26.9.09

Trinta anos sem a roqueira Janis Joplin


Serguei fala sobre sua convivência com a estrela de temperamento
instável.
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio de Janeiro

Janis Joplin no Rio em fevereiro de 1970: passeio em
feira hippie, canja na madrugada e instabilidade emocional.

Há 30 anos a cantora Janis Joplin foi encontrada
morta, em conseqüência de uma dose excessiva de drogas. Meses antes, passsara pelo Rio de Janeiro, durante o carnaval, escandalizando até quem reconhecia na moça feiosa uma das maiores cantoras daquela época.
A morte prematura da jovem que teve sua obra-prima, o disco “Pearl”, lançada postumamente, chocou, mas não surpreendeu muitos dos que conviveram com ela, como o roqueiro Serguei, que entrou para a história também como o namorado brasileiro de Janis – título que ele
atualmente rejeita. Mesmo considerando suspeita a morte de Janis, para Serguei ela amais chegaria a completar 50 anos: “Foi a pessoa mais autodestrutiva que conheci. Maravilhosa, divina e louca demais para viver com serenidade”, relembra Serguei, hoje um jovem senhor de 68 anos, que abandonou todas as drogas ilícitas em nome da saúde. Não tenho mais necessidade de novas experiências”.
Volta e meia a temporada carioca de Janis é recordada. No Rio de Janeiro, ela fez topless em praias desertas, conheceu boates onde prostitutas procuravam fregueses e, como qualquer turista que visita a cidade, garimpou bijuterias na Feira Hippie de Ipanema. Trinta anos depois, dificilmente Serguei se encontraria com Janis Joplin passeando de madrugada pelas ruas de Copacabana. “Era tudo diferente, naquele tempo. A gente caminhava despreocupado pelas ruas, as praias mais distantes eram desertas e a Feira Hippie tinha hippies mesmo”, comenta Serguei.
Porque era outra época, Janis pôde circular tranqüilamente pelo Rio de Janeiro, sem atrair um batalhão de jornalistas, como aconteceria atualmente com uma estrela do rock. Serguei, que a conhecera nos Estados Unidos, acha que boa parte do comportamento ousado da cantora era fruto de sua excessiva carência afetiva. “Ela, Jimi Hendrix e Jim Morrison morreram da mesma forma, em questão de meses. É coincidência demais, pois eram três artistas que incomodavam a sociedade e que davam um péssimo exemplo. Não consigo acreditar nas mortes acidentais dos três. Hoje, o americano pega essas pessoas e transforma em dinheiro. Agora são poucos os jovens milionários da música que acabam como Janis, Hendrix e Morrison”, diz Serguei, que conviveu com os três astros, na casa de Janis, em Nova York, onde morou em 1968.
Riquíssima, a cantora vivia com a simplicidade pregada pelos hippies e chegou a dar canja em um show de Serguei em um cabaré de Copacabana, o Porão 73, na malvista Rua Prado Júnior, ponto até hoje considerado maldito no bairro. Serguei abria o espetáculo da então vedete Darlene Glória. Na mesma casa se apresentavam o ainda desconhecido Toni Tornado e Alcione, que tocava trompete. “Janis ficou felicíssima ao cantar para aquele público que nunca ouvira falar dela. Foi aplaudida, encantou a todos”, recorda.
Segundo Serguei, a instabilidade emocional da cantora era o que limitava seu círculo de amizades. “Ela tinha momentos de extrema doçura e outros terríveis. Era temperamental, descompensada, ficava furiosa, chorava, brigava, xingava, brincava. Tudo em questão de minutos, como crianças mimadas. Achava que as pessoas só se aproximavam dela porque era famosa. A convivência com ela se tornava muito difícil. E tudo era agravado por sua compulsão. Bebia vodca o dia inteiro, consumia drogas. De qualquer forma, dificilmente ela chegaria à maturidade”, acredita Serguei,
que tem Janis como ídolo até hoje: “Ela foi um talento único e mostrou isso em sua breve permanência na Terra. Eu gosto de me lembrar da Janis alegre, sorridente, doida para ser feliz, como a maioria das pessoas do planeta”, diz o compositor, que trocou o Rio pela pacata Saquarema, onde mantém um museu do rock'n’roll dentro de casa. ”Amadureci, faço 70 abdominais por dia, mantenho uma aparência jovem como meu espírito“, afirma Serguei, que estará participando das comemorações pelos 15 anos de Rock in Rio, em janeiro.

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

É uma dos melhores cantoras de todos os tempos. Eu trabalho em 4rentargentina e muitas vezes vêm músicos. Sem dúvida, ela... uma pessoa muito especial.