17.9.10

Valor Econômico - Livros

Sociedade: O psicólogo e especialista em inovação tecnológica Don Tapscott vê com grande otimismo a geração formada em tempos de democratização da informação.

A era da cidadania global

Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio

02/07/2010


Íntegros, francos, honestos, bem informados, inteligentes, solidários: assim são os integrantes da primeira geração que foi criada utilizando a internet, na visão do especialista em estratégia e inovação tecnológica Don Tapscott. Admirador confesso da nova era que surge com a democratização da informação e a comunicação imediata possibilitada pela web 2.0, Tapscott, que acaba de lançar no Brasil seu livro mais recente, “A Hora da Geração Digital”, acredita firmemente nos bons princípios desses jovens que desrespeitam direitos autorais, enquanto criticam a corrupção na política e os abusos cometidos contra a natureza.

“A integridade faz parte do DNA dessa geração, para a qual racismo e machismo, entre outros preconceitos, são inaceitáveis. A honestidade e franqueza na expressão de suas opiniões são naturais para eles, os primeiros a amadurecerem durante a era digital, com acesso ao conhecimento que desenvolveu espírito colaborador e pensamento inovador”, disse Tapscott em entrevista ao Valor.

Um pouco de imaturidade compõe o perfil desses jovens, que divulgam dados pessoais, vídeos e fotografias que podem comprometê-los profissionalmente no futuro, admite Tapscott. A permanência na casa dos pais é cada vez mais postergada, não por comodismo e sim em decorrência de dificuldades econômicas. “A taxa de desemprego entre jovens adultos no mundo inteiro é brutalmente alta”, diz o escritor canadense, cuja formação original é em psicologia.

Autor de 12 livros sobre comportamento e tecnologia, Don Tapscott não vê contradição entre honestidade e desrespeito aos direitos autorais por quem baixa material pela internet. Em seu livro, cita pesquisas que apontam que 77% dos jovens baixam filmes, músicas, softwares e jogos sem pagar, enquanto 72% das pessoas entre 18 e 29 anos que compartilham arquivos afirmam não se importar com os direitos autorais. Os criadores de conteúdo, afirma, devem buscar novos modelos de negócios, levando em conta a facilidade de cópia do material que produzem.

“A solução para restaurar a saúde econômica da indústria da música não está em vender músicas por US$ 1″, comenta. “Em vez de se apegar a tecnologias de distribuição do fim do século XX, como o disco digital e o arquivo baixado, o negócio da música deve entrar no século XXI. Esta é uma época de atrofia versus renovação, estagnação versus renascimento”, afirma o otimista Tapscott, que não acredita no egoísmo, descaso e apatia dos jovens de hoje, até pela interatividade ao se comunicar intensamente pela internet, diferentemente da geração do autor, que permanecia inerte em frente da televisão.

“Esta é a primeira geração de cidadãos globais, que exigem mais transparência e comprometimento dos políticos. Eles têm orientação global, acesso ao conhecimento, espírito colaborador e um pensamento inovador que minha geração inveja. Cresceram interagindo, organizando informações, não são receptores passivos da mídia.”

Para Tapscott, os entrevistados demonstraram que o compartilhamento de informações os levou a difundir um sentimento de solidariedade que experimentam desde os bancos escolares, quando começam a prestar trabalho voluntário.

O idealismo da juventude se volta para as questões ambientais e contra as discriminações. “Eles acreditam na justiça, na liberdade e na defesa das causas ambientais. Apesar das diferenças culturais, eles têm valores similares e entendem que o destino da humanidade está interconectado. A todo momento surgem novas oportunidades, enquanto jovens se apropriam das ferramentas da internet para se envolver mais em tornar o mundo próspero, justo e sustentável”, observa Tapscott.


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