez desses visitantes, que enfrentam engarrafamentos para chegar à exposição, entram em filas imensas para conseguir autógrafos dos autores, acompanham palestras. Só vamos encontrá-lo novamente dali a dois anos", lamenta Pereira.


Um estímulo aqui, outro ali


Levar a Bienal do Livro de São Paulo para o Anhembi é o grande trunfo da CBL para aplacar as críticas de expositores quanto à data escolhida, duas semanas depois do Carnaval. "Tivemos que nos adequar ao calendário do Anhembi", explica Lobello, referindo-se aos desfiles das escolas de samba que se realizam junto do pavilhão de exposições. Na edição passada, a Bienal foi realizada no Centro de Exposições Imigrantes, numa área da cidade com menor facilidade de acesso.


As bienais do Rio e de São Paulo se destacam de outros eventos com livros no mundo por não haver negociação em torno de títulos. O livro é exposto ao público, não para o mercado. No entanto, poucas editoras ficam fora da mostra. "Comercialmente, as bienais não são importantes, mas, institucionalmente, são fundamentais", diz Carlos Augusto Lacerda, editor da Nova Fronteira. A Bienal de São Paulo deve movimentar perto de R$ 20 milhões este ano.


"O livro tornou-se pauta de discussão na imprensa, o que é importantíssimo para o mercado", lembra Sérgio Machado, da Record. De fato, editores e livreiros têm percebido um aumento gradual de interesse da imprensa por assuntos ligados à leitura. "Isso é fundamental para fazer do livro um objeto de desejo do consumidor", comenta Lobello. "Vinte anos atrás, com o fim do regime de Franco, a Espanha investiu em cultura e educação. Atualmente, é um dos países com a economia mais forte da Europa. Estamos anos-luz atrás da Espanha, mas já vemos algumas modificações positivas no mercado, como a internet suprindo a crônica escassez de livrarias fora dos grandes centros brasileiros", acrescenta. "E existe uma vontade grande do governo de popularizar o livro, abrindo pequenas bibliotecas, a única maneira de garantir a formação de um público leitor, algo que demora, no mínimo, dez anos para acontecer."


A percepção da leitura como um diferencial na formação profissional é outro dado que os editores têm observado. "Os headhunters privilegiam executivos que tenham alguma cultura geral. A sociedade brasileira passou a valorizar a leitura como não fazia antes. Vivemos dentro de um mundo com mais informação e conhecimento do que nossa capacidade de utilizar tantos dados. Destaca-se quem tem mais vivência, mais raciocínio, mais agilidade, habilidades desenvolvidas pela leitura", acredita Machado.


Enquanto as corporações descobrem as vantagens de contar com funcionários que lêem, o governo brasileiro - que continua sendo o maior comprador de livros do mercado - investe na formação de leitores. No ano passado, o Ministério da Cultura destinou R$ 26 milhões, o maior orçamento de sua história, para a implantação de bibliotecas. A previsão é de que, no primeiro semestre de 2006, a Fundação Biblioteca Nacional terá conseguido reduzir pela metade o déficit de cidades brasileiras sem bibliotecas, que era superior a mil no primeiro ano do atual governo.


Para Galeno Amorim, coordenador do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), cujas diretrizes serão apresentadas durante a Bienal, é essencial que a sociedade tenha "professores que gostem de ler". Sem descartar a importância de campanhas institucionais apoiadas por emissoras de televisão como a TV Globo e a MTV, além do merchandising de leitura em telenovelas e nos intervalos de competições esportivas, Amorim acredita que a ação mais eficaz para gerar leitores é o "corpo-a-corpo" feito por bibliotecários, professores e, especialmente, pela família.


"Como somente um entre cada quatro jovens e adultos brasileiros consegue ler e compreender um livro, o combate ao analfabetismo funcional, como vem fazendo o Ministério da Educação e diversos parceiros, é algo que leva tempo." Mas alguns resultados dessas políticas públicas de leitura surgem mais rápido do que se pensa. Em Ribeirão Preto, por exemplo, houve um esforço concentrado de toda a sociedade e em apenas três anos o índice de leitura saltou de 2 livros lidos por habitante/ano para 9,7, quase o dobro de EUA e Inglaterra e cinco vezes mais do que a média brasileira", conta Amorim.


A pesquisa "Retrato da Leitura do Brasil" aponta que a faixa etária que mais lê no país é de adultos com mais de 40 anos (40%). Outro grande grupo de leitores se concentra entre 20 e 29 anos, enquanto os que têm de 30 a 39 anos correspondem a 20% dos que lêem. Entre 14 e 19 anos estão 18% dos leitores. É grande o número de leitores que têm entre 10 e 11 anos. São estudantes interessados por leitura, mas que, durante a adolescência, vão perdendo o hábito, "o que certamente está relacionado à obrigatoriedade de leitura de certos livros", acredita Amorim.


Este ano, o Brasil receberá dados consolidados sobre a leitura em outros países latino-americanos, que também enfrentam problemas estruturais e o analfabetismo. Alguns, como a Colômbia, têm divulgado um índice de 2,4 livros lidos por habitante. "Quando tivermos base para comparar as estatísticas, verificaremos experiências bem-sucedidas, como a de Cuba", prevê Amorim.


Ficção e Bíblia na ponta


Qual gênero literário mais vende no Brasil? Como descobrir o que vai agradar ao leitor? Embora a primeira pergunta tenha uma resposta objetiva, a segunda ainda fica envolta em mistério. À parte os livros didáticos, que constituem um segmento próprio no mercado, sem comparação com os demais gêneros, os últimos dados computados pela CBL, em 2003, demonstram que os livros de ficção ainda são os preferidos dos brasileiros, com 12,8 milhões de exemplares oferecidos ao mercado naquele ano. Em segundo lugar vêm 12,175 milhões de exemplares da Bíblia. Caso fossem acrescentados os livros evangélicos (6,9 milhões) e espíritas (5,67 milhões), os volumes de temática religiosa seriam o de maior oferta no mercado brasileiro.


Vistas por gênero diferenciado, as obras evangélicas estão em sexto lugar, enquanto as espíritas ficam em oitavo. Obras de referência e consulta ocupam o terceiro lugar na lista, com 8,9 milhões de exemplares, seguidas pelas publicações sobre legislação e direito (8,4 milhões). Livros de auto-ajuda (4,6 milhões) estão na modesta nona posição, enquanto os de administração e gestão empresarial ficam no último lugar, com 2 milhões, aproximadamente.


O oportunismo pode produzir sucessos editoriais, mas ninguém consegue explicar a razão de livros como "O Monge e o Executivo", de James Hunter, estarem na lista dos mais vendidos há mais de um ano. Nem o editor Marcos Pereira, da Sextante, sabe a razão. "Fazemos apostas, claro. Vamos lançar, este ano, perto da Copa do Mundo, a biografia do Pelé. É mais que certo que vá vender bem. Auto-ajuda é um filão, acreditamos neste segmento, mas não há como prever se o mercado continuará se comportando da mesma maneira. O ano passado foi o melhor ano da Sextante e tudo indica que vamos continuar bem em 2006. Mas só uma mudança radical na economia faria o mercado de livros florescer", acredita.


Lacerda, da Nova Fronteira, comemora o êxito de "O Caçador de Pipas", que em quatro meses vendeu mais de 150 mil exemplares, com o apoio de uma eficiente campanha de marketing que projetou no Brasil o livro de estréia do afegão Khaled Hosseini. "A gente investe, mas é um tiro no escuro. O varejo é uma roleta, com um índice de acerto médio inferior a 10%", diz Lacerda. As vendas para o governo, o maior comprador de livros, são importantes na consolidação do hábito da leitura entre os estudantes: "Não há, porém, como esperar uma melhora no quadro se a leitura continuar sendo vista como uma atividade extradisciplinar pela escola. Ou se encara o livro como um fardo que o aluno deve carregar ou algo que vai complementar seu conhecimento. A leitura precisa ser encarada como uma disciplina própria e o livro precisa perder a pecha de paradidático, o que o desqualifica", afirma o editor.

Alfarrábios

O novo parceiro de Chico Buarque
Olga de Mello
08/06/2001





Documentar a vida real nunca teve mistério para Nelson Pereira dos Santos, que, nos anos 50, fez documentários para Jean Manzon e I. Rozemberg, além de enfocar personagens reais em "Memórias do Cárcere", baseado no livro de Graciliano Ramos. Uma realidade menos dura do que a dos nordestinos de "Vidas Secas", outra obra de Graciliano que Nelson filmou, é seu próximo trabalho. Dentro das comemorações pelo centenário de Sérgio Buarque de Hollanda, ele dirige um documentário para o Canal GNT, contando, desde já, com pelo menos seis parceiros para o roteiro: os filhos do historiador, entre eles Miúcha e Chico.


Animado com a perspectiva de se tornar parceiro do mais festejado compositor brasileiro, Nelson explica que precisa da colaboração dele e dos irmãos menos ilustres do historiador, que só conheceu socialmente. "Preciso do apoio de todos eles. Quero contar a história de Sérgio a partir da ótica dos filhos e da viúva, Maria Amélia, com os quais esse professor desenvolveu uma relação muito bonita. A Miúcha será a primeira a trabalhar no roteiro", revela Nelson, autor de um documentário sobre Gilberto Freyre, também para o GNT.


"Gosto do espaço que esses canais fechados dão para o documentário. E me interessei em recordar a vida desses homens que, através de uma visão científica, quiseram explicar o Brasil. Eles são os grandes explicadores do Brasil. Até hoje conseguimos entender um pouco deste país graças aos estudos deles", acredita o cineasta, que não tem dificuldade em trabalhar para a TV.


"Já havia feito programa de TV. A diferença de veículo é pequena. Fazer um filme é como escrever um livro. Já televisão é como escrever em redação de jornal: o processo de criação obedece a prazo mais severo, delimitações de data. Não sou capaz de viver sempre sob pressão. No entanto, esse tipo de documentário é um trabalho mais livre e que dá oportunidade de nos debruçarmos sobre o pensamento de homens tão importantes para o país", diz.


Apesar disso, Nelson diz não ter planos de fazer um terceiro documentário sobre outros "explicadores" em seguida a esse filme, que deverá ficar pronto no início de 2002: "Quero voltar à ficção."

Alfarrábios

Matéria encontrada em site do Valor, do início do século, quando globalização era palavra que estava entrando em moda...

Globalização é o atual jargão, diz Sundaram
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
23/05/2001





Ninguém mais fala em imperialismo, o jargão do momento é a globalização, lamenta um dos mais respeitados economistas da atualidade, Jomo Kwame Sundaram. Aos 48 anos, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade da Malásia, Sundaram rejeita a alcunha de profeta da crise em que mergulharam os países asiáticos em 1997. "Houve apenas uma coincidência. Escrevera um livro analisando os fatos que levavam à compreensão do momento econômico, afirmando que no modelo adotado na Malásia, os interesses financeiros suplantavam os interesses industriais. O livro saiu no dia 2 de julho; a crise foi no dia 3. A partir daí, disseram que eu previra a crise, mas apenas tentava explicar os fatores econômicos que estávamos vivendo", diz, em sua quarta visita ao Brasil, onde veio participar do "7º Seminário da Agenda do Milênio", promovido pela Unesco e pela Universidade Cândido Mendes e que será encerrado hoje.


O Brasil foi uma escala dentro da peregrinação por diversos países, onde ele vem se encontrando com economistas para a implantação da Associação Internacional de Desenvolvimento Econômico, cuja sigla em inglês é Idea (idéia), organização não-governamental que deverá ter sede em Deli, na Índia. Ainda não há brasileiros na futura ONG. "Temos muitos asiáticos e africanos, alguns chilenos. Provavelmente haverá brasileiros no grupo", diz Jomo Sundaram, que admite sentir-se intrigado pelo forte sentimento de nacionalismo que observa no Brasil.


Vindo do México e estando a caminho de Buenos Aires, Sundaram não se considera um expert em países latino-americanos, embora tenha vivido dois anos no Chile, onde passava por brasileiro, "devido à altura e ao castelhano carregadíssimo que falava". É capaz de discorrer sobre "Identidade e Diferença na Era Global", tema do sétimo encontro da Agenda do Milênio. "Há tantas diferenças que não podemos aceitar generalizações sobre qualquer continente ou parte do planeta. Antes da noção de globalização, falava-se em imperialismo. É uma palavra em desuso, que parece ter sido eliminada da realidade". Sobre o Brasil, afirma pouco saber, embora demonstre bastante conhecimento. Sua última visita foi em 1994, logo após a implantação do Plano Real. Lembra que houve muitas modificações no aspecto econômico, mas que o abismo social permaneceu imenso, por razões que não tem como avaliar.


"O Brasil é muito diferente do restante da América Latina. Em termos de igualdade social, está muito abaixo de boa parte do mundo. No entanto, existe uma igualdade cultural e racial que não se encontra em outros lugares", acredita o economista, que em uma das vezes em que esteve no Rio, foi a uma favela, para uma roda de samba. "Sei que atualmente não é possível fazer este tipo de programa. Embora a violência não seja tão grave em outros locais, nenhum branco iria hoje ao Harlem para passear com turistas da Malásia. Quando o Bill Clinton montou escritório no Harlem, causou espanto".


E continua: "No Brasil é realmente diferente. Em nenhum outro país latino americano o presidente diria que tem o pé na cozinha. Não posso defender nem negar o mito da democracia cultural e racial, mas algo diferente acontece no Brasil. Existe um orgulho intenso pela liderança em campos diversos. Seja no excelente parque tecnológico de São Paulo, seja no fervor devotado ao esporte pelos torcedores de futebol, que estão em todas as classes sociais", diz Sundaram.


O amor ao futebol foi observado pelo economista em uma de suas primeiras viagens ao Brasil. Reparou que muitos torcedores procuravam o então presidente da República, Emílio Garrastazu Medici, na tribuna de honra. "Mesmo que fosse um traço populista, aquele presidente era conhecido por gostar de futebol, o que o igualava à população. Os aspectos culturais podem determinar as diferenças de comportamento econômico. Além de falar outro idioma, o Brasil não vivenciou a fuga de capital da mesma maneira que outros países latino-americanos. Também teve um desenvolvimento tecnológico maior, enquanto produz uma cultura diferenciada do restante da América", acha Sudaram.


Outro diferencial que destaca é que, ao contrário dos vizinhos da América espanhola, os brasileiros não têm a mesma visão que os demais latino-americanos em relação aos colonizadores. "O brasileiro não se identifica com o indígena. Os espanhóis construíram catedrais sobre os templos astecas e incas. No Brasil, os nativos tinham culturas nômades. Os índios brasileiros foram praticamente dizimados pelos brancos e até hoje são considerados um povo à parte dentro do país. Então, não há como aceitar uma noção única de América Latina " .

Valor Econômico - Suplemento Empresa e Comunidade

Muita conversa promove o conceito de qualidade de vida
Olga de Mello
23/08/2007





Incentivar o desenvolvimento sustentável, estimulando as ações de responsabilidade social e a proteção do meio ambiente por meio da unificação de procedimentos de gestão da rede de fornecedores. Esta foi a meta com que a Petrobras criou, em 2006, o Programa Parceria Responsável, que hoje conta com a participação de 117 empresas, todas prestadoras de serviço ou fornecedoras de maquinário e equipamentos para companhia. Com a iniciativa, a estatal debate com fornecedores e ajuda a implementar nas empresas parceiras programas de qualidade de vida, de redução da rotatividade da mão-de-obra, capacitação de empregados e redução de resíduos nas unidades.


Desenvolvido pela área de negócios do abastecimento da estatal - responsável pelas operações comerciais de petróleo e derivados, produtos petroquímicos, álcool e fertilizantes - o programa visa também ao fortalecimento da integração com fornecedores e clientes, lembra a coordenadora da iniciativa, Sílvia Cristina Moraes Cardoso.


"A Petrobras tem um compromisso com o desenvolvimento sustentável que não se limita à companhia e que pretende envolver todos os que atuam junto com ela. Como é de longe a maior contratadora de serviços do país, está em contato direto com empresas de grande, pequeno e médio portes e, desde 2005, eram analisadas diversas maneiras para atuar com os fornecedores, buscando melhorar a gestão de trabalho", conta Sílvia.






Em março de 2006, 99 fornecedores das áreas de manutenção, SMS (Segurança, meio Ambiente e Saúde), transportes e alimentação, cujos contratos estavam em vigor, foram apresentados ao programa. Deles, 84 imediatamente aderiram à proposta, que incluía visitas mensais às empresas de especialistas da Petrobras, que dariam consultoria com vistas à adequação de normas de segurança no trabalho, responsabilidade ambiental e saúde já aplicadas.


"A Petrobras já tinha programas para melhoria de relacionamento com fornecedores, porém decidiu implantar, pela primeira vez, um plano compreendendo requisitos específicos e metas. A proposta era que os fornecedores passassem a ter no plano uma referência para seus negócios. Muitos deles já obedeciam a modelos de gestão estabelecidos e, mesmo assim, decidiram participar do programa, alguns até temerosos em relação ao custo da adoção desses novos procedimentos. Entre esses fornecedores estavam empresas de estrutura maior, com iniciativas em termos de certificação, como ISO 9001, e outras com sistemas de gestão empresarial incipientes, necessitando de aprimoramento. A maioria percebeu que o investimento que a Petrobras está fazendo com esta iniciativa promove a elevação do padrão da indústria brasileira. Dos 117 que estão atualmente do programa, 85% já haviam participado da primeira etapa, no ano passado, o que demonstra o quanto eles absorveram da filosofia do Parceria Responsável", diz Sílvia Moraes Cardoso.


Entre os itens observados em 2006 estavam o controle dos fornecedores no quesito responsabilidade social, promoção de programas de qualidade de vida, comprometimento da mão-de-obra com os processos, capacitação profissional dos trabalhadores, melhorias ambientais nas unidades produtivas.


O programa determina um prazo de três anos para a implantação das normas preconizadas pela Petrobras. Consultores analisam os processos das empresas, verificando e orientando o que deve ser feito para adequar-se ao modelo proposto, retornando meses depois, quando avaliam a evolução do quadro em face dos procedimentos adotados, além de atribuir pontos pelo desempenho nessa adaptação. Em março deste ano, a Petrobras distribuiu troféus às empresas que se destacaram na implantação dos novos métodos, de acordo com o sistema de pontuação. As vencedoras foram Siemens, Manserv - Montagem e Manutenção, Antroposphera - Instituto para o Desenvolvimento do Meio Ambiente e CSE Mecânica e Instrumentação.


"Os processos estão se ampliando e se aprimorando. Esse interesse comprova o quanto o programa é importante, pois as empresas sabem que não sobreviverão se não tomarem atitudes conseqüentes em face das questões sócio-ambientais que hoje são uma preocupação de todos no planeta", diz Sílvia.

17.8.07

Valor Econômico - Livros


À sombra das estantes
Por Olga de Mello, para o Valor
17/08/2007



A Shakespeare and Company, em Paris: dois livros tratam da lendária livraria, ponto de encontro de escritores do início do século XX e abrigo recente para um jornalista canadense
"Quando tenho algum dinheiro, compro livros; se me sobrar um pouco, compro roupas e comida." Assim o pensador holandês Erasmo de Roterdã (1455-1536) explicava seu amor pelos livros, produtos cujo consumo em larga escala foi iniciado durante sua infância, quando o alemão Johannes Guttemberg, por volta de 1545, criou a primeira prensa. Depois de popularizar-se ao longo dos séculos e enfrentar a era da informática, o livro firma-se cada vez mais como objeto de culto, alcançando o nível de tema literário de sucesso em países onde tradicionalmente a leitura é um luxo para poucos. Apenas no Brasil, quatro títulos estrangeiros freqüentam, simultaneamente, as listas de mais vendidos, seguindo bons desempenhos em outros mercados. Ao lado de dois romances a respeito de crianças que procuram - ou furtam - livros, relatos semijornalísticos sobre livreiros que hospedam escritores vêm conquistando os leitores brasileiros.


Desde seu lançamento há cinco meses, "A Menina Que Roubava Livros" (Intrínseca, 494 págs., R$ 39,90) vendeu 150 mil exemplares e aumentou em 500% o faturamento da editora, revela o presidente da Intrínseca, Jorge Oaquim, que vê no romance um clássico contemporâneo: "Será igual a 'O Mundo de Sofia', um livro para jovens leitores que conquistou os adultos", diz. O público brasileiro também se entusiasmou com "A Sombra do Vento", do espanhol Carlos Ruiz Zafón, (Suma de Letras, 399 págs., R$ 39,90), um fenômeno literário que permaneceu mais de cinco anos na lista de best-sellers na Espanha e vendeu mais de 6,5 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 35 mil no Brasil.


Há 54 semanas "O Livreiro de Cabul" (Record, 316 págs., R$ 42), da jornalista norueguesa Âsne Seierstad permanece nas listas dos mais vendidos, que estão abrindo espaço também para "Um Livro por Dia - Minha Temporada Parisiense na Shakespeare and Company" (Casa da Palavra, 320 págs., R$ 39,90). Irritado com a abordagem de Âsne, a quem hospedou por três meses, sobre a rotina doméstica de sua família, Shah Muhammad Rais escreveu "Eu Sou o Livreiro de Cabul" (Bertrand, 96 págs., R$ 26,00), com outra versão sobre o modo de vida no país de maioria muçulmana, arrasado pela guerra.


Em "Um Livro por Dia", o jornalista canadense Jeremy Mercer trata com humor a falta de higiene e a desorganização administrativa da Shakespeare and Company, onde viveu a convite do excêntrico livreiro George Whitman. Há cerca de 20 anos, outro livreiro, o britânico Frank Doer, foi imortalizado pela escritora americana Helene Hanff. Durante décadas, eles mantiveram uma intensa correspondência descrita no livro "84 Charing Cross Road", mais conhecido no Brasil depois do filme "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei", com Anne Bancroft e Anthony Hopkins.


Não é raro encontrar apaixonados por livros protagonizando tramas ficcionais que, por vezes, pouco têm de eruditas. O escritor de policiais John Dunning criou um detetive especialista em obras raras. A resistência ao obscurantismo está tanto no clássico "Farenheit 451", de Ray Bradbury, em que bombeiros incineram livros, que passam a ser memorizados para que não se perca a cultura, quanto em "Balzac e a Costureirinha Chinesa" - que a Alfaguara relança em setembro (R$ 28,90). Este mostra dois rapazes desafiando o regime maoísta ao ler uma mala repleta de obras clássicas ocidentais, consideradas subversivas pelo governo.


O protagonista de "A Confissão", (Rocco, R$ 31), de Flávio Rodrigues, valoriza os livros porque tira deles seu sustento: ladrão, rouba volumes que revende em sebos. Livreiros e livrarias estão em "A Décima Terceira História" (Record, 420 págs., R$ 50,00), o romance gótico da inglesa Diane Setterfield que ficou semanas na lista dos mais vendidos do "The New York Times", e em "Desvarios no Brooklyn" (Companhia das Letras, 328 págs., R$ 49,50), de Paul Auster.


"Nada mais natural que a literatura aproveite como ambiente o palco do encontro entre o leitor e o livro", diz Rui Campos, um dos sócios da Livraria da Travessa, que determinou um espaço exclusivo para livros sobre bibliofilia. Laura Gasparian, da Livraria Argumento, acha que o livreiro merece ser imortalizado na pele de astros do cinema como Hugh Grant ("Notting Hill") ou Johnny Depp ("O Último Portal", de Roman Polanski, baseado na novela "O Club Dumas", de Artur Pérez-Reverte): "É uma profissão muito charmosa, porque vende o conhecimento."


"É uma satisfação perceber o crescimento de títulos sobre bibliofilia no Brasil, embora não esteja surgindo um nicho nem um filão. Antes, nem tínhamos concorrência", brinca Martha Ribas, gerente-editorial da Casa da Palavra, que tem 18% de seu catálogo dedicado ao gênero. O primeiro lançamento da editora, "O Bibliófilo Aprendiz", de Rubens Borba de Moraes (207 págs., R$ 32,00), continua em catálogo. O maior sucesso, "A Paixão pelos Livros" (152 págs., R$ 32,00) está na quinta reimpressão. Junto com "Um Livro por Dia", a Casa da Palavra relançou "Shakespeare and Company, uma Livraria na Paris do Entre-Guerras" (272 págs., R$ 42,00), a autobiografia da livreira Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare and Company original. "Conseguimos transformar uma paixão em negócio lucrativo, com uma excelente receptividade", afirma Martha.


Em 2005, o Atelier Editorial lançou "Philobiblon" (181 págs., R$ 27,00), o primeiro livro sobre bibliofilia, escrito pelo inglês Richard de Bury em 1344. As vendas foram modestas, mas o editor Plínio Martins Filho não desanima. "É importante termos esses títulos disponíveis, mesmo com um público pequeno", acredita, informando que ainda este ano o conto "O Inferno do Bibliófilo", do francês Charles Asselineau, será o segundo volume da coleção O Prazer de Ler, iniciada com "Philobiblon".


A exemplo de Virginia Woolf, para quem "ler sistematicamente com o objetivo de tornar-se um especialista ou uma autoridade" poderia matar "a paixão mais humana pela leitura pura e desinteressada", o mais renomado bibliófilo brasileiro, José Mindlin, acha que a formação deve ser mais conseqüência que objetivo do leitor: "Não se pode pensar em educação sem leitura, mas só é inoculado pelo vírus da leitura quem obtém prazer nela. O refinamento vem aos poucos", diz Mindlin, um entusiasta das bibliotecas populares que têm sido montadas em garagens de diversas cidades do Brasil, sem registro formal nem catálogo das obras. Iniciativas que merecem elogio semelhante do argentino Alberto Maguel, em "A Biblioteca, à Noite" (Companhia das Letras, 301 págs., R$ 47,00), em que destaca o esforço do governo colombiano, que criou um sistema dinâmico de bibliotecas itinerantes que alcança locais inacessíveis por automóveis usando os biblioburros - sacolas com livros carregadas em lombos de burros.

16.8.07

Valor Econômico - Livros

Vira moda doar direitos a instituições beneficentes
Por Olga de Mello, para o Valor,
16/08/2007


A responsabilidade social está em alta no mercado literário brasileiro. O movimento tímido, que começou a ganhar vigor nos últimos seis meses, é fruto de iniciativas isoladas de alguns autores, que têm destinado os direitos de livros a organizações não-governamentais (ONGs), sem temer as acusações de estarem investindo em marketing pessoal ou para suas empresas.


"Mais importante do que as quantias arrecadadas é a exposição que essas causas obtêm e os voluntários que elas vão atrair sempre que forem lembradas. Ser cidadão não é só pagar impostos, mas atingir os setores que o Estado não alcança completamente ", observa o advogado Francisco Müssnich, que doou os direitos de "Cartas a um Jovem Advogado" (Campus/Elsevier, R$ 33) ao Comitê de Democratização da Informática (CDI).


A tendência é que tais ações se multipliquem até pela própria natureza solidária do brasileiro, aposta o especialista em marketing Augusto Nascimento, que acaba de lançar "Gestão de Marketing e Branding com os 4 Es" (Campus/Elsevier, R$ 39,80), escrito em parceria com o americano Robert Lauterborn. Uma segunda edição do livro já está sendo rodada, pois a primeira se esgotou em cinco dias. Os direitos autorais serão encaminhados ao Sítio Agar, uma instituição que cuida de crianças soropositivas em Cajamar (SP).



"Esse tipo de ação vai se disseminar no Brasil até porque o executivo e o CEO de hoje não visam apenas ao trabalho e ao sucesso", diz Nascimento. "Essa mentalidade está se modificando. Há dez anos, o trabalho era voltado para a promoção e o produto. Hoje, as pessoas que vão receber aquele produto são o alvo das campanhas. Chegou a hora de pararmos de ignorar problemas que o governo não tem como resolver sozinho."


Nascimento se interessou em dar visibilidade ao projeto desenvolvido no Sítio Agar depois da morte de um parente em decorrência da aids. "São 60 crianças sem família próxima, recebendo cuidados médicos e educação. Se o livro for um sucesso, a quantia não vai acabar com as necessidades da instituição, mas vai ajudar muito."


Marian Zahar, diretora-executiva da Jorge Zahar, quer fiscalizar a aplicação dos recursos junto ao beneficiário. "Até para participarmos mais ativamente desse processo, queremos acompanhar de perto o que acontece com o dinheiro. Sabemos que dificilmente essas instituições vão ganhar fortunas, ninguém está cedendo direitos de um best-seller do calibre do 'Código Da Vinci'. É importante que todos os procedimentos sejam executados de forma transparente", diz.


Mariana vai solicitar relatórios sobre o uso das quantias que forem enviadas ao Instituto Pró-Saber, que receberá os direitos autorais de "A Economia em Pessoa", uma coletânea de textos sobre economia do poeta Fernando Pessoa, organizada pelo economista Gustavo Franco, lançado anteontem em São Paulo.


"A trajetória comercial do livro deverá ser modesta, mas nem por isso deixa de ser significativa a contribuição com uma instituição importante, dedicada ao treinamento e aperfeiçoamento de professores de ensino fundamental e pessoal que trabalha em creches", comenta Franco, ex-presidente do BC.


"A Economia em Pessoa" teve uma primeira edição patrocinada, "com pequeníssima comercialização e a maioria dos volumes foi presente para clientes", conta. Como houve interesse por uma segunda edição, Franco decidiu lançar uma tiragem comercial, mas preferiu destinar a receita para o Pró-Saber, "levando-o a ser associado à figura do poeta, que teve uma vida empresarial ativa, bem distinta da persona do escritor romântico", diz.


O economista já está preparando um outro livro do gênero, com crônicas de Machado de Assis - cujo centenário de morte será lembrado no ano que vem - sobre o panorama econômico de sua época, que deverá ter seus direitos também cedidos a uma ONG.


Para Robert Lauterborn, as ações de responsabilidade social sempre contam positivamente para a imagem das empresas. Ele ressalva que, no entanto, contribuir para uma causa social é algo muito maior do que marketing. "Todos os esforços pela melhoria das condições de vida no planeta precisam ser incentivados. Não se concebe mais uma empresa distanciada da realidade em torno dela e que não tenha uma política sustentável."


Müssnich concorda que a responsabilidade social agrega valor às empresas, ressaltando, porém, que boa parte das pessoas que fazem trabalho voluntário não gostam de aparecer. "Não é marketing, é trabalho. Não é autopromoção, mas a consciência de que precisamos participar ativamente da integração de todos na sociedade."


A instituição que mais congrega voluntários no Brasil é o Instituto Nacional de Câncer, um dos favoritos nas doações. Parte do que foi obtido nas vendas de "Claro Como o Dia - Como a Certeza da Morte Mudou Minha Vida" (Nova Fronteira, R$ 24,90), do ex-CEO da KPMG Eugene O'Kelly, foi destinada ao Inca, que a partir de setembro dividirá com o Hospital AC Camargo os direitos autorais de "Sem Medo de Saber" (Sextante, ainda sem preço definido), do advogado carioca Ilam Gorin, que trata do diagnóstico precoce de câncer.


Em janeiro, o criador do Ibest, Marcus Weittreich, determinou a entrega dos direitos autorias do "Manual de Pais e Mães Separados" (Ediouro, R$ 24,90) para o Ajuda Brasil.


No fim de 2006, Alexandre Pavan decidiu distribuir 1.100 exemplares da sua biografia de Hermínio Bello de Carvalho, "Timoneiro" (Casa da Palavra, R$ 30) a bibliotecas e escolas de música do país. Agora, emprega os direitos autorais para custear algumas despesas de seu novo projeto, a digitalização dos arquivos de Hermínio. "O livro era patrocinado, minha pesquisa foi subvencionada, nada mais justo que eu utilize a receita na continuidade do projeto. É difícil alguém ficar rico escrevendo livro no Brasil mesmo. A gente escreve porque é necessário", afirma.