4.2.11

Valor Econômico - Mercado Editorial

Da crítica ao capitalismo a leves textos de autoajuda
Olga de Mello, para o Valor | Do Rio
25/01/2011

Parece não haver limites para a variada bibliografia de economia e negócios.

Em meados deste ano, o filósofo Zigmunt Bauman, autor de contundentes críticas ao consumismo e ao capitalismo dos tempos atuais, vem ao Brasil para o lançamento de um dos quatro de seus livros que a editora Zahar publica em 2011. Bauman é um dos muitos autores que têm abordado assuntos como economia e filosofia com linguagem acessível a diferentes tipos de leitor. Dirigentes das principais editoras do país acreditam que, ao lado de finanças pessoais, desenvolvimento sustentável e empreendedorismo, a economia ao alcance de todos deverá ser um dos temas dominantes nas vitrines das livrarias este ano.

Desde 1986, a Zahar publicou 21 títulos de Bauman, com 280 mil exemplares vendidos. Há duas semanas, saiu “Bauman sobre Bauman”. Para a editora Cristina Zahar, o filósofo conquistou leitores pela simplicidade de um discurso que alcança todos os públicos. “Há 30 anos começamos a trabalhar livros que pensassem a economia através de um viés bastante amplo. Foi quando publicamos “A História da Riqueza do Homem”, de Leo Huberman. Virou um fenômeno de vendas, como “Capitalismo Global”, de Jeffrey Frieden, lançado em 2008, que acabou sendo adotado por cursos de economia e MBAs. É possível que o mesmo aconteça com “A Prosperidade do Vício”, de Daniel Cohen, que trata da economia através da história. Procuramos títulos que não se destinem apenas aos especialistas em economia.”

A linguagem menos rebuscada para os temas econômicos não ameaça os livros de negócio nem os do chamado “light business”, que continuam à frente dos lucros no segmento. “É impossível dispensar os títulos de autoajuda em negócios”, afirma Sérgio Machado, presidente do grupo editorial Record, o maior do país, que há um ano abriu o selo Bestbusiness, especializado no gênero. Ele lembra que, lançado em 1996, “Quem Mexeu no Meu Queijo”, de Spencer Johnson, já vendeu acima de 1,3 milhão de exemplares, perdendo em vendagem, dentro das editoras do grupo, apenas para “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, que está há mais de 50 anos no mercado.

“Quero publicar livros para um público novo de comerciantes, prestadores de serviços, interessados em conhecer casos de sucesso, em ler biografias de homens de negócios, em empreendedorismo. Para o estudante do MBA, que procura títulos que estejam na fronteira do pensamento de economia e negócios, temos livros da Harvard Business School”, diz Machado.

Marketing social, design e ‘ecobusiness’ devem ser os títulos predominantes nas livrarias por mais alguns anos, acredita Machado, que está em busca de histórias brasileiras de sucesso para publicar, aproveitando o momento de crescimento econômico do país. As trajetórias empresariais de sucesso que registrem inovações em gestão costumam obter boas vendas. Publicado em 2008, “A Cabeça de Steve Jobs” (Agir) vendeu 100 mil exemplares. As trajetórias empresariais de sucesso que registrem inovações em gestão costumam corresponder a boas vendas. Ainda apostando em relatos sobre o sucesso dos “self-made men”, a editora lançou, no início de dezembro, “A Ousadia de Ser Líder”, de Richard Branson, fundador da Virgin Records.

“Esses homens criaram ambientes descontraídos em suas empresas, modificaram a postura dos empregados e obtiveram excelentes resultados. O espírito do jovem empreendedor, hoje, é a base do universo dos negócios”, diz Alexandre Mathias, diretor-executivo da Ediouro Livros, que congrega as editoras Nova Fronteira, Agir e Thomas Nelson.

Especializada em livros técnicos, a Campus-Elsevier é a editora brasileira com maior número de citações em um de seus mais recentes lançamentos, “Os 100 Melhores Livros de Negócios de Todos os Tempos”, uma seleção assinada por Jack Covert e Todd Sattersten. Os autores, os principais executivos do 800-CEO-READ, site de venda de livros de negócios, montaram um guia de obras do segmento, sem restringir-se ao que há de mais recente no mercado. Entre as indicações estão “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, “O Príncipe, de Maquiavel”, e “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin.

“O setor é de altíssimo risco, com uma imensa chance de escolhas erradas, pois os assuntos já estão muito explorados. Um tema do momento é desenvolvimento sustentável. Este ano, lançaremos um livro sobre sustentabilidade assinado pelo príncipe Charles, que provavelmente terá boa aceitação”, observa Igdal Parnes, diretor da Campus-Elsevier.

Um dos candidatos a ser um long-seller da Campus/Elsevier é “Marketing 3.0″, de Philip Kotler, que teve 20 mil exemplares vendidos este ano. “Existe um interesse grande em marketing, em design, em economia comportamental e em finanças pessoais, nicho que surgiu com a estabilidade da moeda. Temos títulos de orientação profissional e também os que apresentam o mundo financeiro ao leitor”, diz Parnes.

Editoras especializadas em economia, administração e negócios, como a Bookman, que fechou 2010 com mais de 100 novos títulos lançados, percebem interesse maior por uma visão humanitária na gestão, estratégia e liderança, ao lado de novos negócios. “Um dos novos clássicos na área é “A Riqueza na Base da Pirâmide”, de C.K. Prahalad, que está na segunda edição, e mostra como grandes empresas vêm ganhando dinheiro oferecendo produtos compatíveis com os consumidores menos favorecidos em países emergentes”, conta Arysinha Affonso, editora de ciências exatas, sociais e aplicadas da Bookman.

Marcus Vinícius Barili, gerente corporativo e editor da Editora Senac-SP, comenta que o empreendedorismo está em alta, seguido pelo desenvolvimento sustentável. Dos 14 livros lançados em 2010 no segmento que abrange administração e negócios, 6 eram focados em meio ambiente. Nos últimos três anos, esta área, que representa 13% das vendas da Senac-SP, registrou um crescimento de 60% em vendas, enquanto a produção de títulos de meio ambiente subiu 96%, diz Barili. “A Natureza como Limite da Economia”, de Andrei Cechin, e “A Economia Socioambiental”, de José Eli da Veiga, concentrados em meio ambiente, com economia e negócios como temas transversais, já tiveram novas edições em menos de um ano.

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