10.3.12

Valor Econômico - Livros

Dos longos concertos à descoberta do mundo digital
Por Olga de Mello | Para o Valor, do Rio

Wikimedia / WikimediaTyler Cowen: facilidades da internet levarão a uma nova ordem cultural

Em tempos de recessão, as populações se voltam para prazeres menos dispendiosos, como na Grande Depressão, em 1930, quando os americanos cortaram os programas noturnos e se dedicaram a entretenimentos caseiros, em família - o que determinaria uma mudança no estilo de vida do país.
Wikimedia / WikimediaTyler Cowen: facilidades da internet levarão a uma nova ordem cultural

Em tempos de recessão, as populações se voltam para prazeres menos dispendiosos, como na Grande Depressão, em 1930, quando os americanos cortaram os programas noturnos e se dedicaram a entretenimentos caseiros, em família - o que determinaria uma mudança no estilo de vida do país. Para o economista Tyler Cowen, vive-se hoje um fenômeno semelhante, em que a diversão e os relacionamentos passaram a se estruturar sem depender de gastos além do que se paga pela conta da internet. Entusiasta das interações a partir das novas tecnologias, em "Crie Sua Própria Economia - O Guia da Prosperidade para um Mundo em Desordem" Cowen procura demonstrar que o acesso à informação e ao conhecimento levará a uma nova ordem cultural.

Quem não conhece o envolvente estilo de Cowen, economista renomado, que escreve para diferentes publicações, como "New York Times", "Wall Street Journal" e "Washington Post", vai descobrir que o autor faz sua exposição como se estivesse na sala de aula da Universidade de George Mason, onde leciona economia. É o professor que conduz a linha de raciocínio do leitor para uma imensa gama de temas relacionados aos novos tempos, dominados pela internet e tudo o que ela oferece.

Nessa aula por escrito, Cowen demonstra conhecimento profundo de assuntos diversos. Discorre sobre literatura, cultura pop, artes plásticas, política, filosofia, pontuando com algumas noções de economia e de neurociência - interligando-os com a mesma agilidade oferecida pelos sites na internet. Em quase todos os capítulos há referências e exemplos de autistas bem-sucedidos, pois Cowen vê semelhanças entre o raciocínio de pessoas com essa peculiaridade de comportamento e o pensamento do homem contemporâneo, que seria fragmentado, aparentemente superficial, mas que se caracteriza pela especialização em algum tópico. O próprio Cowen se identifica com alguns traços autistas - introversão, introspecção e fascínio pela coleta de informações -, que percebe também em alguns homens notáveis, entre eles Kant, Adam Smith, Mozart e Michelangelo, em personagens literários, como Sherlock Holmes, ou no protagonista do seriado de televisão "House".

Cowen é um entusiasta da internet em quase todos os seus aspectos, principalmente por democratizar o acesso ao conhecimento, o que estaria estressando usuários devido à sobrecarga de informações. Ele não concorda com tais críticas. A dita superficialidade dessas informações decorreria da facilidade do acesso, que encurtou "distâncias" e abriu um leque maior de opções de conhecimento. Uma das consequências seria o desinteresse por textos extensos. Segundo Cowen, no começo do século XIX, um concerto musical poderia durar até seis horas. O deslocamento da plateia até o local da apresentação era difícil e exigia que houvesse outras atrações além da música, envolvendo, geralmente, um grande acontecimento social. Hoje, a facilidade de alcançar o entretenimento - ou o conhecimento - obriga à redução de informações, porque as atenções se voltam para vários campos.

A capacidade de as pessoas se adequarem a múltiplas tarefas é outro ponto positivo que a internet estimulou, já que cada vez mais se consegue reunir e manipular informações, relacionando-as e filtrando o que mais interessa, diz Cowen, que, no livro, disseca, entusiasticamente, as novas formas de comunicação - e as emoções ligadas aos novos veículos, como Twitter, Facebook, You Tube e mensagens instantâneas. O hábito de enviar "torpedos", disseminado entre os namorados japoneses, antes e depois dos encontros, destaca Cowen, criou uma forma diferente de cortejar, com palavras carinhosas, que confortam os envolvidos, causando satisfação. O economista diz que o Facebook deixou o mundo "mais amigável - um sentimento melhor do que a indiferença e a negligência contínua", embora admita temer que a rede social torne a amizade "um pouco fácil demais", desvalorizando os relacionamentos afetivos, já que "a sensação de sacrifício às vezes nos leva a apreciar algo com mais intensidade".

Pequenas contradições que surgem volta e meia no texto não reduzem a força das palavras de Cowen, que minimiza a acusação de que a internet reduziu a capacidade de atenção dos usuários. O economista lembra que críticas semelhantes já foram dirigidas "à maioria dos novos meios culturais ao longo dos tempos", como o romance, no século XVIII, os quadrinhos, o rock'n roll e a televisão. A fragmentação da atenção seria a forma de montar blocos de interesse, que ajudam na compreensão de tendências e narrativas.

De economia, propriamente dita, Cowen pouco trata. Ele afirma que seu livro é um "regresso às fundações originais da economia", já que a obra da vida de Adam Smith foi mesclar raciocínio econômico com a filosofia moral estóica e psicologia aplicada. A construção da felicidade, objetivo primordial do homem, que precisa se convencer de que tem uma vida agradável para sobreviver, consegue apoio até na superexposição da privacidade na internet.

Cowen elogia a ordenação de fotografias, o compartilhamento de momentos íntimos e das experiências pessoais, que ajudam a criar a ilusão da felicidade plena. Respaldado por Adam Smith, para quem poucos homens seriam capazes de se satisfazer com a própria consciência íntima, Cowen elogia a internet não apenas por seu aspecto congregador de pessoas que jamais se conheceriam pessoalmente e têm interesses comuns, mas por permitir que elas se sintam únicas pelo reconhecimento público: "O e-bay faz com que itens de colecionador se transformem em uma maior fonte de orgulho".

A vida virtual, no entanto, não é suficiente para satisfazer a maioria das pessoas, lembra o economista. Mesmo que o cinema e a televisão tenham substituído o teatro como meio de entretenimento, ainda existe necessidade de apresentações ao vivo, personalizadas. O aprendizado é mais eficiente em salas de aula, com professores motivando os alunos e a presença física dos colegas tornando a experiência vívida, diz Cowen. "Existe um novo plano para a organização de pensamentos e sentimentos humanos. O uso adequado do entretenimento e da educação se transformou no mais fundamental empreendimento social", afirma o economista.
"Crie sua Própria Economia - O Guia da Prosperidade para Um Mundo em Desordem"

Tyler Cowen. Record. 252 páginas, R$ 37,90

http://www2.valoronline.com.br/cultura/2543272/dos-longos-concertos-descoberta-do-mundo-digital

Valor Econômico - Livros

A colossal e faustiana dimensão da economia
Por Olga de Mello | Para o Valor, do Rio

"Dinheiro e Magia - Uma Crítica da Economia Moderna à Luz de 'Fausto' de Goethe"
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/ValorGustavo Franco explica os papéis de Fausto e do demônio na "tragédia do desenvolvimento brasileiro"

Hans Christoph Binswanger. Trad. de Marcus Vinicius Mazzari. Apresentação e posfácio de Gustavo Franco. Zahar. 216 págs., R$ 42,00

Eternidade, mortalidade, ciência, criação e poder são alguns dos conceitos evocados pela lenda de Fausto, o homem que vende a alma ao diabo em troca de uma vida plena de satisfações. A abrangência do tema e sua universalidade renderam numerosos estudos literários e filosóficos, além de reflexões em outros campos, entre eles o econômico. Um desses é "Dinheiro e Magia - Uma Crítica da Economia Moderna à Luz do 'Fausto' de Goethe", de Hans Christoph Binswanger, que chega agora ao Brasil, com apresentação de Gustavo Franco, autor do posfácio "Fausto e a tragédia do desenvolvimento brasileiro".

Lançado em 1985, o livro de Binswanger se ocupa da segunda parte da tragédia, publicada após a morte de Goethe, que criou três versões da história. A primeira, da juventude, é o "Fausto Zero", retomada por Goethe em 1808, no que ficaria conhecido como "Fausto 1", a mais importante obra do escritor. No chamado "Fausto 2", publicado após a morte de Goethe, está, segundo Gustavo Franco, a transposição socioeconômica do indivíduo, que conhecia um momento de transição dos modelos de convivência humana, testemunhados pelo escritor ao longo de sua própria existência.

"Poucos leram a segunda parte do 'Fausto', extensa e complexa, que surge 60 anos depois da original, no momento em que se abandonava a cultura tradicional abstrata e se procurava o conhecimento desenvolvimentista. Goethe foi jovem num mundo medieval e, na velhice, conheceu o mundo moderno. É essa transição que ele mostra no Fausto 2", diz Franco.

Binswanger considera "Fausto" a "mais moderna de todas as peças", ao destacar "o fascínio criado pela economia", explicada por Goethe como um processo alquímico na busca do ouro artificial. "Todo aquele que não consegue compreender essa alquimia, a mensagem que 'Fausto' de Goethe transmite, não pode entender a dimensão colossal da economia moderna", afirma Binswanger na introdução do livro - escrito para um público que conhece o mito e a peça de Goethe.

"É Mefistófeles quem inspira a criação do papel-moeda, produto da magia, que levará à instauração da economia moderna"

E é para os leitores brasileiros não familiarizados com a obra de Goethe que Franco traça um histórico da lenda em torno de Johannes Faust (1480-1539), alemão que teria praticado medicina, alquimia e astrologia. Maior que o personagem real é o fictício, cujo pacto com o diabo virou tema de volumes apócrifos em alemão, consagrados na peça do inglês Christopher Marlowe, encenada nos palcos elizabethanos em 1592. Cada autor imprimiu características diferentes a Fausto, observa Franco. Enquanto o de Marlowe se arrepende do contrato com Mefistófeles, o de Goethe firma outro tipo de acordo, condicionando a entrega da alma apenas se reconhecesse que havia ficado plenamente satisfeito - algo inalcançável para quem está sempre em busca de novas emoções.

"Este Fausto vem da época de grandes descobertas em arte, ciência e economia. Ele e Mefistófeles aparecem quase como narradores de enredos novos que se delineiam no mundo iluminista, um mundo que ainda pretende resguardar a tradição cultural clássica. É Mefistófeles quem vai inspirar a criação do papel-moeda, o produto da alquimia, da magia, que levará à economia moderna", observa Franco.

Outra discussão que Goethe levanta, e que foi aproveitada por outros autores, como Klaus Mann, está nas concessões ao mal que alguém faz durante toda a existência. "Mefisto", de Mann, fala sobre o sucesso de um ator durante o regime nazista, calcado na trajetória real de Gustaf Gründgens, cunhado do autor. Após a Segunda Guerra Mundial, Gründgens foi absolvido das acusações de ligação com os nazistas. "A sobrevivência exige a negociação com o mal, que, naquele caso, estava representado pelo nazismo", diz Franco.

A análise de Binswanger detalha cada movimento da peça e a relaciona com o fim da economia de subsistência, que tem objetivos finitos de satisfazer as necessidades do homem. "A economia industrial está adaptada a necessidades imaginárias, que podem ser incessantemente expandidas pela fantasia humana", afirma Binswanger, que aponta a familiaridade de Goethe com assuntos econômicos, não só por atuar como conselheiro da corte, mas pela amizade com especialistas como Greg Sartorius, um dos principais divulgadores das ideias de Adam Smith na Alemanha.

Franco conheceu o livro de Binswanger em 1999. Ao preparar a introdução para a edição brasileira, imaginou um ensaio crítico sobre o desenvolvimento econômico sob a ótica da experiência do Brasil. A analogia com "Fausto" está no perdão por métodos questionáveis de crescimento, desde que o objetivo seja alcançado. No ensaio, ele destaca que Fausto é de uma época em que não existe mais o castigo pela curiosidade, "especialmente quando ela envolve a experiência e a realização, embora possa haver condutas reprováveis no caminho". Tais condutas são comuns a todos os povos, que tendem a redimir-se de seus erros, justificando a obtenção de um bem maior.

"Hoje, destroçamos o ambiente. No passado, fomos lenientes com os escravocratas, com a inflação, com a desigualdade. Os meios questionáveis de se chegar a um bem maior são esquecidos, uma vez que se obtém sucesso, o que redime a todos. É o caso do político corrupto, que rouba, mas faz. No fim, ganha-se a salvação, da mesma maneira que, na cena final da segunda parte da peça, os anjos mencionam as realizações de Fausto, que seriam superiores a seu acordo com Mefistófeles", diz Franco.

Da mesma forma que o diabo e Fausto se mostram parceiros de jornada na segunda parte da peça, a associação entre os que movimentam o capital é tão íntima que impede a escolha de um vilão na "tragédia do desenvolvimento brasileiro", diz Franco. Mefisto tanto pode estar no setor privado, "interessado apenas nos próprios lucros e despreocupado com os custos do progresso", enquanto Fausto ficaria no setor público, "em posição honorífica, concursado e estável, funcionário público de coração puro", como Fausto seria o empreendedor constantemente achacado pela corrupção e pelo clientelismo de Mefisto, o burocrata que domina "a regulação, as políticas e os favores emanados do setor público". Para Franco, separadas ou juntas, as duas combinações fazem sentido.

http://www.valor.com.br/impresso/brasil/colossal-e-faustiana-dimensao-da-economia

Valor Econômico - Economia

A utilidade de contar histórias
Por Olga de Mello | Para o Valor, do Rio

Divulgação / DivulgaçãoMadelyn: "O 'storytelling' é voltado para o entrosamento das equipes. O compartilhamento é de histórias que envolvam o trabalho"

Compartilhar experiências profissionais é um dos mais eficientes instrumentos para revigorar uma empresa, afirma a especialista Madelyn Blair, que esteve semana passada em São Paulo para ministrar o curso Storytelling e o Segredo de uma Comunicação Excelente, durante o 2º Seminário Internacional do Fórum Permanente de Gestão do Conhecimento, Comunicação e Memória. Em entrevista exclusiva ao Valor, a consultora diz que já ouvira falar da "maravilhosa energia" dos brasileiros, mas pondera que contar histórias nas empresas nada tem a ver com o hábito nacional de abrir a vida pessoal para desconhecidos: "O 'storytelling' é voltado especificamente para o entrosamento das equipes, que desenvolverão a autoconfiança necessária para enfrentar momentos de crise. O compartilhamento é de histórias que envolvam o trabalho."

Com formação original em matemática, especializada em finanças e em psicologia, Madelyn fundou em fins da década de 1980 a Pelerei, consultoria que desenvolveu projetos para organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Smithsonian Institute e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. No FMI ela assistiu ao início de uma transformação a partir de uma atividade de "storytelling".

"Os relatos de muitas mulheres traziam queixas quanto a preconceito, e isso levou à análise de suas posições na instituição e a uma mudança da cultura. Nem sempre o compartilhamento de histórias oferece respostas para problemas vindos de fora, mas podem modificar a estrutura interna."

Segundo a consultora, mesmo os reservados executivos asiáticos dificilmente impõem resistência a contar experiências profissionais. A maioria das pessoas se orgulha em mostrar as soluções encontradas para problemas, o estabelecimento de novos parâmetros ou a criação de uma imagem, diz Madelyn.

"A humanidade vem contando histórias há milênios. Em algumas sociedades, essa é a base das tomadas de decisão. Quando há um esforço para reunir as histórias de um grupo, surge uma coesão entre seus membros. Os valores e as características se revelam a partir desses relatos", afirma.

Disseminar tais valores é essencial no mundo globalizado, em que os choques culturais podem inviabilizar negócios. O "storytelling" torna-se, então, uma ferramenta organizacional para a identificação de novos processos, quebrando barreiras. "Sempre surge uma compreensão muito mais ampla das diferenças depois da troca de experiências. Um líder precisa estar atento à diversidade que encontrará entre seus subordinados, pois é ele que estabelece a visão de sua empresa", acredita.

http://www.valor.com.br/brasil/995980/utilidade-de-contar-historias

Valor Econômico - Livros

03/05/2011 às 00h00
Novas histórias, com novos protagonistas
Por Olga de Mello | Para o Valor, do Rio

"A Cultura da Participação - Criatividade e Generosidade no Mundo Conectado"

Clay Shirky. Trad. de Celina Portocarrero. Zahar. 212 págs., R$ 39,90

Solidariedade, democratização da informação, superficialidade, substitutivo do vazio existencial, meio de integração para os solitários, participação. Qualquer uma dessas expressões poderia referir-se à Web 2.0 ou, em outras épocas, a veículos de comunicação que ampliaram o acesso a informações. As críticas positivas ou negativas à internet são as mesmas sofridas pelo cinema, pela televisão e até pela prensa de Gutenberg, afirma Clay Shirky, autor de "A Cultura da Participação". Os protestos da atualidade estão diretamente ligados às perdas de capital decorrentes do compartilhamento gratuito de conteúdo, diz Shirky, professor de telecomunicações interativas da Universidade de Nova York e um dos mais celebrados estudiosos da internet.

Entusiasta da Web 2.0, Shirky é de um otimismo que poderia até soar pueril em relação ao alcance da internet e os benefícios que a mobilização social traz a diferentes causas. Seu texto francamente didático credita as reações ao comportamento dos internautas ao temor da mídia, cujo propósito declarado seria o de fomentar o consumo de "produtos criados por profissionais". A autonomia desses espectadores, que abandonam a passividade para adotar o papel de protagonistas, levou quem produzia conteúdo anteriormente a rotular como medíocre boa parte do que hoje circula pela internet. A esses, Shirky recorda que a popularização da leitura não gerou multidões de eruditos, no século XVII, permitindo, ao contrário, a primeira grande manifestação do apreço popular por um "mar de lixo" literário. Agora é a indústria cultural que se intimida com os internautas que, movidos pelo que Shirky considera a generosidade intrínseca do ser humano, fizeram o compartilhamento imperar na época que deveria consagrar o apogeu do consumismo - sempre estimulado pela televisão, principal forma de entretenimento no mundo desde a década de 1950.

Facilitar os encontros de interesses é outra peculiaridade da internet enaltecida por Shirky. A articulação em torno de ideais seria semelhante à que juntou artistas como os impressionistas franceses, em fins do século XIX, ou os skatistas que se dedicavam a acrobacias nas piscinas californianas nos anos 1970. Mas o alcance do universo virtual tem encontrado adversários no mundo real. Em 2008, o Pick Up Paul, um site de organização de caronas que reúne mais de 150 mil usuários em 119 países, foi acusado de concorrência indevida por empresas de ônibus canadenses. Pouco depois de ganharem a ação judicial, as transportadoras de Ontário tiveram de se curvar à alteração da legislação local, que passou a permitir a combinação de caronas pelo site.

A dualidade moral que a internet instigou, com o desrespeito aos direitos autorais, é minimizada por Shirky. Ele critica os esforços da indústria fonográfica em tentar proteger seus interesses difundindo uma tese, "que jamais fez sentido", em forma da acusação, "dirigida aos mais velhos, de que os jovens seriam moralmente inferiores", por baixarem músicas da internet sem respeitar direitos autorais.

Tais batalhas morais travadas em nome de direitos autorais não convenceram Shirky. Ele recorda que os advogados de acusação durante o processo contra Shawn Fanning, criador do Napster, tentavam mostrar, em 1999, que a ferramenta simbolizaria a corrupção moral dos jovens que escarneciam da propriedade intelectual. Outro mito difundido pela mídia em geral era de que a Geração X seria mais indolente do que as anteriores, o que foi desmentido pela vocação empreendedora de muitos dos que trabalham com internet. Para Shirky, o compartilhamento de música não é "uma calamidade social fruto de malandragem nem a aurora de uma nova era da bondade humana". Ele prefere destacar a mobilização dos internautas em torno de causas políticas, ambientalistas ou filantrópicas. Só o Facebook tem 350 mil grupos que arrecadam milhões de dólares em contribuições financeiras.

A participação de incontáveis anônimos nessas redes de benemerência jamais alcançou proporções como as atuais. A razão, acredita Shirky, é simples: antes, não havia a oportunidade de integração oferecida pela internet. O desejo de auxiliar os menos afortunados estaria latente, porque, conforme demonstrariam alguma pesquisas científicas consultadas pelo escritor, a maioria das pessoas sente prazer inato em auxiliar os menos afortunados. Para Shirky, o comportamento e a motivação humana mudam pouco, mas são acionados quando as oportunidades surgem.

Aos que se preocupam com o sedentarismo em frente ao computador, Shirky recorda que os americanos passam em torno de um trilhão de horas por ano diante da televisão - e sem qualquer interação social. Afirmando que o ato criativo mais estúpido ainda é um ato criativo, ele destaca que, pela primeira vez em 60 anos de domínio da televisão, uma geração de jovens dá preferência a outro tipo de atividade em seu tempo livre. Melhor do que manter-se passivo em frente à televisão, acredita.

http://www.valor.com.br/arquivo/885481/novas-historias-com-novos-protagonistas

Valor Econômico - Sociedade

O feminismo, hoje
Sociedade: Até hoje, os avanços nos direitos das mulheres ainda não se traduziram em melhor divisão das tarefas domésticas.

A dupla jornada e o feminismo
Olga de Mello | Para o Valor, do Rio
10/06/2011
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Andreas Rentz/Getty Images
Catherine Hakim, da London School of Economics: "Britânicas procuram se casar com homens que lhes garantam segurança financeira"



Já vai longe a época em que queimar sutiãs em praça pública simbolizava a luta pela igualdade dos sexos. Enquanto os sutiãs alcançaram novo status, tornando-se peças de vestuário a serem exibidas, os discursos das feministas parecem ter perdido a veemência. Na maioria dos países, o avanço feminino nos campos profissionais não foi acompanhado por estruturas que facilitem a dedicação ao trabalho, já que as tarefas domésticas e os cuidados com a família continuam recaindo sobre as mulheres. Terceirizar os serviços domésticos pela contratação de faxineiras e babás, até há pouco tempo saída acessível para as classes médias no Brasil, vem se tornando mais dispendioso. Mas nem todas as brasileiras pensariam em retomar a função de dona de casa em horário integral, opção que agrada às britânicas, mesmo as com carreiras bem-sucedidas, segundo pesquisa da antropóloga Catherine Hakim, da London School of Economics.

As conclusões de Catherine causaram polêmica e dificilmente encontrariam eco no Brasil. A tese que motivou maiores críticas foi a de que muitas britânicas procuram se casar com homens que lhes garantam segurança financeira, permitindo que optem por permanecer no lar. O comportamento da brasileira se assemelha ao das que vivem nos países desenvolvidos, adiando tanto o casamento quanto a maternidade e reduzindo o número de filhos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) confirmou a tendência de crescimento no número de mulheres chefes de família no país em todas as categorias sociais. Apesar da nova postura, a dupla jornada de trabalho é assumida pela maioria das 38,4 milhões de mulheres no Brasil, que tem 40 milhões de donas de casa em tempo integral, número que seria inferior se houvesse mais creches no país, acredita a economista Hildete Pereira de Melo, editora da revista "Gênero", da UFF.

"A mulher pobre sempre trabalhou muito, apesar da carência de creches histórica no Brasil. Hoje, seriam necessárias creches para 2 milhões de crianças, que acabam ficando com as vizinhas, com as avós ou sob a supervisão de irmãos mais velhos. Esse tipo de arranjo não existe no norte da Europa, onde as famílias não têm os mesmos hábitos que as nossas", diz Hildete, que viveu na Inglaterra. Outro sinal dos tempos é o papel das avós nos cuidados com os netos. Mesmo com o adiamento da maternidade, nem sempre ele coincidirá com a aposentadoria da avó, que também tem uma carreira, sejam as mulheres de classe média ou as mais humildes.

Aparentemente, a luta das mulheres brasileiras começa no front doméstico, onde são encarregadas de afazeres que esporadicamente são assumidos pelos homens - principalmente depois que se aposentam. "A dupla jornada de trabalho é uma resposta à falta de políticas públicas de apoio à maternidade, que já não é o único foco de realização das mulheres", observa Bila Sorj, do Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero da UFRJ. "Há quem idealize ficar em casa, mas isso está ligado à qualidade da ocupação. São pessoas que trabalham exclusivamente para sobreviver e que encaram a aposentadoria como um prêmio."

O estresse dentro do lar deve aumentar, já que a tendência é de redução da oferta dos serviços hoje desempenhados pelas empregadas domésticas, ocupação de 6,2 milhões de brasileiras, que volta a ser a principal atividade profissional feminina desde a crise de 2008. No ano anterior, haviam sido superadas em número pelas comerciárias, mas a atividade cresceu depois das demissões na indústria e no comércio. "A remuneração do serviço doméstico foi a que teve maior crescimento nos últimos cinco anos, o que torna sua contratação inviável para muitas famílias", diz Hildete.

Desvalorizado, embora essencial, o serviço doméstico é trocado por atividades mais sofisticadas nos períodos de crescimento econômico. "As meninas pobres, que geralmente frequentam as escolas por mais tempo do que os meninos, buscam colocações melhores no comércio ou na indústria. A empregada doméstica que dorme no serviço e cuida das crianças, misturando as relações pessoais com as de trabalho, e que amortece a briga em torno das tarefas em casa, tende a desaparecer", diz a demógrafa Moema Guedes, que aponta um novo momento da luta pelos direitos das mulheres - o da conquista dos postos de chefia no trabalho.

As uniões "por interesse" que causam espanto para os ocidentais são bem mais recentes do que nos recordamos, diz a antropóloga Míriam Grossi, coordenadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades da Universidade Federal de Santa Catarina. "As pessoas se horrorizam, mas o casamento é um projeto social e sempre atende a interesses." Para ela, quando uma mulher abre mão da carreira por conta da função do marido, está investindo no projeto de carreira desenvolvido em parceria.

Valor Econômico - Livros

Biografia: Marc Rich sempre teve muito que contar, e não apenas sobre petróleo.
Revelações de um corretor de negócios muito amigo de governos
Olga de Mello | Para o Valor, do Rio
16/08/2011
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"Rei do Petróleo - A Vida Secreta de Marc Rich"
Daniel Ammann. Novo Século. 326 págs., R$ 39,90
Personagem-chave na criação do mercado spot de petróleo, Marc Rich era reverenciado, desde os anos 1970, como um dos mais bem-sucedidos corretores de commodities. Até que, em 1983, foi acusado, nos Estados Unidos, de sonegação fiscal e de fazer negócios com um país inimigo, o Irã (entre outros). Rich fugiu para a Suiça, de onde nunca mais voltou, apesar de tentativas do governo americano para extraditá-lo, e mesmo de sequestrá-lo. O livro de Daniel Ammann, jornalista suiço, é o resultado de mais de 30 horas de conversas com Rich, que lhe falou sobre sua vida e seus negócios com petróleo, nos quais esteve envolvido até os anos 1990. Ammann também ouviu colaboradores, amigos, parentes e funcionários do governo americano.
Estruturada como uma grande reportagem, a biografia não chega, no entanto, a apresentar uma versão definitiva sobre as acusações feitas a Rich. Nem era esta a intenção de Ammann, que afirma, no livro, pretender levantar "um questionamento acerca dos inúmeros erros cometidos de ambos os lados". Entre as fontes consultadas por Ammann estão, além do próprio Rich, Morris "Sandy" Weiberg, ex-assistente do então promotor Rudolph Giuliani, tributaristas e advogados.
Enquanto os especialistas apontam falhas no processo movido por Giuliani em 1982, Rich admite para o jornalista que sempre tentou "minimizar o pagamento de taxas", enviando seus lucros para a Suíça, onde os impostos são mais baixos do que nos Estados Unidos. Rich atribuiu sua crucificação pela opinião pública à perseguição, pela "elite dominante", de um judeu independente e bem-sucedido, que afirma jamais haver cruzado "a barreira da legalidade". Ammann acredita que a posição de Rich tenha sido prejudicada também pelo descuido com a própria imagem, em comparação a Giuliani, apontado como um talento no uso de recursos para autopromoção.
Entre os mais fortes argumentos levantados contra Rich estava sua insistência em não seguir as determinações de embargo do governo americano para o comércio com o Irã, Cuba e África do Sul. A habilidade no contato com os fornecedores permitia que Rich fosse bem recebido tanto pelo governo espanhol franquista quanto pelos revolucionários cubanos. Também não teve qualquer problema de consciência em negociar com os sul-africanos durante o período do apartheid. Sua empresa conseguiu firmar acordos com os aiatolás iranianos em plena crise dos reféns americanos, embora tivesse negociado petróleo diretamente com o soberano deposto, Rheza Pahlevi. Nisso ele não estava sozinho. Ammann lembra que o governo de Ronald Reagan vendia armas secretamente ao Irã para financiar a guerrilha anticomunista na Nicarágua na mesma época.
Um tipo discreto - traço comum, segundo Ammann, aos negociantes de commodities, cujo grande trunfo é a habilidade no trato com os fornecedores -, Rich era praticamente desconhecido fora de sua área profissional antes do processo movido pela Receita Federal americana, que não queria apenas que ele saldasse sua dívida, mas que fosse para a prisão. Depois de ter se radicado na Suíça, Rich, belga de nascimento, adotou as cidadanias espanhola e israelense. Jamais voltou aos Estados Unidos, apesar de haver recebido polêmico indulto presidencial no fim do governo de Bill Clinton. O indulto não limpou sua reputação, mesmo depois que ele pagou parte do que a Receita Federal reclamava como devido.
Embora negue que tenha buscado traçar um perfil simpático de Rich, Ammann não esconde o próprio encantamento com o biografado, e pincela sua admiração através dos capítulos, destacando o pioneirismo na percepção de que a globalização chegaria através do comércio de petróleo. Também enfatiza o arrojo do jovem Rich, cuja carreira tomou impulso por sua presença em áreas de conflito, como durante a revolução cubana, em 1959, ou os processos de descolonização da África, na década de 1960.
A grande capacidade de Rich para se adaptar a situações adversas, como aconteceu na crise do petróleo, em 1974, em meio à revolução iraniana, no Oriente Médio, na África do Sul e enquanto se dava a dissolução da União Soviética, se explicaria, segundo Ammann, por suas raízes judaicas e pela diáspora que sua família vivenciou. Fugindo do nazismo, Rich foi morar com os pais no Marrocos, de onde se transferiram para os Estados Unidos. Lá, ele ingressou na Phillip Brothers, uma grande corretora de commodities, de onde saiu, anos depois, para montar, com cinco sócios, sua própria empresa, em 1974.
Rich não foi um "trader" no sentido hoje geralmente dado ao termo, função de alguém que faz a intermediação de negócios, entrando e saindo rapidamente de posições. Sua empresa providenciava acordos de longo prazo entre compradores e vendedores de commodities em grande escala. As margens eram pequenas, mas o volume de negócios, de até bilhões de dólares, elevava seus ganhos a alturas consideráveis.
Não é de duvidar que o perdão concedido a ele pelo presidente Bill Clinton tenha vindo como forma de reconhecimento, nunca declarado, dos favores prestados por Rich aos serviços de inteligência americanos, com informações sobre movimentos dos governos do Irã, da União Soviética e outros países.

Valor Econômico - Livros

Setor de livros religiosos é o que mais cresceu em 2010

Por Olga de Mello, do Rio, para o Valor
23/08/2011

Antes restritos aos espaços mais discretos das grandes livrarias, os livros religiosos conquistaram o paraíso das vitrines. Grandes editoras brasileiras se renderam não somente ao tema, mas também a autores que são padres. A religião é o segmento que mais cresceu entre 2009 e 2010, a ponto de figurarem em listas à parte dos demais gêneros. A partir do surpreendente desempenho de “Ágape” (Globo Livros, R$ 19), do padre Marcelo Rossi, que desde agosto de 2010 vendeu mais de 4 milhões de exemplares, os títulos assinados por padres migraram para a lista de vendas gerais.

Em 2010, foram vendidos no país 437,9 milhões de livros, sendo 202,6 milhões didáticos e 74 milhões religiosos. No entanto, quando se compara a variação entre 2009 e 2010 em total de exemplares vendidos, os religiosos ganham (aumento de 17,3% contra 15,42% dos didáticos). A pesquisa “O Comportamento do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros e pela Câmara Brasileira do Livro, é respondida diretamente pelas editoras, que definem o gênero do que produzem.

Segundo alguns editores, a autoajuda seria a melhor classificação para esses livros, que apontam os ensinamentos de Cristo como resposta para as angústias humanas. A presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), Sônia Jardim, afirma que as segmentações são ditadas pela comercialização. “Até hoje nada se compara ao sucesso de ‘Ágape’, que fica na fronteira entre o religioso e obras gerais, onde os livros inspiracionais se encaixam. Em um país de população majoritariamente católica, em um momento em que se busca alguma explicação para as coisas da vida, a religião preenche essa demanda”, diz Jardim.

Para o mercado, o interesse pelos livros escritos por padres indica um aumento no consumo. “São pessoas que não costumavam comprar livros. Muitos vieram justamente pelas mãos do padre Marcelo. Então, eles adquirem um livro do padre e, a partir daí, outros títulos”, acredita Sônia.

Impulsionados pelas vendas de “Ágape”, os livros dos padres Reginaldo Manzotti e Juarez de Castro ganharam tiragens iniciais acima de 20 mil exemplares, o que, no mercado brasileiro, geralmente se reserva a best-sellers ou a autores consagrados. Livros de escritores brasileiros iniciantes não religiosos costumam ter tiragem inicial de 3 mil exemplares.

O precursor da onda editorial católica, o padre Fábio de Mello, depois de 60 semanas na lista e 2 milhões de cópias vendidas de “Cartas entre Amigos” (Globo Livros R$ 34,90), que assina com Gabriel Chalita, entrega o manuscrito de outro livro epistolar para a Planeta. Desta vez, totalmente ficcional, trará como protagonistas um jovem e um professor de filosofia aposentado, tratando dos dilemas existenciais em linguagem acessível, informa a diretora editorial da Planeta, Soraia Reis.

“Todos esses sacerdotes sabem aliar o profundo conhecimento acadêmico e espiritual com a experiência da abordagem humana. Eles estão buscando ajudar e atender o próximo, dentro da prática religiosa, mas de uma forma pouco impositiva e tocante”, diz Soraia.

Uma reflexão sobre passagens bíblicas, “Ágape” não apenas se tornou o livro de maior venda de um autor brasileiro em curto espaço de tempo, mas inverteu a procura por títulos religiosos no País. Até então, eram os livros espíritas que encabeçavam as listas do segmento religioso. A estabilidade financeira e a expansão da classe média também contribuíram para o sucesso dos padres-escritores.

“Percebemos uma leva de consumidores provenientes da nova classe média. O interesse por questões espirituais sempre atraiu a atenção dos leitores. Já houve momentos em que livros de temáticas espíritas despontaram em vendas. Os livros evangélicos, geralmente, são vendidos nas igrejas e nem entram nas listas dos mais vendidos, assim como a Bíblia, ainda hoje o livro mais vendido de todos os tempos”, afirma Sônia Jardim.

“Reconhecemos a tendência e fomos atrás de um autor que tivesse empatia com o público. Na semana de lançamento, os grandes clientes, as livrarias e magazines já estavam fazendo reposição de exemplares, o que nos levou a planejar uma segunda edição antes do fim do ano”, conta Pedro de Almeida, editor da Lua de Papel, que em junho lançou “As Chaves da Perseverança” (R$ 19,90), do padre Juarez de Castro, com uma tiragem inicial de 50 mil exemplares.

A visibilidade do padre Marcelo Rossi garantiu a tiragem inicial de 250 mil exemplares de seu primeiro livro. “Os padres midiáticos são referências fora do meio católico e, por isso, planejamos uma ampla distribuição de ‘Ágape’. A expectativa de venda era 1 milhão de cópias, queríamos atender à demanda imediata. Acabamos surpreendidos pela resposta do público, motivado por uma eficiente propaganda boca-a-boca”, lembra o diretor da Globo, Mauro Palermo, que, cauteloso, estima a permanência do livro nas listas de mais vendidos até o fim deste ano. “Romances demonstram sobrevida maior, mas existem casos de long-sellers em autoajuda, atravessando tendências sem sinais de saturação”, observa.

Estrelas pop

O padre Marcelo Rossi sofre com um início de tendinite por assinar muitos autógrafos em um período de dez meses. “Já escrevi mais de 230 mil dedicatórias e não apenas para católicos: 15% dos que me abordam são evangélicos e mais uns 15% se declaram espíritas. Só não recebi pedidos de judeus ou muçulmanos”, conta o padre, que não sabe se terá tempo para investir em sua carreira literária. “Provavelmente este será meu único livro, porque eu só o escrevi quando fiquei meses em casa, me recuperando de uma cirurgia”, conta Rossi.

Os quatro padres que despontaram nas listas de mais vendidos têm status de estrelas pop entre os fiéis católicos, reunindo multidões em apresentações musicais ou em celebrações religiosas. As agendas são concorridas: Marcelo Rossi, Juarez de Castro e Reginaldo Manzotti fazem programas diários em emissoras de rádio de alcance nacional e aparições semanais em televisão, além de reservarem dias para ouvirem os fieis em confissão, enquanto Fábio de Mello é um cantor de sucesso no meio religioso. Com oito livros publicados, ele não pretende levar seus leitores à conversão, mas estimulá-lo a refletir, “algo que as religiões, muitas vezes, negligenciam”. Para Juarez de Castro, os padres escritores do Brasil seguem uma trilha aberta pelos evangélicos e pelos autores de autoajuda.

“Nossos irmãos evangélicos já fazem isso há tempos, e muito bem. Também tivemos padres escritores, como o Michel Quoist, que não se limitava aos temas da Igreja. A autoajuda se serve totalmente dos ensinamentos de Cristo. ‘O Segredo’ tem 2 mil anos, e é Jesus falando. ‘O Monge e o Executivo’ é São Paulo, do começo ao fim. Paulo Coelho sempre usa o Evangelho em seus livros”, diz Juarez de Castro.

Autor de três livros, entre eles “20 Passos para a Paz Interior” (Agir, R$ 29,90), o padre Reginaldo Manzotti quer atingir o “católico turista”, que se afastou da fé por sentir dificuldade até em ler a Bíblia. “Não se trata de uma cruzada santa contra o avanço evangélico. Estamos usando a era digital em prol da verdade, para levar a palavra de Deus a quem não tem conhecimento eclesiástico, aos que não fizeram faculdade”, diz Manzotti..