31.8.07

Valor Econômico

As apostas na bienal do Rio
Por Olga de Mello, para o Valor
31/08/2007


Discreto e constante, seguindo os passos do crescimento econômico do país, o mercado editorial brasileiro comemora seu aquecimento. Os índices de leitura permanecem baixos, o número de livrarias é insuficiente para cobrir as necessidades até das metrópoles onde se concentram, porém já se fala abertamente sobre a profissionalização da indústria, enquanto grandes eventos promovem a popularização de um produto ainda considerado - pelo consumidor - caro e voltado para as elites. A maior das festas deste ano é a XIII Bienal do Livro, que deverá levar 600 mil pessoas ao Riocentro, no Rio. Em busca do leitor-padrão, aquele que procura a chamada literatura de entretenimento, a bienal convidou representantes estrangeiros da novíssima geração de escritores de best-sellers, entre eles o catalão Ildefonso Falcones, que, somente na Espanha, vendeu mais de 1,5 milhão de cópias exemplares de seu livro de estréia, o romance histórico "A Catedral do Mar" (Rocco).


Até para quem privilegia os títulos de menor sucesso entre o grande público, como Gisela Zagnoni, editora da Gryphus, o momento é de cativar o leitor e desmistificar a elitização do livro. "O mercado assumiu sua faceta profissional. As editoras investem agressivamente em marketing, colocando anúncios em diferentes veículos, pagando pela melhor exposição de seus produtos nas livrarias e nos sites de venda da internet, que é onde mais se compram livros atualmente", diz Gisela, que lança na bienal uma nova edição de "Um Estranho em Goa", do angolano Miguel Agualusa.


Já a gerente-editorial da Nova Fronteira, Isabel Aleixo, observa que as editoras brasileiras têm se aproximado do padrão americano que norteia o setor. "Acabou o pudor em considerar o livro um produto, aquela vergonha de não manter apenas obras de grande importância literária nos catálogos, que hoje abrangem títulos variados, abrindo espaço para o comercial", afirma Isabel, lamentando apenas a concorrência do livro com outros veículos, principalmente o computador, que estimula a escrita, mas não a leitura: "O número de leitores continua pequeno; no entanto, recebemos, por dia, de 120 a 150 originais de candidatos a novos escritores", conta.


Diversificar e buscar público é a maneira que editoras tradicionais têm para permanecer no negócio, diz a diretora-executiva da Zahar, Mariana Zahar. "Insistir em manter um catálogo fechado, sem procurar novos segmentos, é viver em permanente recessão. Não há como manter-se distante do consumidor. Adoro a bienal porque é a grande oportunidade que as editoras têm de conhecer o leitor", comenta. Mariana estará na bienal acompanhando o autor americano Andrew Carrol, organizador de "Cartas no Front", livro que reúne a correspondência de soldados de diversas nacionalidades, em diversas épocas.


Diretor-editorial da Paz e Terra e sócio da rede de livrarias Argumento, Marcos Gasparian tem contato constante com os leitores e percebeu o surgimento de uma nova clientela no Rio, depois da abertura de vias que ligam bairros do subúrbio e da periferia às regiões centrais da cidade: "São moradores dessas outras regiões, onde não existem livrarias. E esse quadro deve ser semelhante no pais todo."


Fidelizar esse leitor eventual, que faz da ida à livraria ou à bienal um programa, é determinante para estabelecer uma nova atitude do mercado, afirma o diretor da Sextante, Marcos Pereira. "A estabilidade econômica chega ao consumo do livro, além de tornar o país mais atraente para os grupos editoriais estrangeiros que iniciaram as incorporações de empresas brasileiras. O momento é de concorrência acirrada, de participação ativa em leilões de novos títulos, mesmo com um crescimento tímido, da ordem de pouco mais de 4%. A tecnologia permite que se produza um livro a preços razoáveis no Brasil e nem sempre sai caro disputar um megassucesso nos leilões", informa Pereira, que leva para a bienal três candidatos a integrar as listas de best-sellers: "Água para Elefantes", da canadense Sara Gruen, que vendeu mais de 200 mil cópias nos Estados Unidos; "A Conspiração Franciscana", de John Sack, um thriller histórico sobre um segredo envolvendo São Francisco de Assis; e a vida de Buda contada pelo guru new age Deepak Chopra.


Editoras jovens, como a Desiderata, criada há três anos, estão na Bienal do Livro para firmar a marca. "É importante participar, sem expectativa de retorno em vendas", afirma a editora Marta Batalha, que lança "Fábulas e Contos Fabulosos" de Millôr Fernandes na feira.


Comemorando dez anos de fundação, a Casa da Palavra exibirá sua nova logomarca, escolhida depois de estudo de posicionamento no mercado para firmar uma mudança de posição empresarial, com investimentos em linhas consagradas, como a bibliofilia, e o lançamento de novos títulos voltados para o bem-estar, "sem fórmulas paternalistas que ensinem o segredo da felicidade, mas com conteúdo religioso, literário ou filosófico que auxilie o leitor a enfrentar as questões existenciais", explica a editora Martha Ribas.


O grupo Record, o maior do setor no país, aproveita a bienal para apresentar dois novos selos, o BestBolso, edições de bolso com preços abaixo de R$ 20, e o Galera, voltado para os adolescentes. "A principal queixa do consumidor é quanto ao preço do livro. Temos um catálogo extenso, com obras de autores consagrados e best-sellers que podem ser reeditados a preços acessíveis. O BestBolso vai publicar de Albert Camus a Scott Turow", informa a gerente-editorial da Record, Luciana Villas-Boas. Entre os títulos do Galera está uma nova série criada por Cecily von Ziegesar, a autora de "Gossip Girl", convidada para a bienal.


A indicação de crescimento do mercado deverá ser verificada até o fim do ano em levantamento da Câmara Brasileira do Livro, segundo sua presidente, Roseli Boschini, que acredita na mudança do perfil do leitor: "Continuamos trabalhando com um universo de 26 mil leitores e a média nacional de 1,8 livro lido por habitante a cada ano, dados de pesquisa feita em 2000. No Rio Grande do Sul, o índice de leitura é de 5,5 livros ao ano. Hoje, o livro parece estar mais em pauta do que há dez anos. Novas feiras e festivais de literatura estão surgindo por todo o país, o que estimula o convívio com o livro, mesmo sem uma boa rede de bibliotecas e com poucas livrarias."

Destaques da feira

31/08/2007


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Difícil prever qual escritor atrairá mais atenção na XIII Bienal do Livro, que, de 13 a 23 de setembro, reunirá 960 expositores e 290 escritores, sendo 20 estrangeiros, no Rio. Os homenageados são Gabriel García Márquez e Ariano Suassuna. É provável que uma das estrelas da festa seja o livreiro afegão Shah Muhammad Rais, personagem e também autor de um livro-resposta ao "Livreiro de Cabul", o relato da jornalista Asne Seierstad.


- Há mais de um ano "A Menina que Roubava Livros" (Intrínseca), do australiano Markus Zusak, está na lista de mais vendidos do "New York Times". Lançado em março no Brasil, já vendeu 150 mil cópias.


- Maior editor e livreiro do Afeganistão, Shah Muhammad Rais dá em "Eu Sou o Livreiro de Cabul" (Bertrand Brasil) sua versão para o que a jornalista norueguesa, que hospedou por um período, conta no primeiro livro. Segundo Shah, Asne não conseguiu superar as diferenças culturais para entender o cotidiano de seu país, devastado por conflitos civis.


- "De Bagdá, com Amor" (Best Seller) não é apenas um dos muitos livros sobre a experiência afetiva com um animal. O cuidado de um grupo de militares com um cachorrinho durante a Guerra do Iraque fez o tenente-coronel americano Jay Kopelman virar célebre e aumentou a adoção de animais nos EUA.


- "As Aventuras de Jovens Socialites de Nova York" são um sucesso entre as adolescentes brasileiras, que compraram 50 mil cópias dos livros da série "Gossip Girl", de Cecily von Ziegesar. Uma nova série da autora será lançada pela Record, inaugurando o novo selo Galera.


- O advogado catalão Ildefonso Falcones levou cinco anos escrevendo "A Catedral do Mar" (Rocco). É o mais novo fenômeno literário da Espanha, onde vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares.


- O americano Joseph Finder segue a linha dos mestres dos thrillers, com uma peculiaridade: decidiu falar de espionagem no mundo corporativo, onde ambienta suas histórias de suspense como "O Executivo" (Rocco).


- A série "Operação Cavalo de Tróia", do jornalista espanhol J.J. Benítez, tem mais de 20 anos e conta a saga de um major da Nasa que volta no tempo e acompanha aspectos da vida de Cristo. Benítez já lançou oito volumes e continua escrevendo as aventuras de Jasão, acompanhadas por uma legião de leitores fiéis.


A americana Deborah Rodriguez abriu um salão de beleza em Cabul. As histórias das mulheres afegãs que o freqüentam estão em "O Salão de Beleza de Cabul" (Campus/Elsevier). (O.M.)

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