28.8.07

Alfarrábios

Matéria encontrada em site do Valor, do início do século, quando globalização era palavra que estava entrando em moda...

Globalização é o atual jargão, diz Sundaram
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
23/05/2001





Ninguém mais fala em imperialismo, o jargão do momento é a globalização, lamenta um dos mais respeitados economistas da atualidade, Jomo Kwame Sundaram. Aos 48 anos, professor da Escola de Economia e Administração da Universidade da Malásia, Sundaram rejeita a alcunha de profeta da crise em que mergulharam os países asiáticos em 1997. "Houve apenas uma coincidência. Escrevera um livro analisando os fatos que levavam à compreensão do momento econômico, afirmando que no modelo adotado na Malásia, os interesses financeiros suplantavam os interesses industriais. O livro saiu no dia 2 de julho; a crise foi no dia 3. A partir daí, disseram que eu previra a crise, mas apenas tentava explicar os fatores econômicos que estávamos vivendo", diz, em sua quarta visita ao Brasil, onde veio participar do "7º Seminário da Agenda do Milênio", promovido pela Unesco e pela Universidade Cândido Mendes e que será encerrado hoje.


O Brasil foi uma escala dentro da peregrinação por diversos países, onde ele vem se encontrando com economistas para a implantação da Associação Internacional de Desenvolvimento Econômico, cuja sigla em inglês é Idea (idéia), organização não-governamental que deverá ter sede em Deli, na Índia. Ainda não há brasileiros na futura ONG. "Temos muitos asiáticos e africanos, alguns chilenos. Provavelmente haverá brasileiros no grupo", diz Jomo Sundaram, que admite sentir-se intrigado pelo forte sentimento de nacionalismo que observa no Brasil.


Vindo do México e estando a caminho de Buenos Aires, Sundaram não se considera um expert em países latino-americanos, embora tenha vivido dois anos no Chile, onde passava por brasileiro, "devido à altura e ao castelhano carregadíssimo que falava". É capaz de discorrer sobre "Identidade e Diferença na Era Global", tema do sétimo encontro da Agenda do Milênio. "Há tantas diferenças que não podemos aceitar generalizações sobre qualquer continente ou parte do planeta. Antes da noção de globalização, falava-se em imperialismo. É uma palavra em desuso, que parece ter sido eliminada da realidade". Sobre o Brasil, afirma pouco saber, embora demonstre bastante conhecimento. Sua última visita foi em 1994, logo após a implantação do Plano Real. Lembra que houve muitas modificações no aspecto econômico, mas que o abismo social permaneceu imenso, por razões que não tem como avaliar.


"O Brasil é muito diferente do restante da América Latina. Em termos de igualdade social, está muito abaixo de boa parte do mundo. No entanto, existe uma igualdade cultural e racial que não se encontra em outros lugares", acredita o economista, que em uma das vezes em que esteve no Rio, foi a uma favela, para uma roda de samba. "Sei que atualmente não é possível fazer este tipo de programa. Embora a violência não seja tão grave em outros locais, nenhum branco iria hoje ao Harlem para passear com turistas da Malásia. Quando o Bill Clinton montou escritório no Harlem, causou espanto".


E continua: "No Brasil é realmente diferente. Em nenhum outro país latino americano o presidente diria que tem o pé na cozinha. Não posso defender nem negar o mito da democracia cultural e racial, mas algo diferente acontece no Brasil. Existe um orgulho intenso pela liderança em campos diversos. Seja no excelente parque tecnológico de São Paulo, seja no fervor devotado ao esporte pelos torcedores de futebol, que estão em todas as classes sociais", diz Sundaram.


O amor ao futebol foi observado pelo economista em uma de suas primeiras viagens ao Brasil. Reparou que muitos torcedores procuravam o então presidente da República, Emílio Garrastazu Medici, na tribuna de honra. "Mesmo que fosse um traço populista, aquele presidente era conhecido por gostar de futebol, o que o igualava à população. Os aspectos culturais podem determinar as diferenças de comportamento econômico. Além de falar outro idioma, o Brasil não vivenciou a fuga de capital da mesma maneira que outros países latino-americanos. Também teve um desenvolvimento tecnológico maior, enquanto produz uma cultura diferenciada do restante da América", acha Sudaram.


Outro diferencial que destaca é que, ao contrário dos vizinhos da América espanhola, os brasileiros não têm a mesma visão que os demais latino-americanos em relação aos colonizadores. "O brasileiro não se identifica com o indígena. Os espanhóis construíram catedrais sobre os templos astecas e incas. No Brasil, os nativos tinham culturas nômades. Os índios brasileiros foram praticamente dizimados pelos brancos e até hoje são considerados um povo à parte dentro do país. Então, não há como aceitar uma noção única de América Latina " .

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