28.8.07

Valor Econômico - Livros (2006)

Filão "light business" vende quase 1 milhão em 2005
Por Olga de Mello, para o Valor
19/01/2006





Por décadas, "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas", do americano Dale Carnegie, reinou absoluto em livrarias e pontos de venda do mundo inteiro como o único título de auto-ajuda existente e reconhecido como tal. Publicado em 1937, o best-seller que vendeu mais de 50 milhões de exemplares só veio a enfrentar concorrência direta nos anos 80, quando aconteceu o boom da auto-ajuda. Enquanto os livros do gênero conquistavam espaços privilegiados nas vitrines de livrarias, variações dentro do próprio nicho começavam a se destacar. Ao lado de títulos que indicam como melhorar sua vida pessoal, o chamado "light business" - que enfoca o universo corporativo, mas não se enquadra no segmento de livros técnicos - é um dos que mais cresce e mantém títulos por anos na lista de mais vendidos.


A estimativa da Câmara Brasileira do Livro é de que dos 600 títulos de auto-ajuda lançados no país em 2005 - que venderam em torno de três milhões de exemplares -, 30% sejam de "light business". O crescimento de vendas em auto-ajuda, de acordo com a entidade, pode chegar a 10% ao ano, na última década. No caso específico do "light business", as editoras só têm o que comemorar. Além das vendas avulsas, costumam ser procuradas por empresas que compram grandes partidas de livros para distribuir aos funcionários.


O sucesso do setor indica que os investimentos em "light business" tendem a aumentar, acredita Sérgio Machado, presidente do grupo Record, que tem uma editora dedicada a tais lançamentos - a Best Seller, que em agosto passado publicou uma edição comemorativa pelos 15 anos de "Os Sete Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes", de Stephen Covey (15 milhões de exemplares vendidos no mundo). Dos 38 lançamentos da Best Seller em 2005, 11 eram motivacionais e 10 sobre negócios.


A longevidade de permanência desses livros no mercado atesta o sucesso do segmento. Como explica Sérgio Machado, o desempenho dos livros de "light business" é totalmente diferente da trajetória dos livros de ficção. "As vendas não são vinculadas a lançamento ou a resenhas em seções de literatura de revistas ou jornais, mas sim a propaganda boca-a-boca entre os leitores, que procuram aperfeiçoamento profissional ou pessoal por meio dessa leitura."


No grupo Record, os livros motivacionais e de "light business" corresponderam a 10% dos 485 títulos lançados em 2005. O maior sucesso do grupo é "Quem Mexeu no meu Queijo?", de Spencer Johnson, de 1988, que já vendeu 1 milhão de livros no Brasil. A primeira incursão no setor foi na década de 70, com "O Maior Vendedor do Mundo", de Og Mandino. Machado diz que o grupo começou a investir em títulos "light business" em 1983, a partir do lançamento de "O Gerente Minuto", de Ken Blanchard e Spencer Johnson. No primeiro trimestre de 2006, a Best Seller têm quatro novos títulos no mercado, entre eles "Vida em Ação", do fundador da Starmedia, o uruguaio Fernando Espuelas.


"O exemplo de vida desses autores, geralmente pessoas com carreiras sólidas no mundo corporativo, e sua forma direta de explicar métodos de investimentos, interessam ao leitor comum, aquele que não tem tempo nem recursos para fazer um MBA. O mais interessante no fenômeno é que esses livros, desprezados pelos eruditos, começam a ser utilizados nesses MBAs", diz Sérgio Machado.


Os editores se ressentem com a indiferença da crítica especializada com o segmento, embora alguns títulos como "Blink", do jornalista britânico Malcolm Gladwell (Rocco), recebam tratamento diferenciado na imprensa, mesmo que o tema aborde as decisões no mundo corporativo. "Sempre tivemos excelentes títulos na área de educação e negócios. 'Blink' é um exemplo, e com certeza vamos continuar lançando títulos do gênero", diz o editor Paulo Rocco. Marcos Pereira, editor da Sextante, que credita ao "light business" 20% de suas vendas, também afirma que o investimento no setor não segue apenas a tendência mercadológica.


"A missão da Sextante é publicar livros de reflexão, que contribuam para a vida do leitor. Isso combinado com um momento específico do Brasil, em que a liderança e negociação são parte do cotidiano, levou à resposta do mercado. O país está maduro para esse tipo de tema, o do desafio constante e da liderança servidora. O sucesso de tais publicações é tamanho que elas não se restringem aos departamentos de recursos humanos, mas atraem um público que espera leitura agradável, que acrescente valores e conhecimento", diz.


O grande sucesso atualmente entre os livros mais vendidos no país é "O Monge e o Executivo", de James C. Hunter, que freqüenta a lista de best sellers desde março de 2004, tendo vendido 550 mil exemplares no Brasil. "Até 2007, chegaremos a 1 milhão de volumes vendidos", aposta Pereira.


O conceito de "light business" é amplo para os escritores. Em 2004, a editora Campus/Elsevier lançou "Caminhos e Escolhas", no qual o fundador do grupo Pão-de -Açúcar, Abílio Diniz, fala não apenas sobre a forma de gerenciar suas empresas, mas da necessidade de preparo físico, revelando sua dieta alimentar, exercícios que pratica e como alcança o equilíbrio espiritual. Até agora, foram vendidos 210 mil exemplares e, em março, o livro será lançado nos EUA, assim como dois outros títulos da editora - "Figura de Transição", de Paulo Kretly, e "Três Minutos para o Sucesso", de Ricardo Belino. "Estamos ensinando 'Pai Nosso' ao vigário", brinca o diretor editorial da Campus/Elsevier, Paul Christoph.


O primeiro título da editora nesse segmento foi "Zaap!", que desde a chegada ao mercado, em 1992, vendeu 177 mil exemplares. Em 2005, o segmento de "light business" respondeu por 13% de todos os livros publicados na Campus/Elsevier, representando 16% das vendas gerais. Em três anos, calcula Paul Christoph, o "light business" corresponderá a 18% do catálogo, apesar de nem sempre os resultados alcançados no Brasil seguirem tendências mundiais.


"Não há como prever o comportamento do mercado. 'Paixão de Vencer', do Jack Welsh, vendeu 800 mil exemplares nos EUA. No Brasil, teve desempenho excelente, quase 76 mil livros vendidos, porém bem abaixo do que conseguiu no país original. 'Pai Rico, Pai Pobre', nosso campeão, vendeu 650 mil livros em cinco anos e continua sendo procurado nas livrarias, muito além do que alcançou nos mercados da Inglaterra ou Austrália. Em tese, vendemos 10% do que se obtém no mercado americano, mas isso não é regra", diz Christoph.

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