27.6.08

Valor Econômico - Livros

Novos tempos impõem rigor à gestão de riscos
Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio
08/05/2008


"Mercado de Opções: Conceitos e Estratégias" - Luiz Maurício da Silva.


Silvia Costanti / Valor
Luiz Mauricio da Silva: criado na Cidade de Deus, no Rio, deu a volta por cima, fez MBA na Espanha e lançou livro
Editora Halip, 986 páginas. R$ 180






O administrador carioca Luiz Maurício da Silva é seu próprio caso de sucesso. Criado na Cidade de Deus, custeou os estudos com trabalho desde jovem. Atuou no mercado financeiro, tornou-se especialista em derivativos, fez MBA na Espanha e, na volta, escreveu "Mercado de Opções: Conceitos e Estratégias", que ganha agora sua terceira edição e tem a perspectiva de ser distribuído em países árabes, europeus, além dos Estados Unidos. O momento parece bastante propício, agora que o Brasil foi classificado com "grau de investimento" na escala de risco de crédito da Standard & Poor's. O livro chegará a investidores em 23 países árabes, tendo também edições em francês, espanhol e inglês.


Com tiragem de seis mil exemplares em português, a nova edição terá quase mil páginas. A versão original, lançada em 1996, tinha 230 páginas e trazia 27 estratégias voltadas para proteção, alavancagem e arbitragem. Doze anos depois, Silva avalia que existe campo maior para atuação dos profissionais do mercado financeiro e investidores em geral: hoje, como se vê no livro, são 119 as maneiras de utilizar as ferramentas disponíveis no mercado.

A edição ampliada de "Mercado de Opções" tem nova apresentação, em capa dura, e contempla o que surgiu no mercado nos últimos anos. Segundo Silva, o livro se destina a quem pretende atuar no mercado, compreendendo que existem instrumentos de proteção para diminuir os riscos dos investimentos.

O autor lembra que o investidor de hoje não pode contar com a intuição e o conhecimento empírico para operar, desprezando conceituação e fundamentação teórica que permitem a análise técnica de situações. "Não há espaço para amadores no mundo globalizado, onde a negociação é realizada online", afirma Silva.

Para ele, na década de 1990 havia uma prática comum no mercado de opções - a de se operar com base nas experiências anteriores, nas informações dos negócios em andamento no pregão e no "feeling". Nos fundos de pensão, corretoras, bancos e em grande parte do mercado de capitais o uso dessas ferramentas de análise era do domínio de pouquíssimos profissionais: a grande maioria não sabia como implementar as fórmulas, nem havia um veículo veloz para disseminar informações.


"Hoje, os que operam, os que fiscalizam e os que se interessam pelo mercado de ações têm que dominar fórmulas e montar planilhas para todas as situações que se apresentam em qualquer parte do mundo", afirma Silva. Com a internacionalização da economia, "as estratégias são semelhantes nas bolsas do mundo inteiro, servindo tanto para mercado acionário, quanto para o de commodities e o de derivativos". A idéia do autor foi montar um guia com conceitos e exemplos de dinâmica operacional que dão base para o entendimento dos mecanismos do mercado e para a estruturação de estratégias de hedging.
A segurança de Silva para transitar pelo universo sempre mais complexo dos investimentos foi construída sobre a necessidade de superar problemas financeiros que conheceu desde a infância, quando teve de sair das margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde vivia, em uma das precárias habitações da extinta favela da Praia do Pinto, na zona Sul carioca. Os moradores da favela, removida na década de 1960 pelo então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, foram transferidos para os conjuntos habitacionais da Cidade de Deus, uma localidade no distante bairro de Jacarepaguá.
"Era barro para todo lado, não tinha asfalto, nem luz. Uma roça a mais de 30 quilômetros de onde vivíamos antes", lembra Silva. Decidido a investir em sua própria educação, incentivado pelos pais, ele começou a trabalhar aos 14 anos, para ajudar a pagar a escola. "O ensino público já estava decadente. Então, procurei um colégio bom, particular, que pagava vendendo as tapeçarias de minha mãe. Meus pais eram muito sérios, trabalhavam duro e me ensinaram a lutar pelo que eu queria", diz. Ele afirma que está sempre pronto a atravessar a cidade - ou o país - para contar sua história a jovens de comunidades carentes. "É importante que os meninos saibam que o reconhecimento da sociedade é possível se a pessoa não desanimar frente às adversidades."

Depois de fazer curso profissionalizante de desenhista, Silva pensou em seguir artes plásticas ou arquitetura, mas acabou se decidindo por administração de empresas em uma faculdade privada. Antes dos 20 anos, já havia sido tapeceiro, contínuo e desenhista em uma cadeia de lojas de departamentos. Foi admitido no banco Bradesco como escriturário e acabou chegando à área de processamento de dados. Ali se especializou em organização e métodos. Em 1983, fez parte da equipe que criou a primeira Bolsa de Futuros brasileira, a BBF. "Fui encarregado da normatização de manuais. Nada sabia de derivativos, mas tomei gosto. Tanto que me empenhei em conseguir uma bolsa do CNPq para cursar um MBA em administração na Universidade Autônoma de Madri", diz Silva, que hoje é consultor de empresas, além de professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Apesar de ter recebido convites para aumentar a tiragem e a distribuição do livro atualizado, Silva prefere publicar esse título ampliado por sua própria editora, a Halip. "No momento, quero ter domínio sobre a edição. Gosto de bater de porta em porta, levar para as livrarias e cursos de MBA", afirma.

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