6.12.10

Diário do Nordeste - Violência no Rio

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
O fim da guerra e a retomada da esperança
05/12/2010

Em novembro de 1988, os moradores de Ipanema conheceram a barbárie. No asfalto da Rua Barão da Torre, onde fui criada, jazia a cabeça de um homem, atirada do alto do Morro do Cantagalo. O decapitado era imposto como símbolo do poderio dos déspotas que controlavam as favelas cariocas.
Como boa parte da população, sempre tive a favela como vizinha. Por mais de 40 anos convivi com o Cantagalo. Meus pais, moradores de Ipanema, jamais temeram o propagado dia em que "aquela gente" da favela tomaria a cidade. Porque, para nós, "aquela gente" eram trabalhadores honestos que moravam encarapitados em casebres, sobrevivendo sob o olhar desconfiado das elites. "Aquela gente" tivera que se submeter às ordens de criminosos pelo descaso absoluto das autoridades constituídas.
A partir da década de 80, a banalização da violência cresceu, aterrorizando os moradores das favelas e amedrontando os "do asfalto", que desviavam o rosto, como se faz em relação a mendigos e aos meninos de rua do Rio.
Tomadas de favelas por forças policiais assisti a muitas, sempre após batalhas entre grupos de bandidos. Os policiais entravam para solucionar crises, montavam postos de guarda no alto dos morros ou em praças no centro do aglomerado de casas, quando a favela era horizontal. E os moradores se rendiam tanto ao temor e às ordens dos criminosos quanto à truculência da Polícia. Casas eram invadidas por traficantes, portas arrombadas por policiais. Chega um momento em que todos preferimos a ignorância das estatísticas para não sofrer mais ainda. A implantação das UPPs em algumas comunidades foi encarada com ceticismo por boa parte dos cariocas. Os traficantes eram alertados pelo governo e abandonavam a região, que tinha imediata valorização imobiliária - o que contribuiu para a aprovação das medidas pelas classes média e alta. A venda de drogas nesses locais continuava, discretamente, sem a exibição de armas.
Outros negócios movimentados pelos traficantes e pelas milícias foram impedidos pela chegada das UPPs. A reação do tráfico era aguardada. Quando ela aconteceu, há duas semanas, imaginava-se a total desmoralização da política de ocupação. Mas isso não aconteceu. A diferença da recuperação do conjunto de favelas do Alemão para as ações anteriores é que, além do apoio das Forças Armadas, esta contou com o aplauso de quase 90% da população do Rio. Ela foi saudada não apenas por quem vive na linha de tiro, mas também pelos que se protegem em grades e vidros blindados. O momento é de euforia e expectativa, apesar de alguns ainda desacreditarem na ordem. Os cariocas, que insistem em amar seus cantos sofridos apesar das tragédias diárias, quer ter o direito de confiar no Estado e na Polícia. Espera-se para breve novas batalhas pela retomada dos muitos territórios onde os bandidos se aquartelaram. Ninguém pode prever o que acontecerá. Porque, definitivamente, alguma coisa mudou na praça de nossa guerra urbana de cada dia.

Olga de Moura Mello
Jornalista

Diário do Nordeste - Chuvas no Rio em 2009


Outra das antigas, com foto do Angelo Antonio Duarte, feita no Jardim Botânico

SEM CONDUÇÃO
Moradores sofrem para chegar às suas casas

OLGA DE MELLO

DO RIO DE JANEIRO

Dormir no carro, no ônibus, na casa de conhecidos ou caminhar pelas ruas inundadas com água até o joelho. Para muitos cariocas, a tempestade que desabou sobre a cidade na noite de segunda-feira não chegou a surpreender. "A diferença é que alagou tudo", observou o porteiro Cosmo Sampaio, que levou seis horas do trabalho, em Botafogo, até sua casa, em Bonsucesso, um trajeto que cumpre, geralmente, em 40 minutos.

A cada década, cai uma chuva pesada sobre o Rio de Janeiro, geralmente no verão ou na mudança da estação para o outono. Com os temporais, vêm enchentes, deslizamentos e muitas mortes. Depois de 15 horas ininterruptas, na manhã de terça-feira, boa parte dos cariocas atendeu aos apelos das autoridades, permanecendo em casa. Mas Cosmo nem chegou a ouvir as recomendações da Prefeitura. "Saí às 5h30m e, mesmo assim, ainda havia tanta água no caminho que demorei pelo menos três horas na condução".

A psicóloga Giselle Barbosa só chegou em casa, na Zona Sul, às 10h30 de terça-feira. Na véspera, participara de uma reunião em Madureira e à noite concluiu que não conseguiria sair da Zona Norte.

A funcionária pública Ana Machado, que passou a Páscoa com a família em São Paulo, quase teve que pernoitar no Aeroporto do Galeão devido à falta de condução. "Foi um caos. Não havia ônibus nem táxis. Aproveitando a situação, muitos taxistas cobravam até R$ 100", informou a funcionária pública.

Diário do Nordeste - Cidade

Esta é antiga, mas só agora é que vi publicada no Diário do Nordeste de 26 de setembro de 2009
Originalmente, foi escrita pro Tamoio Notícias

Feira de São Cristóvão ganha estátua do santo


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SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO teve tom festivo, com apresentação de bumba-meu-boi e repentistas, além da bênção do padre José Honorato da Cunha
DIVULGAÇÃO

26/9/2009

Agora, dois símbolos do Nordeste estão nas entradas da feira: Padre Cícero e Luiz Gonzaga, recepcionando visitantes

Rio de Janeiro. O maior ponto de encontro dos nordestinos no Rio de Janeiro já tem seu cantinho místico. Uma estátua com a imagem do Padre Cícero foi instalada, ontem, na entrada 2 do Pavilhão de São Cristóvão. Um presente da Rádio Tamoio 900 AM Khz - filiada do Grupo Edson Queiroz - pelos 64 anos da Feira de São Cristóvão.

"Isso aqui vai virar um santuário, um ponto de romeiros. Essa era uma reivindicação antiga da feira, que agora homenageia, em seus portões de entrada, dois símbolos do Nordeste: o músico Luiz Gonzaga e o Padre Cícero", disse o presidente da Feira de São Cristóvão, Alex Araújo. Ele agradeceu o apoio de todas as empresas do Grupo Edson Queiroz, com destaque para a Rádio Tamoio, representada na solenidade por Robson Barbosa, do Departamento de Publicidade.

A inauguração da estátua foi festiva, com apresentação de bumba-meu-boi e repentistas, além da bênção do padre José Honorato da Cunha. "A presença de Padre Cícero diante da feira é uma chamada para vivenciarmos seus ensinamentos, imitar sua dedicação e amor a Cristo. O Padre Cícero deixou obras importantes que devemos levar adiante", disse o sacerdote.

A área em torno do Pavilhão de São Cristóvão começou a ser tomada por vendedores de alimentos e produtos nordestinos há 64 anos, quando ônibus que vinham do Nordeste faziam o ponto final naquela região. A chegada dos migrantes era saudada com música, o que dava um aspecto festivo à feira, que, em 2005, foi abrigada no interior do Pavilhão, que se chama Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.

O gerente do Centro, Marcos Lucenna, lembrou que a estátua do Padre Cícero era uma antiga reivindicação dos feirantes. "Reverenciar Padre Cícero é comum a todos os nordestinos, pois o homem foi alçado à condição de santo em vida pelas massas oprimidas do Nordeste. A estátua é uma doação carinhosa do Grupo Edson Queiroz, através da Rádio Tamoio, cuja programação voltada para a comunidade nordestina no Rio contribui para que essa cultura sobreviva", comentou Lucenna.

Também compareceram à cerimônia Carlos Fernando Andrade, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro, e Mônica Costa, assessora de Patrimônio Imaterial da Instituição. Há oito meses, a Associação de Feirantes pediu o registro da Feira de São Cristóvão como Patrimônio Cultural Imaterial. "Estamos na segunda etapa de análise de documentação dessa manifestação ", disse Carlos Fernando Andrade.

Confeccionada em madeira por artesãos do Cariri, a estátua, de 1,60m, foi encomendada em Juazeiro do Norte pelo Grupo Edson Queiroz há cerca de 50 dias. "Quisemos atender a um pedido da Associação de Feirantes do Pavilhão, que já tinha homenageado o ídolo Luiz Gonzaga com outra estátua. A música de Luiz Gonzaga e a fé no Padre Cícero são naturais do povo do Nordeste. Quando estivemos na Feira para mostrar o Tamoio Notícias, um veículo que veio dar visibilidade maior à Rádio Tamoio, e divulgar entre os que vieram do Nordeste os casos de nordestinos valorosos e bem-sucedidos no Rio de Janeiro, ouvimos essa solicitação dos lojistas. Como o Pavilhão é âncora para os nordestinos que vivem no Rio, consideramos esse pleito com um carinho imenso", contou o diretor comercial do Diário do Nordeste e do Tamoio Notícias, Francisco José Ribeiro.

OLGA DE MOURA MELLO
ESPECIAL PARA CIDADE