26.2.07

Valor Econômico - Entrevista Marian Keyes

Seriedade sem perder o humor

Por Olga de Mello, para o Valor, do Rio

Marian Keyes, a autora do best-seller “Melancia”, volta-se para as questões sociais nas narrativas mais recentes e quer ajudar o leitor a refletir sobre a realidade à sua volta.


Valor – Por que suas histórias mais recentes mencionam problemas sociais das grandes cidades, como os sem-teto?

Marian Keyes – Uma história romântica pode ajudar o leitor a refletir sobre sua própria realidade. Desde que comecei a ter sucesso literário, voltei-me para questões sociais que me incomodavam, auxiliando programas de combate à violência contra mulheres e os sem-teto. Depois, me veio a idéia de usar esses problemas dentro de meus livros e chamar a atenção para essa realidade. A princípio, queria motivar os leitores irlandeses, já que a Irlanda vive um momento de prosperidade econômica jamais experimentada antes e ao qual corresponde a alienação político-social de sua população. Mas meus livros foram traduzidos em mais de 30 idiomas diferentes e podem atingir leitores na Tailândia, na Rússia, no Brasil, onde a disparidade social também existe e precisa ser objeto de políticas sérias.

Valor - Já não há mais lugar para príncipes encantados nesse tipo de romance?


Marian Keyes – Tenho o cuidado de jamais apresentar o homem como solução para a vida das mulheres, porque aos homens de hoje foi reservado outro papel, o de companheiros, não o de provedores. Eles são a versão atualizada do príncipe encantado.



Valor – É um novo momento da literatura romântica, então, com mais humor, consciência social e um toque feminista?

Marian Keyes – Sou da primeira geração pós-feminismo, embora apenas nos últimos anos tenha reconhecido que as mulheres estão no último degrau dos oprimidos. Apesar da liberdade sexual, em meu país, por exemplo, a tradição católica inibe os investimentos em educação contraceptiva, o que levou ao aumento de gravidez entre as adolescentes. No mundo inteiro, as mulheres têm que enfrentar muita pressão, incluindo o descontentamento com seus próprios corpos, já que meninas de 16 anos são utilizadas para vender roupas para mulheres de 30 ou 40 anos. Meus livros mostram um pouco desses elementos geradores de estresse, sempre com bom humor, mesmo quando falo sobre dependência de drogas. Sem humor, como a humanidade conseguiria seguir em frente?

Valor – A senhora se incomoda em ser classificada como uma escritora de “chick lit”, a chamada literatura mulherzinha?

Marian Keyes – Eu me orgulho de meus livros.

Um comentário:

Comentário Solitário disse...

"Eu me orgulho de meus livros." E ponto final. Taí, gostei.

É verdade: por que os homens são reqüentemente apontados como a solução para os problemas das mulheres? "Isso é falta de homem!", "Ela é mal amada!", "Você precisa de um marido rico!"