27.6.07

Valor Econômico - Negócios

Compartilhando é que se recebe
Empresas que não incorporarem as tendências de interação surgidas como advento da internet correm o risco de morrer, alerta Don Tapscott, autor do best-seller "Wikinomics".
Por Olga de Mello para o Valor, do Rio


Na década de 70, Marshal McLuhan e Barrington Nevitt falavam que a tecnologia transformaria o consumidor em produtor. Dez anos mais tarde, o futurólogo Alvin Toffler cunhava um novo termo, prosumer, juntando as palavras inglesas producer (produtor) e consumidor (consumer), que acabaria por designar um personagem com lugar de destaque no mundo contemporâneo. Para Don Tapscott e Anthony D. Williams, autores de “Wikinomics – Como a interação global está mudando tudo” (Nova Fronteira), os prosumers são os protagonistas do novo momento da Revolução da Informação, alavancando a mudança das estruturas econômicas ao indicarem - ou até mesmo - oferecerem as sugestões para adequar produtos a seus gostos.
No universo de colaborações que a Internet suscitou, Tapscott e Williams vaticinam o fracasso das empresas que não incorporarem as tendências que se apresentam neste mundo em que todos os que estão ligados pela Internet podem apresentar suas criações livremente a um público de bilhões de usuários, enquanto apontam as bem-sucedidas experiências de interação entre concorrentes, como a IBM e a Linux.
Um dos mais conceituados especialistas em tecnologia, autor de onze livros sobre estratégia e inovação tecnológica, Don Tapscott estará na próxima semana em São Paulo, quando fará palestras sobre o fenômeno Wiki na economia na 5a edição do IT Conference. “Quem estiver conectado à Internet poderá participar das atividades econômicas de forma nunca conhecida anteriormente. A Internet hoje é um espaço mais de comunidades do que de conteúdo”, afirma Tapscott, que aposta no crescimento das empresas que se relacionarem colaborativamente inclusive com a concorrência, obtendo benefícios tecnológicos e lucros.

Tapscott e William também acreditam no aumento das colaborações de indivíduos para empresas ou entidades diversas, tanto de forma voluntária ou envolvendo compensações financeiras, o que levará à criação de novos produtos sem obedecer a uma estrutura rígida de produção.

Fundador da empresa de consultoria e inovação New Paradigm, o canadense Tapscott cita a parceria com Williams, vice-presidente da New Paradigm, é citada por Tapscott como exemplo de colaboração da sociedade virtual: “A maior parte do livro foi escrita em continentes distintos. Anthony ficava em Londres e mantínhamos toda a comunicação pela Internet”. Lançado no fim de 2006, “Wikinomics” analisa diversos casos de colaboração entre empresas e o fortalecimento das comunidades na Internet, onde a cada segundo um blog é criado, juntando-se a um universo onde já existem mais de 50 milhões de blogs, que recebem 1,5 milhão de novas inserções diárias. Se metade do tráfego da Web se destina ao compartilhamento de arquivos, as empresas que restringirem o acesso a seus produtos ou a informações acabarão falidas, dizem Tapscott e Williams.


A primeira grande referência do universo colaborativo ainda é a Wikipedia, a enciclopédia montada com informações de especialistas nos mais variados assuntos, sem qualquer exigência ou controle de seus criadores (embora haja o cuidado de utilizar imagens que não exijam pagamento de copyright). Don Tapscott salienta, no entanto, que o fenômeno wiki (colaborativo) há muito deixou de ser uma particularidade do universo virtual. Companhias como a Boeing atualmente planejam seus lançamentos como um projeto em conjunto com seus fornecedores.

Tapscott lembra que em 2005, a Boeing conseguiu ultrapassar a Airbus em encomendas de novos aviões quando reduziu as especificações de dispositivos eletrônicos – que ocupavam 2.500 páginas na montagem do modelo 777. O documento com as especificações do modelo 784 tinha apenas 20 páginas.
“Isso não é terceirização, mas estar lado a lado de seus pares, acatar a expertise do outro”, afirma Tapscott, que teme pelo futuro da indústria fonográfica: “Este setor se comporta como as indústrias do passado e precisa adaptar-se aos novos tempos, oferecendo novidades ao mercado que não estão na simples venda de CDs. A indústria precisa perceber que a Internet transformou-se na base de toda a comunicação, incluindo aí a produção musical e programação de televisão. Tudo precisa passar pela Internet”, acredita.

Ele conta que o livro levou ao projeto Wikinomics, um site ( www.wikinomics.com) que recebe textos a serem compilados em um novo volume, com lançamento provável em setembro. “Ficamos surpresos com a boa recepção ao livro. No fim deste ano terei completado 120 palestras sobre os princípios do Wikinomics. O livro está sendo traduzido em 19 idiomas”, contou Tapscott, que já esteve outras vezes no Brasil.
O modelo de negócios com parcerias, sem estruturas hierárquicas não excluiria as lideranças, diz Tapscott: “A liderança está se transformando para um pensamento baseado na inteligência coletiva e na liderança coletiva. Ainda existe lugar para líderes, porém as lideranças serão baseadas no poder através das pessoas e não sobre as outras pessoas”. As colaborações não remuneradas, iniciadas nos primeiros tempos da Internet, que facilitou a troca de informações científicas, continuará, porém um novo gênero de associação começa a surgir.
“Diversos grupos estão incentivando a colaboração, premiando quem apresentar novas soluções nos mais diferentes campos. A rede InnoCentive oferece prêmios a 90 mil cientistas de 175 países inscritos em sua comunidade, em busca de soluções em pesquisa e desenvolvimento para diferentes empresas de produtos farmacêuticos, como a Procter & Gamble, Novartis e o laboratório Eli Lilly, que procuram idéias, invenções e mentes com qualificação para liberar valor em seus mercados consumidores”, informa.

A Internet continuará a receber colaborações sem qualquer conotação comercial, acredita Tapscott. Os atentados terroristas em Londres, em maio de 2005, foram relatados por 2.500 colaboradores da Wikipedia. Sites de jornais no mundo inteiro utilizam material enviado por leitores, entre fotografias e filmagens, porém são as emissoras independentes, veiculadas através da Internet, que vêm atraindo cada vez mais amadores que produzem novos tipos de noticiário.
O consumidor passivo é uma figura do passado. Hoje, ele produz o que quer ver, afirma Tapscott. “Quem se cansou do formato tradicional de apresentação de notícias pode mostrar seu próprio material em redes como a Current TV, que apresenta excelente conteúdo produzido por não-profissionais.
É por causa da Internet também que qualquer pessoa de um país emergente, na Índia, China ou no Brasil, pode entrar em pé de igualdade para a economia global. Dez anos atrás, a província de Schenzen, na China, era uma comunidade rural. Hoje, há 180 mil pessoas trabalhando no campus empresarial da Foxcomm, criando bens de consumo eletrônico para adolescentes de todo o planeta”.
Para Tapscott, esses prosumers são recompensados apenas por contribuírem para a produção de um produto melhor. “Valores são variáveis, dependem do contexto. Quando se cria um avatar no Second Life, a recompensa está na diversão”.