18.5.07

Valor Econômico - Eu & Livros

Como operar no mercado de capitais

Bolsa ultrapassa os 50 mil pontos e eleva a demanda por obras sobre investimentos em ações.
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio



Tão otimistas quanto os investidores que acompanham as sucessivas altas da Bovespa, as editoras brasileiras comemoram o aumento de vendas de livros de finanças pessoais, que destrincham jargões e comportamentos das bolsas de valores sem oferecer receitas de sucesso nos negócios. “O segmento cresceu. Os livros de finanças pessoais correspondiam a 18% das vendas no ano passado. Ainda não fechamos os números, mas sabemos que os índices foram maiores nos primeiros quatro meses de 2007”, diz o diretor editorial da Campus, Paul Christoph.
Diretora editorial de Livros Universitários e de Negócios da Saraiva, Flávia Bravin conta que as vendas dee obras do gênero da editora também subiram mais de 100% nos primeiros três meses do ano em relação ao trimestre anterior. “Entre janeiro e março, época de movimento fraco por causa das férias, vendemos mais que o dobro”.
O elo entre os títulos de investimentos pessoais de diversas editoras é a educação financeira do brasileiro. Os livros não apenas derrubam as fronteiras de um universo desconhecido como indicam a necessidade de montar planilhas de custos pessoais, identificar gastos desnecessários e guardar recursos para investimentos.
“Procuramos lançar livros que partam do zero e acompanhem a evolução do leitor na área, ensinando o básico: a gastar menos do que se ganha para ter um valor a ser investido, a diferenciar taxas de juros e, depois, chegar ao mercado de ações”, diz a diretora da Saraiva, que tem diversos títulos voltados para leigos. Por muito tempo, professores de Finanças dedicaram-se a estudar e a fazer o que há de melhor para o dinheiro das empresas, das pessoas jurídicas. Agora o foco é com o das pessoas físicas”.
Alguns dos livros, como a coleção “Você tem mais...”, se voltam diretamente ao leitor, enquanto outros seguem o estilo consagrado em best sellers de auto-ajuda, passando conceitos por meio de uma trama com personagens em busca de esclarecimentos.
“Criamos um enredo que tornasse a leitura mais agradável. As pessoas têm resistência ao tema, que associam a algo chato ou complicado, têm trauma com Bolsa de Valores, que consideram um cassino ou uma loteria”, afirma Luiz Gustavo Medina, um dos autores de “Investindo em Ações” e “Investindo sem Erros”, que estão na quinta edição.

A intenção de boa parte dos autores é confessadamente didática, seguindo indicações das próprias editoras, que perceberam o interesse da classe média brasileira em travar contato com o mercado de capitais, algo impensável antes da estabilização da moeda. Ao lado de manuais técnicos e de obras destinadas a quem já tem alguma familiaridade com investimentos estão títulos que aconselham diretamente o leitor a organizar sua vida financeira antes de pensar em investir em ações. Em geral, os livros têm o seguinte formato:

Não apresentam exemplos de investimentos bem sucedidos;
Recomendam que o leitor organize sua vida financeira, montando planilhas de gastos, evitando compras a crédito e cortando despesas;
têm estilo leve e divertido, por vezes recorrendo a personagens para conduzir os esclarecimentos sobre mercado financeiro;
dão conselhos diretos e fazem campanhas politicamente corretas, informando que entre os benefícios obtidos por quem deixa de fumar está a economia média de R$ 700 por ano ou que vale a pena aplicar ações em empresas socialmente responsáveis;
trazem glossários sobre o jargão financeiro;
e mostram as desvantagens em compras financiadas, no uso do cartão de crédito e de cheques especiais quando as taxas de juros são elevadas.
Medina afirma que seus livros querem afastar os temores dos neófitos e mostrar que o mercado de capitais “é um mecanismo vital para o crescimento do país e investir em ações é a possibilidade de tornar-se sócio minoritário de uma grande empresa”.
Maioria entre os compradores de livros, as mulheres merecem tratamento diferenciado nos de finanças pessoais, que abordam aspectos emocionais femininos na relação com dinheiro. “Meninas normais vão ao shopping, meninas iradas vão à Bolsa” (Saraiva), das jornalistas Mara Luquet – colunista do Valor - e Andréa Assef, lançado no ano passado, já vendeu mais de 10 mil exemplares. Texto de um talk-show, o livro se destina a mulheres de 20 a 50 anos, combinando advertências quanto às armadilhas do consumismo e a necessidade de dominar linguagem e operações com dinheiro.
O mesmo propósito é o da economista Eliana Bussinger, que em “As Leis do Dinheiro para Mulheres” (Campus), ressalta a necessidade de compreender o mercado, decidindo em que aplicar sem depender das recomendações do gerente do banco. “Falta às mulheres a segurança que só o conhecimento do mercado traz. Elas precisam se desapegar emocionalmente do investimento”, afirma Eliana. “Já ouvi justificativas para manter ações de uma companhia porque o presidente da empresa é muito gato”.
O sucesso dos livros de finanças pessoais não deixa órfãos os leitores mais afeitos aos segredos do mercado financeiro. “Aprenda a Operar no Mercado de Ações” (Campus), de Alexander Elder, um guia para investidores, vende cerca de 10 mil exemplares ao mês desde o aumento de movimento nas bolsas. Um livro tradicional sobre o assunto como “Comprar ou vender? Como investir na bolsa utilizando análise gráfica” (Saraiva), de Eduardo Matsura, teve, somente este ano, vendas 55% superiores ao mesmo período de 2006, afirma Flávia Brazin.
Os relatos pessoais sobre carreiras bem sucedidas ainda têm destaque na literatura de negócios. “Investimentos: Os Segredos de George Soros & Warren Buffett” (Campus), de Mark Tier, foi lançado pela Campus há dois anos. Está na quinta edição. “Esses livros têm uma vida útil longa, podem permanecer anos em listas dos mais vendidos”, diz Christophe.
Em “O Mercado de Ações ao Seu Alcance” (Landscape), o investidor Joel Greenblatt fala sobre investimentos através de personagens que demonstram empreendedorismo desde a infância, apresentando uma fórmula para identificar oportunidades de bons negócios.

Foi exatamente para fugir de fórmulas de enriquecimento e relatos pessoais que o economista Juliano Lima Pinheiro lançou, em 2001, “Mercado de Capitais – Fundamentos e Técnicas” (Editora Atlas). Em sua quarta edição, o livro passou por atualizações e recebeu o selo da Bovespa: “Esta é uma área sem literatura própria, com meia dúzia de volumes técnicos e muitas histórias de experiências próprias sem embasamento acadêmico. A princípio, planejei um manual para estudantes da área, mas hoje ele atinge um público maior, aquele interessado que só conhece a Bolsa através da mídia, mas que gostaria de fazer aplicações. A leitura permitirá a esse leigo definir o que pretende ser, um especulador ou um investidor”, acredita Juliano.

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