17.11.08

Valor Econômico - Livros

Informe-se o menos possível e enxergue o que de fato interessa
Olga de Mello, para o Valor, do Rio
23/10/2008

"A Lógica do Cisne Negro - O Impacto do Altamente Improvável" - Nassim Nicholas Taleb.
BestSeller. 464 págs. R$ 39,90



Acontecimentos inesperados deitam por terra qualquer projeção econômica ou política, embora, no futuro, a história diga que catástrofes poderiam ter sido evitadas, afirma Nassim Nicholas Taleb. Em seu livro, ele mescla reflexões sobre filosofia, economia e estudos biológicos à sua experiência no mercado financeiro, e discorre sobre a história dos conflitos no Líbano, onde nasceu. Tem-se, então, um vigoroso panorama da incerteza que envolve qualquer aspecto da existência humana sobre a Terra.
O falseamento de informações históricas, diz Nassim, é prática estimulada pela incessante busca humana de explicações que tragam algum sentido a fatos imprevistos. A esses fenômenos, como a disseminação da internet ou os atentados de 11 de setembro, ele chama de "cisnes negros". Um cisne negro é o acontecimento imprevisto que causa impacto e que leva a explicações posteriores, geralmente justificando-o como conseqüência natural e previsível de diferentes fatores.
A estratégia recomendável para empreendedores é contar menos com planejamento estruturado, focalizar no máximo de experimentação e reconhecer oportunidades - os cisnes negros - quando elas aparecem, pois, para Taleb, as projeções de déficits da previdência social e de preços de petróleo para daqui a 30 anos podem ser derrubadas no próximo verão. O crescimento econômico é fruto do risco, mas para identificar oportunidades é importante reduzir a leitura de jornais ao indispensável, pois o excesso de informações traz segurança para quem precisa passar idéias, sem levar necessariamente a boas soluções práticas.
Todo o encadeamento de esclarecimentos em narrativas, diz Taleb, não passa de uma fórmula para armazenarmos dados na memória, já que fatos isolados dificilmente são registrados mentalmente. A categorização seria uma exigência biológica que, no entanto, levaria ao reducionismo. A mesma necessidade de explicar o imprevisível levou ao revisionismo histórico, pelo qual a internet, crises econômicas e guerras são apresentadas como efeitos naturais de fatos, embora na época dos acontecimentos surpreendessem da mesma forma que um tsunami.
Para Taleb, um operador de derivativos bem-sucedido, que fez mestrado em Wharton, doutorado na Universidade de Paris e pertence ao departamento de Ciências da Incerteza na Universidade de Massachusetts, o otimismo é uma tendência humana que faz ignorar probabilidades. Ele também entende que o revisionismo histórico impede a conscientização sobre a magnitude dos erros de previsão, incluindo guerras em geral, o sucesso de Harry Potter e o crescimento de religiões. Afinal, diz, nem os historiadores da época de Cristo levaram a sério a pregação de um judeu rejeitado pelos sacerdotes de seu povo.

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