3.7.08

Valor Econômico - Livros

"Os EUA sofrem de uma crise intelectual", diz autor
Olga de Mello, para o Valor, do Rio
03/07/2008


Divulgação
Michael R. LeGault: crise resulta de um declínio no pensamento lógico


Uma sociedade imediatista, sem tempo nem paciência para a leitura, está fadada a perder sua liderança socioeconômica no cenário mundial. Para o americano Michael R. LeGault, autor de "Think! Por Que não Tomar Decisões num Piscar de Olhos" (Best Seller, R$ 29,90), o declínio do pensamento crítico é fenômeno mundial que ameaça a posição conquistada pelos Estados Unidos internacionalmente, mas deve ser considerado em qualquer país. "A Europa não é governada pela razão, mas pelos interesses no bem-estar social. Os EUA ao menos reconhecem que são controlados por advogados, pela mídia, por interesses de mercado e pelo pensamento politicamente correto, não pelo raciocínio crítico, enquanto a Europa vive em negação. Os europeus consideram a Europa perfeita", disse LeGault, em entrevista ao Valor.
Propositalmente, o título "Think!" remete a "Blink, a Decisão num Piscar de Olhos" (Rocco), do inglês Malcom Gladwell, que apresenta estudos científicos sobre percepção e intuição humanas, um sucesso entre leitores do mundo corporativo. "Escrevi o livro por acreditar que os EUA sofrem de uma crise intelectual que está ameaçando nosso trabalho, nossa segurança e nossa liberdade. A crise resulta de um declínio no pensamento lógico e da valorização do pensamento emocional e intuitivo, das decisões rápidas, uma abordagem privilegiada por Glawell", afirma LeGault.


Formado em biologia, com especialização em química, ele já fez consultoria para empresas e escreve sobre tecnologia e ciência em várias publicações dos EUA e Canadá. Ressaltando a importância do conhecimento nessas áreas, ele acredita que os efeitos da valorização tecnológica têm prejudicado o próprio meio científico: "As pessoas precisam ter contato com arte, literatura e filosofia, compreender como a alegoria e o simbolismo são essenciais para o pensamento abstrato. No mundo todo se verifica uma redução na leitura, principalmente entre jovens."


De acordo com LeGault, ler é uma das chaves para a inovação e a criatividade, que não são estimuladas pelos videogames. "As pessoas perdem muito tempo diante da TV e navegando pela internet, embora atualmente se trabalhe bem menos do que há cem anos. Ao mesmo tempo, o estresse causado pelo excesso de informação é um dos fatores que prejudica tanto o desempenho quanto o pensamento lógico", analisa.


A padronização do comportamento de crianças com déficit de atenção ou hiperatividade é duramente atacada por ele no livro. Ainda não há conclusões sobre a melhora do desempenho cognitivo de estudantes que tomam medicamentos para se adequar às atitudes exigidas em sala de aula. O temor de prejudicar as minorias também daria pouca importância ao conhecimento, diz LeGault. Ele lembra que os questionários para candidatos a vagas em empregos públicos se detêm em informações sobre gênero, etnia e necessidades especiais, dando menos relevância à qualificação profissional.
"Todas as sociedades modernas estão registrando o declínio no pensamento lógico, a base das grandes civilizações, da Grécia Clássica ao Império Britânico. As crianças nem sequer aprendem tabuada, já que as calculadoras fazem as contas." Segundo LeGault, as empresas no mundo inteiro têm perdido em inovação. Ele conta que o vice-presidente da General Motors, Robert Lutz, credita a pouca criatividade dos jovens engenheiros americanos à ênfase em liderança e gestão de pessoas dentro dos currículos universitários.


"Os EUA são vítimas do próprio sucesso, embora ainda estejam na frente em áreas como a genética, a informática e a medicina", afirma. Para ele, o país tem a função "especial no mundo" de difundir os princípios de democracia e liberdade, inerentes às condições de crescimento econômico: "A liberdade é uma condição indispensável para o pensamento crítico. Não há como melhorar o padrão de vida de uma nação sem um sistema político democrático. A menos que haja abertura política na China, todo o avanço que eles obtiveram vai parar. Nesse contexto, o Brasil está adiante da China."